Desde os Jogos Olímpicos de Tóquio, no ano passado (quando se estabeleceu entre os melhores do mundo, disputando as finais no salto e no individual geral), ele vem colhendo resultados expressivos, numa ascensão não só sonhada como planejada.
Em junho deste ano, Caio fez história na etapa de Osijek da Copa do Mundo de Ginástica Artística. Deixou a Croácia com quatro medalhas - prata nas argolas e no salto, bronze no cavalo com alças (resultado que surpreendeu inclusive a ele mesmo, já que o aparelho não é uma de suas especialidades) e na barra fixa.
Foi a primeira vez na história que um brasileiro subiu tantas vezes ao pódio numa mesma etapa de Copa do Mundo. Caio também se tornou o primeiro brasileiro a conquistar medalhas em todos os aparelhos em Copa do Mundo.
Foi a primeira vez na história que um brasileiro subiu tantas vezes ao pódio numa mesma etapa de Copa do Mundo. Caio também se tornou o primeiro brasileiro a conquistar medalhas em todos os aparelhos em Copa do Mundo.
No Pan-Americano de Ginástica Artística, no Rio, em julho, mais uma leva de conquistas: ouro no individual geral, no salto e por equipes; prata na barra fixa e nas argolas e bronze nas paralelas.
O calendário de Caio neste segundo semestre está tomado. No fim de semana, teve Campeonato Mineiro de Ginástica Artística. Agora, parte para Brasileiro e Sul-Americano, mas é em outubro que estará diante do maior desafio no ano: o Campeonato Mundial, em Liverpool.
Será mais um passo rumo aos Jogos de Paris, em 2024. Como ele destaca, todos os degraus são importantes. Nesta entrevista ao Superesportes, Caio Souza conta um pouco de sua trajetória, os sentimentos em relação às duas Olimpíadas que acompanhou in loco (na do Rio'2016 como espectador) e o que vem por aí.
Como você começou na ginástica artística?
Foi por incentivo da minha mãe. Ela tinha na cabeça que os filhos iam fazer algum esporte. Nunca pensou em medalha, Seleção Brasileira, mas sim em tudo o que o esporte ensina, a partir de disciplina, foco, determinação... Fui para o caratê, com 3 anos, seguindo os passos do meu irmão, mas o professor falou que seria difícil para mudar de faixa porque eu era muito pequeno na época - continuo sendo (risos) -, não teria com quem lutar, e isso acabaria frustrando a criança. Sempre fui arteiro, de me pendurar em árvore, e uma vez, passando em uma academia de ginástica em Volta Redonda, quando entramos, soltei a mão da minha mãe, comecei a pular no trampolim e minha carreira começou ali.
Como foi a vinda para o Minas?
Eu não conhecia o Minas, não conhecia BH. Quando começaram as tratativas, em 2020, a escolha foi baseada na infraestrutura que o Minas oferece aos atletas. Muita gente acha que o esporte é só o que a gente faz no ginásio. Mas tem também a parte psicológica, fisioterápica, médica, de alimentação... E o Minas oferece uma estrutura magnífica. No final de 2020, que fui ver o que era o Minas Tênis Clube, e fiquei maravilhado. A oportunidade de poder voltar a treinar com uma equipe... Eu tinha mais dois dias para resolver, mas na hora vi que era a escolha certa e quis assinar logo o contrato.
São dois ciclos olímpicos bem diferentes. Um mais estendido, de cinco anos, devido à pandemia de COVID-19, e agora de três anos, até Paris'2024. O que muda?
A Olimpíada do Japão foi atípica. O que duraria quatro anos durou cinco. Para muitos atletas foi muito ruim, porque estavam no auge da carreira em 2020 e perderam um ano. No meu caso, foi o contrário. Ganhei um ano a mais de treino, de experiência, apesar de não ter tido competições. E faz muita diferença não competir antes de um campeonato importante. Alguns elementos novos que você quer colocar é bom testar antes. Os Jogos Olímpicos trazem um peso natural e, quando você vê que está tudo certo, vai mais tranquilo. Já com relação aos três anos do Japão até Paris não muda muito. Tem menos tempo, mas o treino continua o mesmo. Meu treino não começou em 2022, começou em 2000. E o que eu fazia lá trás repercute aqui.
