MMA
None

UFC

Evento com regras próprias

Por ser uma liga particular, UFC tem normas sobre doping que nem sempre correspondem às da Wada, a agência mundial. Entidade tenta apertar o cerco

postado em 05/02/2015 10:10 / atualizado em 05/02/2015 11:07

 Steve Marcus/aAFP

O doping do lutador brasileiro Anderson Silva, que testou positivo para o uso de esteroides anabolizantes, coloca em xeque mais uma vez a credibilidade da principal e mais rentável liga de artes marciais mistas do mundo. Por ser uma organização controlada por uma companhia de eventos privada – a Zuffa LLC, que tem Dana White como presidente e um dos quatro sócios –, o UFC tem suas regras próprias sobre dopagem e não é signatário dos códigos da Agência Mundial Antidoping (Wada), nem da Agência Antidoping dos Estados Unidos (Usada), que fiscaliza os esportes olímpicos e paralímpicos.

No entanto, nos últimos anos, a organização tem demonstrado preocupação sobre o assunto, a fim de tonar o esporte mais limpo. Em fevereiro do ano passado, o UFC endossou a decisão da Comissão Atlética de Nevada de banir a Terapia de Reposição de Testosterona (TRT), que era usada por atletas como Vitor Belfort, Chael Sonnen e Frank Mir, que alegavam ter níveis produção abaixo do normal pelo organismo. Até então, o TRT era aceito desde que fosse por prescrição médica e o nível de testosterona exógeno não ultrapassasse 1/4 do produzido naturalmente (endógeno). Sonnen, por exemplo, estourou esse limite e foi punido por seis meses após perder a primeira luta para Anderson Silva.

“O UFC está tentando evoluir neste sentido, começou a ter exame surpresa. Creio que é interesse deles se tornar esporte limpo e, para isso, tem caminho longo. É um esporte de luta e como não tem fiscalização externa, e sim da própria liga, é mais difícil saber sobre como é feito o controle”, explica o advogado Thomaz Mattos de Paiva, especialista em doping no esporte, que defendeu vários casos de atletas na Corte Arbitral do Esporte (CAS).


EXAMES O brasileiro foi flagrado no exame antidoping após metabólitos de drostanolona e androsterona serem encontrados em seu exame de sangue, realizado pela Comissão Atlética de Nevada em 9 de janeiro, 22 dias antes de vencer Nick Diaz, no UFC 183, no sábado passado (madrugada de domingo no Brasil). O americano caiu no teste por apresentar metabólitos de maconha, em exame feito depois do combate.

A drostanolona, encontrada no organismo de Anderson Silva, é um anabolizante muito utilizado para definir músculos, pois potencializa o ganho de massa muscular, a queima de gordura e evita a retenção de líquidos. É uma droga sintética, não produzida pelo corpo, utilizada por via injetável. A androsterona também é um hormônio esteróide, que pode ser obtido de forma exógena ou endógena (produzida pelo fígado).

Para Thomaz Mattos, o fato de não ser vinculado à Wada, dificulta a análise sobre o doping de Anderson Silva antes que o UFC se pronuncie. “É preciso saber como o laboratório fez os exames, se fez o procedimentos corretos. Não ter acesso a essas informações, deixa o caso nebuloso. Em tese, ele infringiu a regra antidoping, mas é preciso aguardar outros resultados para se falar em punição.”

Triste rotina: os principais casos de doping no MMA

2006 e 2014
» Vitor Belfort

Foi flagrado duas vezes: em 2006, ainda pelo Pride, alegou ter consumido suplemento sem saber da presença de um esteróide anabolizante (hidroxitestosterona). Foi suspenso por nove meses. Em fevereiro do ano passado, foi pego em exame de surpresa por fazer uso de reposição de testosterona (TRT) e não pode lutar pelo cinturão.

2008 e 2013
» Pezão

Também foi flagrado duas vezes: em 2008, alegou não saber da presença do esteróide boldelona em um suplemento que usava. Em 2013, foi suspenso por nove meses por fazer uso de reposição de testosterona (TRT), banido meses antes pelo UFC.


2011 e 2014
» Chael Sonnen

Sonnen tem uma lista extensa. Em 2011, foi suspenso por seis meses pelo uso de testosterona. Encerrou a carreira no ano passado após testar positivo em exame- surpresa para anastazol. Mesmo aposentado, foi suspenso por dois anos.

2011
» Cris Cyborg

A lutadora paranaense foi suspensa por um ano pelo uso do esteroide estanozolol, depois de uma luta válida pelo Strikeforce, em 2011.

2012
» Alistair Overeem

Em 2012, o peso pesado holandês apresentou taxa de testosterona 14 vezes acima do normal em exame surpresa. Ele foi suspenso do UFC por nove meses.

2012
» Rousimar Toquinho

O mineiro também apresentou taxas de testosterona muito acima do aceitável, em dezembro de 2012. Foi suspenso por nove meses.

2014
» Jon Jones

O campeão dos meio-pesados testou positivo para cocaína em exame em dezembro do ano passado, mas não foi punido, já que a substância não é proibida fora de período de competição.