Recentemente, a reportagem informou que o código disciplinar da Wada prevê que, a partir de 2021, atletas não serão mais suspensos por doping em caso de drogas de uso social, como maconha e cocaína. Você concorda com essa decisão?
Peço desculpas, mas eu não falo sobre isso. Hoje eu represento uma instituição e até ter algo em nossas reuniões eu não tenho como falar porque não sei a posição de nada. Hoje não sou o Giba, eu represento a Federação Internacional de Voleibol. Então, não posso falar até ter algo concreto da minha instituição.
Neste mês você participou de uma reunião da FIVB na Suíça. Por lá, discutiram o código da Wada?
A minha reunião na verdade era única e exclusivamente voltada para os atletas. Eu tenho que ir lá para fazer o calendário do ano que vem e como as coisas vão acontecer. Isso não é o meu departamento. Não teve absolutamente nada. Fizemos apenas o calendário de 2020. Temos outra reunião em janeiro e talvez lá vamos ter algum conhecimento a respeito de todo esse processo.
Anos depois do seu exame antidoping testar positivo para maconha, a sua visão sobre o assunto mudou?
Foi o que eu falei desde a coletiva de imprensa em 2003. Eu levantei a mão e disse: "Eu errei". Eu sei que eu sou uma figura pública, sou um espelho para muita gente. Foi depois disso que eu vi realmente o que era o Giba para as pessoas e sabia que não poderia errar novamente. Eu falo abertamente. Foi um divisor de águas, onde eu soube quem eu era e o que eu representava para uma nação. Antes disso, eu não tinha essa visão porque ainda era muito moleque, não só no esporte, mas na vida. Depois, entendi e vim crescendo ao longo do tempo para entender. E isso eu sempre falei. Agora em questão esportiva é outra coisa que vai ser discutida no começo do ano que vem e eu também pretendo falar disso depois. Até agora, não foi discutido nada, então eu não tenho nada para dizer.
Como está o seu trabalho na FIVB?
Eu continuo falando com os atletas, vendo o que é melhor e o que não é. Sou uma ponte entre a Federação Internacional, que sempre foi vista como uma instituição que os atletas não tinham condições de chegar. Hoje eles têm uma voz comigo e com a comissão inteira.
Como avalia o trabalho do Renan Dal Zotto na seleção brasileira masculina?
O Renan foi o meu técnico em 1996. Posso dizer que os resultados estão aí. Acho que a minha geração acostumou muito mal o Brasil em só ganhar. Então, segundo lugar para o brasileiro não tem muito valor, mas deveria ter. Eu continuo achando que o trabalho dele está maravilhoso. Os atletas que estão lá, a maioria deles, eu tive a oportunidade de jogar e de passar a experiência que eu ganhei ao longo de todos esses anos e tenho certeza que são pessoas de bom caráter e que lutam pela bandeira do Brasil.
O que espera do Brasil nos Jogos Olímpicos de 2020?
Espero estar na final de novo. Se vai ser campeão de novo é outra coisa. Mas espero que eles estejam na final.
Você está morando na Polônia. Por qual motivo mudou de país?
Eu tenho o projeto do "Gibinha" no Brasil e fui convidado por uma empresa polonesa para vir trabalhar aqui. Estou aqui desde junho do ano passado. Aceitei o desafio. Hoje a empresa infelizmente resolveu mudar para o handebol, mas os projetos que eu fiz e as escolas que eu visitei continuam me convidando para voltar, então eu estou bem tranquilo com isso. A sementinha foi plantada.
O projeto social na Polônia rendeu frutos?
Diante de todos os trabalhos de caridade que eu fiz, acabei recebendo um prêmio no último dia 16 de dezembro com o presidente do país, o primeiro-ministro e a com a primeira-dama na categoria "caridade". Para se ter uma ideia, eu fiquei na frente do Robert Lewandowski, que é o Neymar da Polônia. Realmente todo esse trabalho que eu fiz durante os últimos oito meses visitando escolas foi bem bacana.
Qual é a diferença entre viver no Brasil e na Polônia?
Tem uma diferença muito grande principalmente em casos como assédio sexual, abuso de crianças e tudo relacionado a drogas. Tudo isso é muito mais pesado aqui. Até porque o projeto funciona em locais de risco. Na Polônia, a escola vai das oito da manhã até às quatro da tarde e no período em que as crianças ficariam na rua elas estão praticando esporte. Aqui o esporte é levado muito a sério as escolas públicas parecem as particulares no Brasil. As pessoas conseguem ver a Polônia como um local para visitar, mas deveriam começar a olhar com outros olhos. É um país muito desenvolvido e que está em crescimento e que ainda possui muitas oportunidades.
Como é a sua rotina?
Eu faço visitas nas escolas e falo com as crianças. O mais importante é o seguinte: é caridade. Não é uma coisa que eu tenho lucro financeiro. É como o "Gibinha" no Brasil. Aqui, eu trabalho para divulgar o voleibol e o meu negócio principal é como presidente da comissão dos atletas mundiais na Federação Internacional de Vôlei. Faço muito mais home office porque tem os relatórios de quando eu falo com os jogadores e pelo menos duas vezes por semana essas visitações nas escolas para manter o projeto vivo e mostrar que realmente o esporte pode tirar as crianças da rua, das drogas e da rotina de violência nas grandes cidades.
E as relações familiares?
Está tudo ótimo. Eu continuo vendo os meus filhos regularmente. Eles estão morando na Romênia. Fica até mais perto para vê-los.
Pensa em voltar para o Brasil?
Eu não sei. Hoje eu acho que não voltaria. Não tenho nenhuma proposta de trabalho no Brasil. Na Europa eu estou com uma oferta e uma demanda de visitação em federações. Através da Federação Internacional eu fui para a Eslovênia, Marrocos... Eu sou meio que um embaixador também deles, então aqui está tudo mais perto. Do Brasil você faz um voo e demora por exemplo 12 horas. Por isso eu também escolhi a Polônia, é um país central.