Você sempre destaca a importância do psicológico na preparação de vocês. E esse lado da saúde mental ganhou visibilidade maior com o caso da Simone Biles, que se afastou da disputa em Tóquio. Como você trabalha isso e como os atletas da ginástica viveram o que ocorreu com a Biles?
Eu sou só a ponta do iceberg, atrás de mim há uma multidão: técnicos, fisioterapeuta, psicólogo, médicos, nutricionista, família, amigos. E a psicologia me ensinou muito. Prezo demais. No caso da Simone, ela era o nome dos Jogos de Tóquio, não só da ginástica. Era a atleta que tinha chance de ganhar medalha em todos os aparelhos. A estrela, o fenômeno. Por que aconteceu aquilo? Mostrou que o atleta não é uma máquina, é um ser humano. Fiquei triste por ela não competir, mas a minha preparação havia sido bem forte e eu estava lá para fazer o meu. Não estava no nosso controle, a gente precisava superar aquilo para competir.
Como você se prepara para os momentos decisivos de competição, como na final olímpica?
A gente não treina só a parte física. E uma delas é justamente para estar preparado para tudo, seja em um campeonato no Minas ou os Jogos Olímpicos. Muitas pessoas me perguntaram como eu estava na final olímpica e eu digo que estava muito tranquilo. Sabia o que precisava fazer. Óbvio que existe a questão da pressão, mas a parte mental foi muito bem trabalhada.
O que fica da sua participação nos Jogos de Tóquio?
Primeiramente, foi a realização de um sonho, ser um atleta olímpico. E outra realização do sonho de ser um finalista olímpico. O engraçado é que, como espectador você consegue apreciar a competição, mas durante a competição eu não lembro muito o que aconteceu. Meu psicólogo fala que eu estava em um estado de flow, deixando fluir. Na final do salto, não lembro do meu primeiro salto. O segundo eu lembro porque entrei errado. Aquilo ficou gravado. Sabia o que ia acontecer e não tinha o que fazer (ele acabou caindo). Mesmo assim foi uma realização. Cheguei bem preparado, competitivo. Na final do individual geral, machuquei o pé, foi desesperador, achei que não conseguiria competir mais porque sentia muita dor. Mas não errei (na final do salto) por causa do meu pé. O primeiro salto foi para garantir e no segundo foi o tudo ou nada. Ou cravava ou não tinha nem chance. Infelizmente, antes da chegada, bati errado no trampolim. Errei. Mas não ficou frustração. Fui o oitavo do mundo no salto. O 17º no individual geral.
O que você espera do Mundial de Liverpool, em outubro? E nos Jogos de Paris'2024?
Sou um atleta bem competitivo mundialmente em todos os aparelhos, tirando o cavalo. Em alguns aparelhos sou muito forte. Mas em Liverpool espero fazer o meu. Não adianta pensar que vou ser campeão. Primeiro preciso passar pela classificatória e ir para a final. Quando for para as finais, aí posso fazer projeções, avaliando minhas classificações. Os esportes individuais são ingratos porque a gente treina a vida inteira por uma chance. Um deslize, um flash na plateia na hora errada, a paralela estar escorregando... É aquilo ali que define sua competição. Para Paris, o trabalho, a disciplina não mudam. Temos de pensar em melhorar a cada dia. O treinamento vai ser mais forte. Temos competições importantes até lá, o Estadual, o Nacional, uma etapa de Copa do Mundo, Jogos Sul-Americanos, Mundial... Muita coisa no meio do caminho. É um dia de cada vez.
Como está a vida em BH? O que você já conhece?
Sou muito reservado, gosto de ficar em casa, ver filme, jogar videogame. Saio pouco, sempre fui assim. Mas já fui ao Mercado Central, moro pertinho, já andei de bicicleta na Pampulha. Quando cheguei, estava tudo fechado (por causa da pandemia), então não deu para conhecer muito, até porque também viajo muito, em preparação ou em competição. Por isso, ainda estou conhecendo até a minha casa.
A entrevista completa da equipe do Superesportes com o ginasta Caio Souza você confere abaixo
A entrevista completa da equipe do Superesportes com o ginasta Caio Souza você confere abaixo