A delegação do Palmeiras estava em Guayaquil para um jogo contra o Barcelona (EQU), pela Libertadores, e Guerra pediu ajuda ao doutor após receber a ligação de sua mulher, Kris Espejo. Por telefone, Magliocca orientou Kris e a funcionária que trabalhava na casa deles a reanimar a criança enquanto o Samu estava a caminho.
Essa é uma das muitas histórias que Gustavo Magliocca acumulou durante quase dez anos no Palmeiras. Ele era coordenador do departamento médico da base e foi chamado para ajudar na reestruturação do profissional em 2015. No mês passado, o Núcleo de Saúde e Performance foi batizado com o nome do doutor, em cerimônia que contou com a presença dos familiares dele, jogadores do elenco, comissão técnica e diretoria.
O fisioterapeuta Jomar Ottoni, que trabalhou com Magliocca de 2015 a 2020, recordou quando o médico ajudou a salvar o filho de Guerra e revelou outros episódios envolvendo familiares de jogadores. Em um caso, Magliocca teve papel importante para a sogra de um atleta não ter o pé amputado.
- Esse dia em Guayaquil foi muito duro. Foi uma correria, mas o Gustavo falava com a mulher do Guerra com toda a tranquilidade do mundo. Ele comandou tudo com o profissional do Samu também, já estava tudo preparado no hospital para receber a criança. Foi uma ponte de uma maneira muito rápida e com uma tranquilidade absurda. Esse era o estilo dele - contou Jomar Ottoni, que hoje presta consultoria a clubes e atletas, ao Superesportes.
- Teve corte no queixo da filha de um, braço quebrado do filho de outro. Teve a sogra de um jogador, que não vou falar o nome, que ia amputar o pé porque tinha diabetes. Ela estava no interior do Paraná, o Gustavo intercedeu, levou para São Paulo e conseguiram reverter. Desde a mãe do funcionário de menor escalação até a mãe do presidente, ele abraçava a causa, ele nunca falava "não", sempre respondia "vamos dar um jeito" - disse o fisioterapeuta.
Magliocca trabalhou com Cesar Cielo
Além de trabalhar no Palmeiras, Gustavo Magliocca foi médico da seleção brasileira de natação entre 2008 e 2017, tendo participado de duas Olimpíadas. Com isso, ajudou na recuperação do medalhista de ouro Cesar Cielo, que havia passado por cirurgia nos dois joelhos.
Magliocca levou a experiência de outros esportes para o Palmeiras na reconstrução do departamento médico do clube, a partir de 2015. No meio deste período, o doutor também fundou a Care Club, centro de saúde que atendeu a mais de 50 atletas olímpicos de vários esportes.
- Desde a primeira conversa, me impressionava muito a maneira como o Gustavo pensava de forma integrativa a medicina no futebol. Ele era médico do esporte, que é um conceito mais moderno, porque o foco do ortopedista é mais na lesão e na recuperação, enquanto o médico do esporte tem foco na promoção da saúde, na importância de cuidar de todos os detalhes para maximizar a performance - relembrou Jomar Ottoni.
- Com essa experiência que ele tinha de Olimpíadas, trouxe muito dessa coisa de outros esportes de elite para o futebol. Passamos a conscientizar a importância dos atletas como máquinas, do cuidado deles com o corpo, dessa responsabilidade de que tudo que eles faziam poderia impactar. E teve uma aceitação fantástica dos atletas - acrescentou o fisioterapeuta.
Magliocca recebeu homenagens dos jogadores
No dia em que o médico morreu, o Palmeiras enfrentou o Barcelona (EQU) pela Libertadores. Os jogadores e o técnico Abel Ferreira utilizaram uma faixa preta no braço esquerdo, e houve um minuto de silêncio antes de a partida começar. Após a partida, em entrevista coletiva, o treinador e Raphael Veiga homenagearam o médico.
No mês passado, o Núcleo de Saúde e Performance foi batizado com o nome de Gustavo Magliocca. O lateral-direito Marcos Rocha chorou muito durante a homenagem e agradeceu ao doutor.
- É o cara que foi amigo de todo mundo, sempre tratou todo mundo bem, muito querido por todos. Sempre brinquei chamando ele de médico das estrelas, porque ele fazia tão bem para a gente que a gente se sentia importante.