Cruzeiro e Atlético completam cem anos de rivalidade em 17 de abril deste ano e nada melhor para comemorar a data do que mais um clássico. Raposa e Galo medirão forças neste domingo (11), às 16h, no Mineirão, pela nona rodada do Campeonato Mineiro. O Superesportes relembra, a seguir, casos curiosos, tretas, polêmicas e outros fatos marcantes do principal duelo de Minas Gerais.
Nelinho corre atrás de Éder
No Mineiro de 1981, o Atlético levantou a taça diante do Uberaba e cumpriu tabela contra o Cruzeiro pela última rodada do hexagonal. Logo no início da partida, Nelinho revidou uma falta dura de Éder e foi expulso. Inconformado, o lateral-direito cruzeirense correu atrás do atacante do rival e deu início a uma grande confusão em campo. O atleticano fugiu da briga para não se queimar com o então técnico da Seleção Brasileira, Telê Santana. Dezenas de policiais militares foram acionados para conter a briga generalizada. Ao longo da partida, os cruzeirenses Zé Henrique e Edmar ainda agrediram Toninho Cerezo e Tita, do Galo, respectivamente. O clássico repleto de confusões terminou com vitória alvinegra por 2 a 0.
Eduardo x Cris
A briga ocorreu após a final do Campeonato Mineiro de 2004. O goleiro Eduardo, do Atlético, entendeu que, na comemoração, o zagueiro Cris, do Cruzeiro, estaria provocando a torcida alvinegra. Eduardo partiu pra cima de Cris, e os dois trocaram socos. Em entrevista após o jogo, Cris disse que tinha ‘muito respeito pela torcida do Atlético’. ‘Tive que tirar ele porque ele estava sacaneando a torcida do Atlético’, afirmou Eduardo. Posteriormente, os dois fizeram as pazes em audiência na Justiça.
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Banco de reservas do lado oposto
Por entender que o Cruzeiro era beneficiado nos clássicos disputados no Mineirão por ter o banco de reservas à direita, exatamente atrás do árbitro auxiliar, o presidente do Atlético, Elias Kalil, mandou construir em 1984 um túnel do lado oposto do campo. Porém, logo após o primeiro duelo, o dirigente desistiu da ideia devido ao forte calor gerado pela incidência sol nessa parte do estádio.
Fábio 'de costas'
Na primeira partida da final do Campeonato Mineiro de 2007, o Atlético venceu o Cruzeiro por 4 a 0. Aos 46 minutos do segundo tempo, o atacante Vanderlei marcou o último gol alvinegro. Àquela altura, o goleiro cruzeirense Fábio ainda reclamava do terceiro gol do rival, feito de pênalti pelo meia-atacante Marcinho, também no minuto 46. Quando caminhava em direção à sua meta, sem perceber a saída de bola no meio-campo, o goleiro foi surpreendido pela finalização do atacante.
“A p* do pênalti não foi, c*! Primeiro ele deu o pênalti, que não houve. O bandeirinha ia chamar ele, ele não quis ir lá. O bandeirinha tinha um ângulo melhor e não foi pênalti. Segundo: tinha duas bolas em jogo. Eu fui pegar a outra bola! Como que ele vai dar jogo com duas bolas?”, argumentou Fábio logo após o gol inusitado.
Flanelinhas
Em fevereiro de 2010, no último clássico do velho Mineirão, que entrou em obras para a Copa das Confederações de 2013 e a Copa do Mundo de 2014, os cruzeirenses levaram ao estádio milhares de flanelinhas. A zoeira teve relação com a participação dos dois clubes no Brasileiro do ano anterior.
Na Série A de 2009, o Atlético chegou a ser líder, enquanto o Cruzeiro ocupava a zona de rebaixamento, já que priorizava a disputa da Copa Libertadores. Na reta final, o Galo perdeu força e caiu na tabela, enquanto a Raposa arrancou e conquistou vaga para o torneio continental de 2010.
Sob a ‘zoeira’ de que o Atlético teria ‘guardado a vaga’ celeste na competição sul-americana, a torcida do Cruzeiro coloriu o Mineirão com flanelas na cor laranja no duelo de 21 de fevereiro de 2010. Em campo, a Raposa venceu por 3 a 1, com gols de Gil, Leonardo Silva e Roger.
Quarta-feira do Goulart
Após o Cruzeiro confirmar o bicampeonato brasileiro, com vitória por 2 a 1 sobre o Goiás, no Mineirão, em 23 de novembro de 2014, o atacante Ricardo Goulart afirmou: “Quarta-feira tem mais”. O atacante fazia referência à final da Copa do Brasil, contra o rival Atlético, no meio de semana.
