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'Meu sonho é encher um estádio com torcedores', diz dono de time de esports

Pedro Schmidt, CEO da Stars Horizon, fala sobre experiência no mercado de esportes eletrônicos (esports), segmento que chama a atenção de times de futebol

15/03/2022 07:01 / atualizado em 15/03/2022 01:08
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Pedro Schmidt, CEO e sócio-fundador do time de esports Stars Horizon
foto: Denys Lacerda/EM/D.A. Press

Pedro Schmidt, CEO e sócio-fundador do time de esports Stars Horizon



O mercado de esports movimenta centenas de milhões de dólares todos os anos e estudos indicam que essa receita deve atingir US$ 1,6 bilhão até 2024. Os números de audiência desse mercado também são expressivos. A final da edição 2021 do Campeonato Mundial de Free Fire, jogo de celular mais popular atualmente, bateu recorde entre os eventos de esports, com 5,4 milhões de espectadores simultâneos.

O Brasil não está fora dessa onda. Hoje, o país é o terceiro maior mercado mundial de esports, atrás apenas dos Estados Unidos e da China. Segundo levantamento do Esports Earnings, site especializado em dados sobre o mercado de esports, o Brasil foi o sexto país que mais faturou prêmios em campeonatos em 2021, acumulando US$ 6,9 milhões.

A final da quarta edição da Liga Brasileira de Free Fire, em 2021, registrou mais de 1 milhão de espectadores simultâneos, somando o público da internet e da televisão.

Esses números têm chamado a atenção, inclusive, de clubes de futebol, que investiram para criar seus próprios times de esports, como Santos, Flamengo, Corinthians, Cruzeiro e Vasco. De 2020 para cá, Portuguesa, Botafogo e Bahia também entraram nesse mercado.

A maior parte dos investidores, porém, são de fora dos esportes tradicionais. É o caso de Pedro Schmidt, CEO e sócio-fundador da Stars Horizon, time de esports de Belo Horizonte/MG.

"É um segmento que é uma realidade na nossa vida, todo mundo joga praticamente. O meu filho já cresce falando "pai, eu quero ser streamer, quero ser jogador de Free Fire. Hoje em dia a criança não quer ser jogadora de futebol ou algo assim", comenta.

O Estado de Minas conversou com Pedro para entender mais sobre esse mercado e o que esperar para o futuro dos esports.


A Stars Horizon


O ponto de partida da Stars Horizon foi em 2020. Em uma conversa com dois amigos que queriam montar um time amador de esports, Pedro teve a ideia de transformar esse projeto em algo profissional. Em novembro daquele ano, surgiu a primeira equipe da Stars, que disputou a Liga Série B da Gamers Club do jogo de tiro Counter Strike: Global Offensive.

O time não venceu o campeonato. Mesmo assim, os sócios dessa empreitada viram resultado positivo e investiram na ideia. Hoje, a Stars Horizon conta com equipes masculinas e femininas nos jogos Counter Strike: Global Offensive e Valorant, além de uma masculina no Free Fire. O time está de olho em outros jogos para eventuais investimentos, como League of Legends: Wild Rift e Rainbow Six: Siege.

A Stars Horizon é formada por 8 sócios. O valor investido até hoje está entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões e o  objetivo para 2021 é quase triplicar esse investimento. Parte do recurso está na qualificação dos times, com a contratação de novos jogadores. Outro investimento importante está na montagem de uma estrutura em Campinas (SP) para concentrar a parte de performance dos times. 

Pedro diz ser necessário investir em uma estrutura para os jogadores em São Paulo porque lá ocorrem muitos campeonatos presenciais. "Vamos manter em Belo Horizonte, claro, as nossas raízes. A gente gosta dessa comunicação. Quando eu comecei a pensar a Stars Horizon, eu sempre quis ser o time de esports de Minas, em representar o povo mineiro".

A relação entre esports e futebol


O primeiro campeonato de videogame da história ocorreu em 1972, na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e era baseado no jogo SpaceWar. Desde então, vários campeonatos esporádicos de jogos eletrônicos foram realizados ao redor do mundo, mas a profissionalização dos esports só ganhou força nos anos 2000.

A partir da década de 2010, a popularização do streaming possibilitou que mais espectadores tivessem acesso aos esports e isso refletiu no dinheiro movido dentro do mercado.

Segundo o site Esports Earnings, em 2000 foram 65 torneios de esports ao redor do mundo e a premiação total foi de US$ 745 mil. Em 2014, o número subiu para 3.142 competições e premiações somadas de US$ 37,6 milhões.

Com o crescimento do mercado de esports, vários clubes de futebol passaram a investir nesse setor. No Brasil, o primeiro clube que viu esse segmento com bons olhos foi o Santos, em 2015. Desde então, outros clubes como Flamengo, Corinthians, Cruzeiro e Vasco se aventuraram nesse mercado.

Em alguns clubes, a diretoria não tem participação tão ativa na divisão de esports, já que há um licenciamento da marca para uma outra empresa especializada na gestão de equipes de esportes eletrônicos.

A Stars iniciou negociações para se associar com alguns times de futebol, mas não foi pra frente. 

A participação de clubes tradicionais não é a única ligação entre o futebol e os esports. As fontes de receita de ambos esportes são parecidas e estão ligadas, principalmente, à performance e à visibilidade. Na primeira categoria, estão as premiações de campeonatos e receitas com a venda de jogadores. Na segunda estão os patrocinadores.

Segundo Pedro, "o que acontece no futebol acontece nos esports", mas em escalas diferentes. "Algumas organizações trabalham com vendas de camisa, boné, sócio-torcedor. São coisas que estão se tornando comuns dentro do segmento e que são oriundas do futebol e dos esportes tradicionais".

Contudo, Pedro acredita que o mercado de esports ainda não é visto por grandes marcas da forma que deveria. Segundo ele, os clubes de esportes tradicionais recebem muito mais investimento frente aos times de esports, que contam com estruturas mais enxutas e trazem resultados interessantes para os patrocinadores.

"É uma coisa que você precisa ter uma visão de longo prazo. Precisa fazer um investimento e enxergar 3, 4, 5 anos à frente para conseguir ver o potencial que esse mercado tem. Não é todo mundo que tem esse investimento pra fazer, mas se a pessoa tiver uma boa base e uma estratégia interessante, é um segmento que vai ser o segmento do futuro, sem dúvida nenhuma".

Futuro do mercado de esports


Os esports estão crescendo em faturamento, torcedores e audiência, mas ainda estão longe de atingir os números de esportes tradicionais. Pedro acredita que, além de ser necessário dar tempo ao tempo, algumas organizações e jogadores precisam trabalhar com mais profissionalismo.

"Acho que o mercado precisa de tempo para amadurecer. E, amadurecendo, acredito que vai ser o maior mercado de esportes do mundo e rivalizar com o futebol daqui alguns anos". 

Mesmo ainda longe desse patamar, Pedro conta com carinho situações que mostram que o mercado está no rumo certo e em expansão. "Você sair na rua e ver uma pessoa que você não conhece com a camisa do seu time, isso pra mim é algo incrível. A primeira vez que isso aconteceu comigo foi quando minha esposa estava em um carro de aplicativo e o motorista falou que conhecia e era fã da Stars Horizon", comenta. 

O sonho de Pedro é expandir essa experiência que teve para um número maior de torcedores. "O meu sonho com a Stars Horizon é encher um estádio de futebol ou algo assim com torcida. E claro, a gente tem uma caminhada para seguir até chegar nesse ponto".

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