Apenas três clubes nunca foram rebaixados em toda a história do Campeonato Brasileiro: Flamengo, Santos e São Paulo. Essa lista seleta pode ficar ainda menor em 3 de dezembro de 2023 graças ao risco real que está correndo o primeiro brasileiro campeão mundial.
É alarmante o noticiário recente do Santos. Vem comigo no exercício de memória: desde a derrota para o Corinthians há duas semanas teve o seguinte:
- bomba atirada no gramado da Vila Belmiro;
- interdição da Vila Belmiro;
- demissão de técnico;
- jogador flagrado na balada horas antes de treino no CT;
- intimidação de torcedores aos baladeiros;
- afastamento dos baladeiros;
- venda de promessa para a Europa;
- declaração do presidente pedindo por favor para jogar a Copa do Brasil ano que vem;
- afastamento do principal jogador por indisciplina;
- olé do Cuiabá;
- duas derrotas tomando três gols.
Olha que eu nem falei do titular que saiu do clube depois de se envolver num escândalo de apostas porque já é notícia antiga.
É praticamente um manual do rebaixamento, como se o Santos estivesse vendendo um curso na internet do tipo “clique aqui e veja passo a passo como ir para a Série B”. Ainda faltam alguns passos, tipo criar comitê de ex-jogadores, chamar um ídolo com fama de durão para cargo diretivo, botar só moleque para jogar, botar só veterano para jogar, procurar irregularidade jurídica em concorrente direto, esse tipo de coisa que fazem os que veem o fim da linha de perto.
Mas se em duas semanas já rolou tudo isso, imagine o que vem pela frente. Está claro que o Santos é candidato ao rebaixamento em 2023 e que as coisas precisam mudar para evitar que esse cenário se torne realidade. Olha só: o departamento de matemática da UFMG aponta 38,8% de probabilidade de rebaixamento. Só quatro times têm mais chances de acordo com o estudo. São sete jogos seguidos sem vitória no Brasileirão, 12 na temporada. É uma campanha que já beliscou G6 e agora está ladeira abaixo.
Quando o Santos vai acordar para a realidade? Pergunto isso porque não enxergo senso de urgência nas decisões internas do clube. A janela de inscrições de novos jogadores abriu nesta segunda-feira (3) e até agora não há notícia de contratação próxima ou negociação avançada. O pessoal que briga ali embaixo já se movimentou. O Corinthians com Rojas, o Coritiba com Fransérgio e Edu, o Cruzeiro com Lucas Silva, Palacios e Paulo Vitor, o Cuiabá com Clayson, o Vasco com Serginho e Maicon, o América-MG com Paulinho Boia, o Goiás com Anderson Oliveira, o Bahia com Luciano Juba. Nem discuto a qualidade desses jogadores, e sim a tese: o risco de rebaixamento precisa mobilizar mais o Santos do que acontece atualmente. Precisa mobilizar o Santos como mobiliza seus rivais direitos.
Dentro do tópico de mercado da bola ainda existe outro ponto: como acreditar que o Santos pode fazer boas contratações? O histórico da atual gestão não colabora. Foi Andrés Rueda o presidente que contratou caras como Diego Tardelli, Nathan, Auro, Willian Maranhão, Jhojan Julio, Angulo, Bruno Oliveira, Vladimir, Luan e o recente pacotão do Água Santa que não passou por avaliação técnica segundo foi noticiado na época. No pacotão, um centroavante com um gol em nove jogos, um lateral-direito que hoje é titular da esquerda e um meia que sai cedo quando é titular e entra tarde quando é reserva.
Agora vai ter o dinheiro da venda do Angelo. Daqui a pouco, como mostra o repórter do Superesportes Bruno Lima, deve ter o da negociação do Marcos Leonardo também. Milhões e milhões na mão de uma diretoria de poucos acertos e muita lentidão para negociar reforços. Essa falta de esperança é o que mais assusta na briga do Santos para não cair.
Eu tenho dó do Paulo Turra
O novo técnico do Santos é o único que diz palavras necessárias para o momento, como “urgência” e “emergência”. Mas o desafio é grande, porque a diretoria não parece entregar condições para a realização de um bom trabalho e o elenco me soa fraco e desmobilizado.
Não entra na minha cabeça que um jogador com tanto potencial para ídolo como Soteldo permita que sua história no Santos acabe com um capítulo tão triste. É difícil assim engolir o orgulho para ajudar o clube? Para mim, é símbolo de um elenco que não entende o rebaixamento como possibilidade e menos ainda como seria triste esse episódio na história do clube.
Não entra na minha cabeça a entrevista que o Joaquim deu depois da derrota para o Cuiabá. Ele disse que Paulo Turra “chegou e deixou claro que ninguém pode ser maior do que o clube”. Mas dizer algo assim não é prerrogativa do diretor de futebol, ou coordenador esportivo, segundo o organograma do Santos? Por onde anda Paulo Roberto Falcão? Qual o papel dele para contornar o problema com Soteldo? Era para ser o dono do CT, mas não é. É, sim, símbolo de uma diretoria que não entende o rebaixamento como possibilidade.
Não entra na minha cabeça a entrevista recente ao “De Olho no Peixe” em que Rueda diz que a briga do Santos no Brasileirão é por vaga na Libertadores porque “temos de olhar sempre para a frente”. Um tom irritante de tranquilidade. É símbolo de um clube que não entende nada de nada.
É difícil ser melhor do que outros quatro times no Brasileirão. Todo mundo já percebeu que a missão do Santos será dura, inclusive o novo técnico. Falta o Santos perceber.