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FUTEBOL MINEIRO

Desvalorização do real complica Cruzeiro e Atlético em pagamentos de dívidas na Fifa e negociações para contratar reforços

Euro e dólar dispararam desde o início da crise do coronavírus no Brasil

postado em 26/04/2020 08:00 / atualizado em 26/04/2020 19:53

(Foto: Fabrice Coffrini/AFP PHOTO)
A desvalorização do real diante do dólar e do euro complica bastante os clubes brasileiros no mercado da bola. Nos casos de Cruzeiro e Atlético, a preocupação se dá principalmente por dívidas na Fifa referentes a contratações não pagas.

Nesse sábado (25), o dólar equivalia a R$ 5,59, ao passo que o euro correspondia a R$ 6,05. Houve redução em comparação a sexta, 24, quando a moeda norte-americana era cotada a R$ 5,73, e a da União Europeia a R$ 6,18.

A baixa no real se dá tanto pelos efeitos econômicos da crise do novo coronavírus (COVID-19) no Brasil quanto pelos atritos políticos protagonizados pelo presidente Jair Bolsonaro. Num cenário menos turbulento, em 1º de janeiro de 2020, o dólar estava a R$ 4,02 e o euro a R$ 4,51.

Em razão da variação cambial, o Cruzeiro precisou recalcular as cifras de 19 processos na Fifa - entre os quais envolvendo as compras dos direitos econômicos de Arrascaeta (Defensor, do Uruguai), Luis Caicedo (Independiente del Valle, do Equador), Rafael Sobis (Tigres, do México) e Riascos (Morelia, do México).

No dia 31 de janeiro, o Núcleo Dirigente Transitório divulgou nota no site oficial do clube informando que o passivo estava na casa de R$ 53 milhões - R$ 25 milhões no primeiro semestre de 2020, R$ 22 milhões no segundo semestre de 2020 e R$ 5 milhões em 2022.

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro - 12/07/2018)

Em 14 de abril, o conselho gestor publicou no Portal da Transparência a correção das dívidas na Fifa: R$ 81,4 milhões - R$ 36,6 milhões no primeiro semestre, R$ 43,7 milhões no segundo semestre e R$ 1,1 milhão em 2021. 

O Cruzeiro sabe que a Fifa não vai aceitar carência para pagamento. Saulo Fróes, presidente do Núcleo Dirigente Transitório, diz que há duas saídas: tentar o parcelamento de seis a oito meses ou recorrer a um empréstimo bancário.

“Não adianta tirar ponto do Cruzeiro ou rebaixar para a Série C ou D. Os clubes querem receber, e o Cruzeiro quer pagar. O que queremos é um parcelamento, de seis ou oito vezes. Se não for possível, podemos recorrer a uma instituição financeira. Nossa ideia é resolver isso até o dia 31 de maio”, ressalta o dirigente ao Superesportes.

O Atlético também sofre com a queda do real, pois deve 1,8 milhão de euros à Udinese, da Itália, pela contratação do meia Maicosuel, em maio de 2014. O prazo para pagamento é nesta terça-feira, 28 de abril.

Em entrevistas recentes, o presidente Sérgio Sette Câmara disse que o dinheiro já está separado para quitar a dívida. À Rádio Itatiaia, em 13 de abril, ele mencionou o valor de R$ 10 milhões. Já no dia 20, citou 12,5 milhões de reais ao canal do jornalista Breno Galante, no YouTube. Porém, segundo a Itatiaia, o ônus pode atingir o patamar de R$ 15,7 milhões, contando correção, multas, juros e impostos.

Contudo, em declarações ao blog do Perrone, do site UOL, nesse sábado (25), Sette Câmara mudou o discurso e afirmou que o Galo possui apenas R$ 9 milhões, valor insuficiente para encerrar o processo na Fifa (leia a matéria aqui).

(Foto: Bruno Cantini/Atlético - 23/10/2014)

Contratações


Sob o comando do técnico argentino Jorge Sampaoli, que sonha em brigar pelo título brasileiro em 2020, o Atlético está de olho no mercado internacional para buscar possíveis reforços, mas pode esbarrar justamente na diferença de câmbio. Há pouco mais de um mês, o próprio diretor de futebol Alexandre Mattos apontou as dificuldades ao comentar a situação do atacante Róger Guedes, do Shandong Luneng, da China.

“Há pouco tempo, era muito duro trazer jogador de fora. Você tinha que convencê-lo a abaixar o salário, ter alguma perda financeira, e é muito difícil fazer isso. Hoje, da maneira como estamos, com a subida do dólar e do euro, deixou de estar ‘muito difícil’ para estar 'muito, muito, muito, muito difícil'. Não tem que se criar expectativa nenhuma. Às vezes, o atleta até tem o desejo (de voltar), mas as possibilidades hoje são bem reduzidas”.

Outro jogador na mira do Galo, o lateral-direito Mariano, do Galatasaray, tem remuneração fora dos padrões do futebol brasileiro, segundo afirmou seu empresário, Marcelo Robalinho, à Rádio Itatiaia.

“Hoje, ainda mais com a valorização do euro, é impagável o salário que ele tem fora no Brasil. A questão de câmbio prejudica demais os clubes brasileiros na questão de contratação. Para venda, é excepcional. Para contratação, não tem como competir”.

No entanto, o agente declarou que Mariano aceitaria receber menos, desde que o projeto do clube interessado seja para brigar por título - como é o caso de Sampaoli no Atlético. “São outras variantes que vão entrar nessa conta, não é só dinheiro”.

Em relação ao Cruzeiro, os investimentos serão mais modestos e voltados ao mercado nacional, visto que o time disputará a Série B do Brasileiro e praticamente não disporá de recursos devido às dificuldades financeiras.

(Foto: Bruno Cantini/Agência Galo/Atlético)

Flamengo


Nem mesmo o time mais rico do Brasil, o Flamengo, que contabilizou receita de R$ 950 milhões em 2019, escapou da crise do coronavírus. Ao canal FlaTV, o vice-presidente de futebol Marcos Braz citou a alta do euro como dificultador no processo de renovação de contrato com o técnico português Jorge Jesus.

“O presidente Landim já autorizou, a gente vem conversando com calma, mas aconteceu essa situação que está no mundo. O euro vai para mais de 6 (reais), isso é um fator ruim. O Flamengo está aí, como todas as empresas, como todos os clubes, fazendo as análises possíveis”.

Conforme Braz, o Flamengo se esforçará para assegurar o Mister, campeão do Campeonato Brasileiro e da Copa Libertadores em 2019. Por sua vez, Jesus também precisa ser compreensivo e aceitar um salário condizente com a realidade de momento.

“O Flamengo vai tentar mais uma vez renovar com o Jorge. O Flamengo vai fazer a parte dele, mas não depende só do Flamengo. Depende do Jorge entender o momento e a situação que estamos hoje. Isso sem o Flamengo perder o reconhecimento dele, da importância dele e dos títulos”, ressaltou o dirigente rubro-negro.

Em novembro de 2019, o jornalista Guilherme Amado, da revista Época, publicou que Jorge Jesus recebia 3,5 milhões de euros por ano no Flamengo - R$ 16,1 milhões na conversão de cinco meses atrás. Hoje, a fortuna superaria R$ 21 milhões.

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