A estreia emblemática do skate nos Jogos Olímpicos de Tóquio – com as medalhas de prata de Kelvin Hoefler, 27 anos; Rayssa Leal, 13; e Pedro Barros, 26; para o Brasil – está dando mais visibilidade à modalidade no país. Em Belo Horizonte, é possível até fazer aulas gratuitas do esporte. O Mineirão, em parceria com a Academia do Skate, está oferecendo em sua Esplanada, até outubro, orientação a quem quer conhecer um pouco mais sobre a prática.
Desde 2 de julho, a Esplanada do Mineirão abriga uma uma mini-ramp itinerante, montada entre os portões B e C, para promover o primeiro contato com o skate. Além da pista, o espaço conta com equipamento completo e orientação profissional de forma gratuita. O projeto é viabilizado pela lei de incentivo ao esporte.
As aulas de iniciação são abertas para pessoas de todas as idades, de quarta a sexta-feira das 17h às 22h; sábado e domingo das 8h30 às 14h30 e das 16h às 21h. Cada aula tem duração de 20 minutos.
O skate street, que surgiu entre o final da década de 1970 e início de 1980, nos Estados Unidos, é praticado em obstáculos inspirados na arquitetura das cidades, como escadas, bancos, muretas, corrimões, rampas e guias de calçadas.
Para participar das aulas, os interessados podem se inscrever no próprio local ou levar preenchida a ficha de inscrição que está disponível no site natividade.esp.br. Menores de 18 anos precisam da autorização dos pais ou responsáveis.
Inicialmente, o projeto tem duração até 3 de outubro. "Não descartamos a possibilidade de uma nova passagem do projeto no futuro ou até de estender esta etapa para o Dia das Crianças, o que seria um grande presente para a população jovem da Região Metropolitana de Belo Horizonte", disse Rafael Diniz, diretor da Natividade, associação responsável pelo projeto Academia do Skate.
Interesse no skate
A Academia do Skate foi criada há quatro anos e, nesse período, foram realizados mais de 34 atendimentos em Minas. A equipe tem notado uma crescente curiosidade das pessoas com a modalidade street.
"Em 20 dias de atendimento no Mineirão registramos a visita de mais de 1.000 pessoas e esses números só não foram maiores porque tivemos que limitar a quantidade de visitas na pista para nos adequar aos protocolos sanitários, pois não podemos esquecer que ainda vivemos uma pandemia", destaca Rafael.
O maior público do projeto é formado por adolescentes – 74% são menores de 18 anos. "Eles são o foco do projeto, mas, como lidamos com recurso público, de lei de incentivo ao esporte, não restringimos o atendimento a nenhuma faixa-etária, pois é direito do cidadão usufruir do benefício do seu imposto", afirma o diretor do projeto.
Segundo o professor de skate Silas Eduardo, que trabalha no projeto desde agosto de 2018, o esporte demanda um investimento alto para seus praticantes: "O skate infelizmente não é um esporte barato, mas bem orientado e com cuidado, um skate dura bastante tempo nas mãos de um iniciante. Os preços variam muito entre lojas, marcas e localização, mas é muito importante citar que o skate precisa ser adquirido em lojas especializadas".
Pandemia de COVID-19
No decorrer da pandemia de COVID-19 houve uma redução do número de inscrições, mas as flexibilizações do comércio refletiram em uma demanda de inscrições muito grande. "Ficamos mais de um ano com as atividades paralisadas, esperando o melhor momento para o retorno. Com o início da vacinação foi possível voltar a sonhar com a prática de esporte", diz Rafael.
A Academia do Skate faz algumas alterações para adequar aos protocolos sanitários, como a redução da quantidade de alunos por turma.
"Adotamos a medição da temperatura,adaptamos o questionário de inscrição com orientações e perguntas sobre histórico de sintomas nas últimas semanas no participante. Distanciamento dentro das dependências e na fila de espera, rodízio do equipamento de proteção com higienização constante de todos os materiais e mãos. Todos os que atuam na Academia do Skate usando, enquanto orientam alunos, máscara, protetor facial e luvas descartáveis, as quais são higienizadas ou substituídas no final de cada bateria de aula", comenta o professor Silas.
Influência olímpica
O skate se enquadrou na categoria olímpica em 2016, quando o Comitê Olímpico Internacional (COI) anunciou que o esporte estaria contemplado nos Jogos de Tóquio.
De acordo com o coordenador da Academia do Skate, Rafael Diniz, a partir do anúncio, o esporte passou ser mais respeitado: "Antes disso era sempre associado a algo negativo. Lembrando que o skate é mais do que um esporte, é uma maneira de ser e estar no mundo, uma filosofia de vida".
De acordo com o coordenador da Academia do Skate, Rafael Diniz, a partir do anúncio, o esporte passou ser mais respeitado: "Antes disso era sempre associado a algo negativo. Lembrando que o skate é mais do que um esporte, é uma maneira de ser e estar no mundo, uma filosofia de vida".
Para o professor de skate Silas Eduardo, o esporte ganhou um novo olhar para a maioria das pessoas que não o conhecia: "Este que hoje já consegue ser visto largamente como um esporte antes era visto só como uma prática recreativa e de lazer. A sensação é que a visibilidade do skate na Olimpíada provocou uma diluição do preconceito que é atribuído aos praticantes e a ideia de irreverência e marginalidade".
Outro impacto da Olimpíada, segundo Silas, foi a chance de o skate atuar como meio de inclusão e ascensão social. Ele utilizou como exemplo a medalhista olímpica Rayssa Leal. "A representante que provocou todo esse barulho no brasil era uma mulher pobre e nordestina."
A Academia observou ainda um aumento na procura do esporte pelas meninas. "Aparentemente, agora todo mundo sabe o nome da Rayssa Leal, 'a Fadinha'. O número de alunos cresceu e tem incentivado bastante as meninas", constatou o professor.
Para ele, os esportes considerados "radicais" são os de menor adesão entre as mulheres. "Com o tempo, fica mais nítido uma disparidade em habilidades e repertório, salvo proporções, já que os meninos têm a oportunidade de começar nos esportes muito mais cedo", falou Silas.
Jovens Olímpicos
Além do projeto Academia do Skate, a Associação Natividade tem o projeto Jovens Olímpicos, voltado para jovens de escola pública, em Santa Luzia.
"São seis meses de atividade até a formatura deste novo skatista com a gente, momento em que levamos a oficina para uma nova escola", afirma Rafael Diniz.
"São seis meses de atividade até a formatura deste novo skatista com a gente, momento em que levamos a oficina para uma nova escola", afirma Rafael Diniz.
O projeto também busca apresentar outras modalidades a crianças e adolescentes, no intuito de diversificar a cultura esportiva dos jovens.
"Estamos desenvolvendo um trabalho pioneiro de escola de escalada em Ouro Preto, em parceria com a Fundação Aleijadinho, e de Basquete 3x3 no Bairro Salgado Filho, em BH. Tanto a escalada quanto o basquete 3x3 são esportes olímpicos, que por falta de oportunidade e cultura entre os jovens o Brasil não teve representante nestes Jogos de Tóquio. Mas quem sabe em Paris 2024 não poderemos ter um aluno do projeto sonhando com medalha?", diz Rafael.
O projeto Jovens Olímpicos também está com vagas abertas. Para participar é preciso preencher o formulário que você encontra clicando aqui.
*Estagiária sob supervisão da subeditora Kelen Cristina