O Cruzeiro, que já havia sido batido pelo rival por 2 a 0 na partida de ida, foi novamente derrotado por 1 a 0 no segundo duelo. Foi o estopim para provocações e memes atleticanos dirigidos ao jogador cruzeirense, naquela que se tornou mais uma das histórias marcantes do clássico.
Paulo Roberto Costa: "Eles tremem"
Jogador bastante identificado com a torcida do Cruzeiro pela passagem em 1992 e 1994, com quatro títulos conquistados, o lateral-direito Paulo Roberto Costa se tornou uma espécie de persona non grata no clube em 1996, quando defendia o rival Atlético pela segunda vez - a primeira foi em 1995.
Logo depois da vitória por 2 a 1 sobre o Cruzeiro, em Ipatinga, pelo fechamento do turno, Paulo Roberto desabafou e afirmou: ‘“Nós fomos humilhados durante a semana por alguns jogadores do Cruzeiro. Mas, na hora que eles veem isso aqui ó [aponta para o escudo do Atlético], eles tremem”.
Saiba mais
A declaração eternizou a zoeira dos atleticanos. Desde então, Paulo Roberto já se desculpou em diversas ocasiões com os cruzeirenses, mas jamais foi visto com carinho pela história construída na Toca.
“Eu me arrependo, me arrependi mesmo. Na época eu até falei, falei algumas vezes. Me arrependi de ter falado. Porque o Cruzeiro é um clube que eu tenho o maior carinho, clube que eu joguei e conquistei os principais títulos, fora o Mundial pelo Grêmio. Tenho o maior respeito pela torcida, por todos lá no Cruzeiro. Foi uma coisa de empolgação, depois do jogo”, declarou.
Naquele ano de 1996, o Cruzeiro se sagrou campeão mineiro.
Paulinho McLaren provoca Atlético
Em 3 de novembro de 1996, o Cruzeiro venceu o Atlético por 2 a 1 pelo Campeonato Brasileiro. Após marcar o gol da vitória, de cabeça, o atacante Paulinho McLaren provocou o rival ‘batendo asas’, em alusão ao movimento de uma galinha. “Matamos o Galo, então tinha que comemorar ali. Depois, nós demos um tiro aí neles”.
Em 2015, num jogo festivo no Mineirão, Paulinho relembrou a comemoração provocativa. “Foi em um jogão, havia 87 mil pagantes no Mineirão, 93 mil presentes. Fui comemorar embaixo da torcida rival. Foi uma celebração inusitada, na época era legal. Hoje, está sem graça, não se pode mais comemorar que o jogador recebe cartão amarelo”.
O gesto de Paulinho McLaren voltaria a ser repetido em duas oportunidades. Em 2009, pelo atacante Kléber Gladiador, quando o Cruzeiro goleou o Atlético por 5 a 0 no Mineiro, e no Estadual de 2016, quando Rafael Silva marcou o único gol do triunfo celeste por 1 a 0.
Tardelli e Marcos Rocha lembram goleada
O lado sadio da rivalidade entre Atlético e Cruzeiro é colocado em prática por torcedores e até mesmo jogadores com a lembrança de goleadas históricas do Superclássico. No Campeonato Brasileiro de 2014, o atacante Diego Tardelli e o lateral-direito Marcos Rocha provocaram a Raposa na vitória por 3 a 2.
Ambos fizeram a comemoração após o segundo gol do Galo no clássico, no Mineirão. Eles apontaram para os números de suas camisas. Em 27 de setembro de 1927, o Galo goleou o seu rival, então Palestra Itália, por 9 a 2.
Edgar dá murro em Sorín
O zagueiro Edgar, do Atlético, descontou sua insatisfação com a desclassificação do time da Copa Sul-Minas, em 2002, no lateral-esquerdo Sorín, do Cruzeiro. O argentino levou um soco enquanto comemorava a vitória da Raposa por 4 a 2, nos pênaltis, depois de um empate em 1 a 1 no tempo regulamentar.
Edgar evitou comentar o incidente. Sorín também minimizou o fato, mas afirmou que não usaria a imprensa para responder ao atleta do Galo. "Vamos definir isso cara a cara".
Drible de Ronaldo em Kanapkis
Em um clássico disputado no dia 6 de março de 1994, no Mineirão, Ronaldo marcou os três gols da vitória do Cruzeiro por 3 a 1 e ainda eternizou um drible sobre o uruguaio Kanapkis. Com dois cortes secos, ele deixou o zagueiro no chão.
