Em 2016, Gabriel Jesus conseguiu confirmar a expectativa dos torcedores que vinha desde as categorias de base do Palmeiras, quando marcou 37 gols em 22 jogos em 2014 e quebrou o recorde do Campeonato Paulista Sub-17. A maior revelação do clube desde Vagner Love conquistou a vaga de titular na seleção brasileira e se tornou um dos rostos marcantes da recuperação da equipe, agora sob o comando do técnico Tite.
Aos 19 anos, o menino prodígio também está na lista de 55 candidatos ao prêmio "Rei das Américas", promovido pelo jornal uruguaio El País. Para completar o ano mágico, ele foi protagonista na conquista do inédito ouro olímpico pelo futebol brasileiro nos Jogos do Rio. Com a camisa do Palmeiras, acumula 83 jogos e 28 gols. No Campeonato Brasileiro, é um dos vice-artilheiros com 12 gols, um a menos do que Fred. A trajetória como principal atacante foi irregular.
Gabriel Jesus teve um início arrasador, quando foi um dos líderes de uma equipe consistente e que ganhava dentro e fora de casa. Deu seu cartão de visitas logo na estreia ao marcar dois sobre o Atlético Paranaense. Mas, depois de um primeiro turno cheio de gols, a fonte secou por algum tempo no returno.
Quando marcou o gol de empate diante do Atlético Mineiro no estádio Independência, em Belo Horizonte, na quinta-feira retrasada, ele encerrou jejum de oito jogos sem festejar. Chorou quando tirou o peso dos ombros. Seu último gol no Palmeiras havia sido lá atrás, em setembro, diante do rival Flamengo.
Uma das razões do jejum foi a marcação cerrada sobre ele. As grandes atuações ao longo do ano levaram os adversários a preparar esquemas especiais para anular o palmeirense. “Uma das minhas missões é recuperar o Gabriel Jesus. Por isso, estou tentando colocá-lo em posições diferentes”, disse Cuca.
O atacante de 19 anos não tem posição fixa e pode atuar tanto centralizado, no meio da área, quanto pelos lados. Titular absoluto desde o comando de Marcelo Oliveira, Gabriel Jesus encantou a torcida alviverde e ganhou a música “Glória, glória, aleluia, é Gabriel Jesus!” Em sua primeira temporada pelo Palmeiras, o atacante contabilizou 37 partidas e sete gols.
ÍDOLO DE TODOS
Gabriel Jesus encanta não apenas a torcida, mas os novos atletas. Nas peneiras que o Palmeiras realiza a cada três meses para as categorias de base, o camisa 33 é o modelo a seguir seguido. Na última quinta-feira, no teste realizado na zona sul de São Paulo, dos 30 meninos entre 16 e 19 anos, 26 citaram Jesus como referência.
Ele é tão importante para o clube que o presidente Paulo Nobre costuma acionar seu jatinho - batizado de Air Pork One - para garantir o seu retorno rápido após os jogos da seleção. Foi assim antes da partida contra o São Paulo, no estádio Allianz Parque, após jogo do Brasil em Manaus diante da Colômbia, quando foi importante na vitória por 2 a 1.
Diante do Atlético Mineiro, no repeteco da operação entre quarta e quinta-feira, ele foi ainda mais decisivo e fez o gol que abriu o caminho do empate. O time conquistou um “ponto de ouro”, na avaliação do treinador.
Em alguns momentos, no entanto, Gabriel Jesus sentiu a pressão de ser protagonista. Na última sexta-feira, o técnico disse que, para um jovem de 19 anos, o atacante tem sido muito exigido. “Ele é um menino ainda. Tem muitas coisas na cabeça. Em um ano ganhou o ouro olímpico, virou titular na seleção, foi vendido para o futebol inglês e pode ser campeão brasileiro. Não é fácil enfrentar tudo isso”, comentou, já antevendo que o jogador acabaria realizando o sonho de conquistar o título em sua despedida do clube.
Mas mesmo quando a preocupação de preservá-lo e deixá-lo tranquilo e concentrado tornou-se necessária, foi impossível fazer com que ficasse focado somente em jogar futebol. Há novos compromissos. Na semana passada, por exemplo, quando o Palmeiras estava em Atibaia (SP), ele teve de deixar o local em um helicóptero direto para Mogi das Cruzes (SP), onde participou de evento dos Jogos Escolares. O garoto já começa a conviver com os compromissos e responsabilidades de um ídolo.
Em janeiro, ele se transfere para o Manchester City, dirigido por Pep Guardiola. O clube inglês pagou 32,75 milhões de euros (R$ 117,5 milhões em valores atuais). O técnico espanhol aposta alto no garoto. “Ele é como Kelechi (Iheanacho) e Sergio (Aguero). Quando a bola está lá, é gol”, disse Guardiola.
A imprensa inglesa já o trata como o “novo Neymar”. O jornal Daily Mirror exaltou a exuberância de Jesus. “Ele incorpora o estilo brasileiro ideal de um jogador de rua, sempre procurando por soluções inesperadas e disposto a tentar coisas diferentes”. Mais sóbrio, o The Guardian demonstrou preocupação com a falta de sucesso de jovens brasileiros no Campeonato Inglês, lembrando apenas Juninho Paulista, no Middlesbrough. “Mas a qualidade de Gabriel é indiscutível”, constatou o jornal, se esquecendo dos “Samba Boys” do Liverpool, grupo formado hoje pelo Coutinho, Lucas Leiva e Firmino. No Palmeiras desde as bases, Gabriel Jesus já afirmou que será difícil se despedir.