O presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, afirmou que os jogadores da Seleção Argentina cometeram “uma série de descumprimentos” desde o desembarque no Brasil até a interrupção da partida deste domingo, em São Paulo, pelas Eliminatórias Sul-Americanas para a Copa do Mundo de 2022. Giovani Lo Celso, Cristian Romero, Emiliano Buendía e Emiliano Martínez prestaram informações falsas no formulário de acesso de estrangeiros no país.
Segundo a Anvisa, os atletas não poderiam entrar no Brasil pelo fato de terem passado pela Inglaterra nas últimas duas semanas. O certo seria que o grupo realizasse uma quarentena de 14 dias antes de desembarcar em território nacional, conforme previsto na Portaria Interministerial nº.655/2021. A medida também vale para estrangeiros oriundos da África do Sul, da Irlanda do Norte e da Índia.
“O que acontece? Esses jogadores, ao chegarem em território nacional, apresentaram um documento, que é a declaração de saúde do viajante. Nesse documento estava consignado que eles não passaram por três países, que são Reino Unido, África do Sul e Índia. Esses três países estão restritos através de portaria ministerial assinada por três ministros - da Saúde, da Justiça e da Casa Civil. O que acontece é que logo depois se constata pelos passaportes que esses jogadores passaram pelo Reino Unido”, afirmou Barra Torres, em entrevista à TV Globo.
O presidente da Anvisa explicou que a orientação aos atletas era para o cumprimento de distanciamento social no hotel onde a Seleção Argentina ficou concentrada em São Paulo. Contudo, o quarteto se dirigiu junto com a delegação rumo à Neo Química Arena. Três deles foram titulares - o goleiro Martínez, o zagueiro Romero e o meia Lo Celso.
“Chegamos a esse ponto porque tudo aquilo que a Anvisa orientou desde o primeiro momento não foi cumprido. Por exemplo, quando a situação foi identificada, esses jogadores tiveram a orientação de permanecer isolados para aguardar a deportação. Esse isolamento poderia ser feito inclusive no hotel, onde eles deveriam estar. O que ocorre? Isso não foi cumprido, eles se deslocam ao estádio. E chegando ao estádio, eles entram em campo. Houve uma série de descumprimentos”.
Torres garantiu que a Associação do Futebol Argentino (AFA) foi avisada com antecedência de que os quatro jogadores não poderiam participar da partida. Pela manhã, o canal TyC Sports, da Argentina, fez imagens de agentes da Polícia Federal em frente à concentração. Representantes da Anvisa também foram ao encontro da delegação albiceleste, que, por sua vez, ignorou as ordens alegando um acordo prévio com a CBF e a Conmebol.
“Demos ciência à Polícia Federal logo de manhã a respeito de que essa situação se encontrava em andamento e seria necessário verificar o cumprimento do regulamento sanitário de manter em isolamento, já que o anterior - de falar a verdade na declaração de saúde do viajante - foi descumprido. Então nós acionamos a Polícia Federal, que se deslocou ao hotel acompanhada de agentes da Anvisa, e constatou que a equipe completa já tinha se deslocado para o estádio. Fomos para o estádio, o resto vocês transmitiram ao vivo”.
O chefe da Anvisa assegurou que não houve nenhuma orientação superior do governo federal quanto ao afrouxamento da Portaria Interministerial e se mostrou surpreso com o desrespeito por parte dos argentinos. “Estamos lidando com pessoas cultas e que entendem o que é descumprir o regulamento sanitário de um país”. Barra Torres ressaltou ainda que tanto a Anvisa quanto a ANS - Agência Nacional de Saúde Suplementar - são autoridades máximas sanitárias e de saúde no Brasil.
Pivôs da interrupção de Brasil x Argentina, Lo Celso, Romero, Buendía e Emiliano Martínez defendem clubes do futebol inglês - os dois primeiros jogam no Tottenham e os dois últimos no Aston Villa. A própria Seleção Brasileira não pôde contar com nove nomes da Premier League: Alisson, Fabinho e Roberto Firmino (Liverpool); Ederson e Gabriel Jesus (Manchester City); Thiago Silva (Chelsea), Fred (Manchester United), Raphinha (Leeds United) e Richarlison (Everton).
Por volta das 17h deste domingo, a Conmebol anunciou a suspensão de Brasil x Argentina. O árbitro venezuelano Jesus Valenzuela interrompeu o jogo aos 4 minutos do primeiro tempo. Em comunicado nas redes sociais, a entidade sul-americana explicou que as decisões referentes ao duelo ficarão a cargo da Fifa, organizadora do torneio classificatório para o Mundial. A Seleção Brasileira lidera as Eliminatórias, com 21 pontos, seguida pelos argentinos, que somam 15.