Em entrevista ao Superesportes, anos depois, Kanapkis lembrou o lance. “Ronaldo, no mano a mano, era impossível marcar. Ele podia sair pela direita ou pela esquerda. Não tinha como marcar. Era preciso muito cuidado na defesa. Era um grande jogador e também um ótimo ser humano. Me lembro que, depois de um clássico, nos encontramos em uma cervejaria, que tinha torcedores de Atlético e Cruzeiro. Ele me viu, me abraçou. Já sabia que seria um grande jogador e uma grande pessoa”.
Kerlon Foquinha x Coelho
Em 2007, o clássico válido pela 26ª rodada do Brasileiro terminou com vitória do Cruzeiro por 4 a 3. Mas o lance mais comentado foi a forte entrada de Coelho em Kerlon, o Foquinha. O lateral do Atlético deu uma ‘ombrada’ na então revelação celeste, ao receber o drible da 'foquinha', sendo expulso na sequência. A finta consistia em levantar a bola na altura da cabeça e correr com ela dominada.
Em 2015, oito anos após o lance, Coelho comentou a treta. “É a primeira vez que vou falar sobre o episódio do Kerlon, que aconteceu em um ano muito importante para mim. Acabei fazendo uma falta besta no menino do Cruzeiro e isso chega a ser irônico. Na época, não tinha muito o que falar. Me criticavam muito, falavam absurdos, depois me ligavam pedindo desculpas. Na minha opinião, a agressão nunca é o certo a se fazer. Mas as pessoas que nunca disputaram um clássico entre Atlético e Cruzeiro não vão saber o que se sente nesse jogo. Não me arrependo, mas também não apoio isso. O futebol é bola no chão, tem que ter jogadas bonitas e nada de violência”.
Troco à provocação de Cerezo
Às vésperas da decisão do Campeonato Mineiro de 1977, o volante Toninho Cerezo deu uma declaração à imprensa afirmando que enquanto ele, Reinaldo e Paulo Isidoro estivessem no Atlético, o Cruzeiro não seria campeão (anos depois, os três jogariam pela Raposa). O Galo venceu a primeira partida da final por 1 a 0. Antes da segunda partida, a comissão técnica da Raposa usou as palavras do capitão atleticano para motivar os jogadores celestes. Resultado: o Cruzeiro venceu as duas partidas seguintes, por 3 a 2 e 3 a 1, e foi o campeão mineiro.
Wanderléa
Por usar a camisa amarela e ter longos cabelos loiros, o goleiro Raul, ídolo do Cruzeiro nos anos 1960 e 1970, era o alvo preferido do torcedores atleticanos, que começavam a gritar “Wanderléa, Wanderléa...”. Era uma comparação com a cantora da Jovem Guarda. O cruzeirense levava na brincadeira. “Gostava daquilo, que mexessem comigo. Quanto mais gritavam, mais eu pegava. E sei que a cada defesa, morriam de raiva”.
Galo na cabeça
Com um corte na cabeça, Elzo teria de levar alguns pontos depois da decisão do Estadual de 1985 contra o Cruzeiro. Com um curativo à maneira de turbante, o volante do Galo contagiou a Massa. Virou símbolo do título.
Com a licença divina
Irritado com a arbitragem, o cartola cruzeirense Nicola Granata pegou a primeira coisa à mão no túnel do Cruzeiro e a arremessou no bandeirinha: a Bíblia presenteada pelo atleticano João Leite, o goleiro de Deus, ao camisa 1 celeste.
Unidos pela solidariedade
A agonia do presidente eleito Tancredo Neves uniu as torcidas de Atlético e Cruzeiro antes do clássico pelo Campeonato Brasileiro de 1985: de mãos dadas, os jogadores rivais fizeram oração pelo ilustre mineiro no centro do gramado.
Ligadas pela dor
Horas depois da morte do ídolo Ayrton Senna no GP de Ímola de F-1, Galo e Raposa duelaram pelo Campeonato Mineiro, em 1º de maio de 1994. Unidas na dor, as torcidas cantaram juntas “Olê, olê, olê, olá... Senna, Senna!”
Chute ou cruzamento?
Cerezo chutou sem ângulo da esquerda, encobriu Luís Antônio e fez Galo 1 x 0 Raposa, pelo Estadual de 1980. “Foi com o terceiro dedo do pé esquerdo no quarto gomo da bola”, definiu o craque, de maneira gaiata.
Esta reportagem utilizou também como fonte artigos históricos produzidos pelas equipes do Superesportes e do Estado de Minas.