O Campeonato Mineiro de 2023 começa longe dos campos e dentro dos tribunais. O imbróglio envolvendo Betim e Ipatinga – o clube do Vale do Aço será julgado pelo Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por suposta irregularidade na inscrição de atletas no Módulo II de 2022 – emula outra edição do Estadual. Em 1989, foi a Justiça Desportiva quem definiu a entrada de um participante e um classificado para a fase final do torneio.
Tudo começou na Segunda Divisão do Mineiro de 1988. Dentro de campo, o Flamengo de Varginha foi o campeão e o Democrata-GV ficou com a segunda posição – ambos se classificaram para a elite do futebol mineiro. O quadrangular final ainda contou com Pouso Alegre e Atlético de Três Corações.
Fora das quatro linhas, o Dragão entrou no Tribunal de Justiça Desportiva de Minas Gerais (TJD-MG) pedindo anulação do jogo contra o Atlético, em Três Corações, alegando ter sido "coagido" durante a partida, uma vez que a torcida tricordiana havia invadido o gramado e agredido o árbitro.
Apesar de ter perdido a ação na instância regional, o clube de Pouso Alegre recorreu ao STJD e ganhou. O órgão máximo da Justiça Desportiva determinou, em 1989, a disputa de um novo jogo. Na época, contudo, o Atlético de Três Corações não tinha elenco para esse duelo.
Assim, o Pouso Alegre foi declarado vencedor por W.O e se classificou para a elite mineira. O Dragão deveria assumir a vaga do Democrata-GV (já que com os três pontos computados diante do Atlético de Três Corações ficou à frente da Pantera na tabela), mas, como o Mineiro já estava em andamento, acabou contando com um integrante a mais.
Apesar de ter perdido a ação na instância regional, o clube de Pouso Alegre recorreu ao STJD e ganhou. O órgão máximo da Justiça Desportiva determinou, em 1989, a disputa de um novo jogo. Na época, contudo, o Atlético de Três Corações não tinha elenco para esse duelo.
Assim, o Pouso Alegre foi declarado vencedor por W.O e se classificou para a elite mineira. O Dragão deveria assumir a vaga do Democrata-GV (já que com os três pontos computados diante do Atlético de Três Corações ficou à frente da Pantera na tabela), mas, como o Mineiro já estava em andamento, acabou contando com um integrante a mais.
Diferentemente de 1989, desta vez o STJD pelo menos barrou as partidas do Ipatinga até a decisão final sobre o caso.
A revista Placar de 12 de maio de 1989 relata o que ocorreu naquele ano. "Em meio a muita confusão, o Campeonato Mineiro não conseguiu escapar de um velho conhecido do futebol brasileiro: o tapetão. Os classificados para o octogonal já estavam definidos quando a Justiça resolver mudar tudo. Ninguém joga mais enquanto o Pouso Alegre não for incluído na disputa", retratou a revista.
Outro problema ainda tumultuou o Estadual naquele ano, destaca a revista: "O América já avisou que também recorrerá ao tapetão. Quer tirar o Democrata-GV do páreo e garantir na Justiça a vaga no octogonal que não foi capaz de obter em campo".
América x Democrata-GV
O Coelho obteve êxito na Justiça ao alegar que não cabia ao Democrata-GV disputar a competição, uma vez que os dois classificados da Segunda Divisão eram Flamengo e Pouso Alegre. Com a decisão do STJD, o time de BH avançou para a fase final do torneio.
Em campo, o Atlético conquistou o Mineiro de 1989.
Tim Filho, pesquisador da história do Democrata-GV e autor do livro 'Democrata, a Pantera Cor-de-Raça', recorda aquele episódio: "A imprensa do interior tratou como uma grande injustiça contra o Democrata-GV, que tinha conseguido a vaga no campo. É por isso que até hoje quem torce mesmo para o Democrata-GV ainda nutre certa raiva do América".
Tim lembra que o presidente do Democrata-GV da época, Almyr Vargas, quase foi às vias de fato com o então presidente da FMF, Elmer Guilherme, e entrou na Justiça Comum contra a decisão do STJD. Resultado: o clube de Valadares foi punido pela Fifa e afastado das competições oficiais.
O curioso é que em 1991 o Democrata-GV voltou à elite do futebol mineiro e foi vice-campeão.
"Depois de muita contenda entre Elmer Guilherme e Almyr Vargas de Paula, uma decisão jurídica/administrativa colocou o Democrata novamente na Primeira Divisão em 1991. À época apareceram muitos políticos como responsáveis pelos entendimentos", lê-se no livro 'Democrata, a Pantera Cor-de-Raça', que indica que o ex-presidente da Fifa João Havelange foi um dos responsáveis por auxilar na exclusão da punição sofrida pela equipe de Governador Valadares.
"Depois de muita contenda entre Elmer Guilherme e Almyr Vargas de Paula, uma decisão jurídica/administrativa colocou o Democrata novamente na Primeira Divisão em 1991. À época apareceram muitos políticos como responsáveis pelos entendimentos", lê-se no livro 'Democrata, a Pantera Cor-de-Raça', que indica que o ex-presidente da Fifa João Havelange foi um dos responsáveis por auxilar na exclusão da punição sofrida pela equipe de Governador Valadares.
Ipatinga x Betim
O STJD decidiu na terça-feira (17) pelo início do Mineiro de 2023, mas sem os jogos do Ipatinga.
"Parece possível, razoável e adequado, permitir-se que a Federação em querendo, dê início ao Torneio, mantendo em suspenso apenas e tão somente os Jogos que envolvam o Clube IPATINGA, que deverão ser adiados e oportunamente calendarizados", afirmou em decisão monocrática o presidente do STJD, Otávio Noronha.
Na segunda (16), o TJD-MG puniu o Ipatinga somente em cunho administrativo, sem sanções esportivas.
"O entendimento que prevaleceu no julgamento, de fato, reconhece uma grave falsidade do Ipatinga em relação a uma aparente falsidade de documentos no registro de atletas. Contudo, a aferição de condição de jogo é um critério muito objetivo pelo regulamento da competição e diz respeito à publicação do atleta no BID. Com isso, o Tribunal não entendeu punir o Ipatinga com a perda de pontos por escalação irregular, mas reconhecendo as graves infrações cometidas aplicou punições ao presidente do Ipatinga e multas ao clube e ao dirigente" explicou o presidente do TJD-MG, Guilherme Doval.