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Cruzeirense adota Atlético como segundo clube em homenagem ao pai falecido

Em vídeo emocionante que viralizou nas redes, torcedor da Raposa troca camisa celeste por uma do Galo em homenagem ao falecido pai, atleticano fanático

15/08/2022 23:30 / atualizado em 16/08/2022 10:16
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Francisco Xavier (esq.) e Fábio Santana (dir.): pai atleticano e filho cruzeirense
foto: Reprodução

Francisco Xavier (esq.) e Fábio Santana (dir.): pai atleticano e filho cruzeirense


Neste domingo (14/8), uma história comovente chamou a atenção dos torcedores mineiros nas redes sociais. Em lágrimas, o gestor comercial Fábio Santana (34) aparece vestido com a camisa do Cruzeiro em uma loja do Atlético. Ao retirar a blusa celeste e vestir uma do Galo, o torcedor afirma que, em homenagem ao pai falecido, Francisco Xavier Ferreira da Silva, passará também a torcer pelo Alvinegro.
 
 

Fábio Santana contou a história ao Superesportes. "Meu pai conseguiu unir as torcidas pelo respeito. O amor de um pai e filho rompeu a rivalidade", enfatizou.

Conhecido na família como "Tio Quim" e pelos amigos como "Chicão", Francisco Xavier foi um homem de origem simples, com virtudes trabalhadoras - assim como milhões de outros brasileiros. Nas palavras do filho, o pai era exemplo de solidariedade. "Sempre foi um cara que AMAVA servir, ajudar. Odiava conflito", disse ao Superesportes.



"Tudo dele girava em torno do Galo, fé (era muito católico), serviço comunitário e tudo relacionado a ônibus e caminhões. Ele trabalhou com transporte a vida toda", acrescentou.
 
Chicão era atleticano fanático
foto: Reprodução

Chicão era atleticano fanático


Francisco Xavier faleceu aos 63 anos por um mal súbito enquanto dirigia um caminhão a caminho de Uberlândia. Na madrugada do último sábado (13/8), o motorista foi a óbito ao volante, e o veículo acabou saindo da pista.

"Meu pai teve uma história muito dura. Nasceu no interior de Minas Gerais, trabalhou no campo muito tempo e, depois que se casou, veio para BH com minha mãe, uma mala e disposição para trabalhar. Arrumou vários empregos diferentes até entrar em uma empresa de ônibus. A antiga Impala. Trabalhava durante a noite e de dia descansava. Também trabalhava na construção da nossa casa", contou Fábio ao Superesportes.

"Conseguiu o lote onde moramos a vida toda através de uma troca por uma linha telefônica que ganhou em um sorteio, em um posto de gasolina onde ele abastecia os ônibus da empresa. Em resumo, trabalhava na empresa durante a noite e, durante o dia, fazia serviço de pedreiro nesse lote. Morou apenas em um cômodo com um banheiro, com piso de terra batida. Toda a infraestrutura básica era de doação (água, energia, etc.)", completou.

Como o filho se tornou cruzeirense?


Fábio explica que, em virtude do dia a dia atarefado do pai e da proximidade com vizinhos e amigos de escola, acabou desenvolvendo afeição pelo Cruzeiro na infância humilde. A princípio, Chicão se lamentou pela escolha do filho, mas, depois, passou a assimilar melhor a situação.
 
"Quando eu era pequeno, eu não pude conviver muito, porque quando ele chegava do trabalho, eu ia para escola. E quando eu chegava, ele estava indo para o trabalho. Assim, eu acabei me tornando cruzeirense por convivência com os amigos da rua e escola", explicou Fábio.

"Ele sempre se lamentou por eu ter virado cruzeirense, mas quando comecei a ir no campo e acompanhar o Cruzeiro, foi inevitável. Não tinha como, amava demais o Cruzeiro. Com o tempo, as coisas foram melhorando", acrescentou.

O gestor comercial endossou a forte ligação que desenvolveu com o clube celeste ao longo da vida. Cruzeirense fanático, ele participou, inclusive, de ações de marketing da Raposa.

"Eu tenho muitos eventos marcantes com o Cruzeiro. Joguei no primeiro campeonato do sócio-torcedor na Toca, no time do Leandro Bochecha (campeão da Tríplice Coroa com a Raposa em 2003). Fiz um gol de pênalti. Fui no camarim do Dinho Ouro Preto pelo Cruzeiro em um jogo da Copa na Fifa Fan Fest, no Mineirão, em uma ação de marketing", relembrou.
 
Fábio participou do primeiro campeonato de sócios-torcedores promovido pelo Cruzeiro
foto: Reprodução

Fábio participou do primeiro campeonato de sócios-torcedores promovido pelo Cruzeiro

Em ação de marketing do Cruzeiro, Fábio conheceu Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial
foto: Reprodução

Em ação de marketing do Cruzeiro, Fábio conheceu Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial

 

Decisão de torcer para o Atlético


Ao Superesportes, Fábio detalhou a homenagem ao pai. Ele reforça que não deixará de torcer pelo Cruzeiro, mas que, a partir de agora, também apoiará o Galo - com exceção dos dias de clássico entre os rivais.

"Pela rivalidade que existe, sempre torcemos contra o rival para tirar sarro dos amigos, enviar memes. Por exemplo, em jogos de Libertadores, mata-mata, etc. É comum torcer contra o rival", opinou.

"Em homenagem ao meu pai, eu prometi no vídeo, a partir daquele dia, torcer pela vitória do Atlético - com exceção dos confrontos diretos contra o Cruzeiro. Ou seja, sou cruzeirense, amo o Cruzeiro, mas agora nunca mais torço contra o Atlético. Em todos os jogos em que o Galo for jogar, eu vou torcer por eles em nome de meu pai", pontuou.

Por fim, Fábio destacou que o carinho recebido de várias torcidas, diante da enorme repercussão do vídeo da homenagem, tem dado conforto à família em meio ao luto pela partida de Francisco.

"Estamos ainda nos acostumando com a ausência do coroa por aqui. Estamos recebendo muito carinho de várias torcidas. Isso está sendo muito bom, ajudando demais. Milhares e milhares de mensagens. Tenho certeza que meu pai está muito feliz com todo o carinho que está recebendo", disse Fábio.

"Que essa homenagem possa reduzir a violência nos estádios e aumentar a tolerância entre torcidas", encerrou.

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