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FUTEBOL MINEIRO

Cruzeiro, Atlético e América tentam amenizar efeitos econômicos da crise do coronavírus

Clubes tentam renegociar dívidas e manter empregos em meio ao caos financeiro

postado em 26/04/2020 06:00 / atualizado em 26/04/2020 19:57

(Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro; Bruno Cantini/Atlético; Estevão Germano/América)
Com o futebol paralisado há mais de um mês, os clubes tentam encontrar soluções para amenizar os efeitos econômicos da crise do novo coronavírus (COVID-19). Enquanto jogadores estão em férias coletivas, dirigentes seguem trabalhando diariamente para manter as contas em dia e cumprir previsões orçamentárias. Em Belo Horizonte, o Cruzeiro sofre mais com os problemas financeiros, pois viu a dívida total superar R$ 800 milhões na administração do ex-presidente Wagner Pires de Sá. Atlético e América, ainda que em menor proporção, também têm suas dificuldades. 

Um problema em comum de Cruzeiro e Atlético é a pendência na Fifa por contratações não pagas. No lado celeste, os passivos giram em torno de R$ 81 milhões, sendo que R$ 36,6 milhões vencem no primeiro semestre. “Não temos esse dinheiro”, diz Saulo Fróes, presidente do Núcleo Dirigente Transitório, ao Superesportes. “Estamos tentando arrumar uma forma para pagamento. Nosso departamento jurídico entrou com um pedido na Fifa para parcelar a dívida em seis ou oito vezes. Outra saída seria arrumar o dinheiro com uma instituição financeira”, complementa o dirigente.

A situação da Raposa pode ficar ainda pior porque o Pyramids, do Egito, notificou o clube em razão do não pagamento de 7 milhões de dólares - quase R$ 40 milhões - pela contratação de Rodriguinho, em janeiro de 2019. Ao menos nessa circunstância haverá tempo para negociações, visto que em muitos casos a sentença final é definida em quatro ou cinco anos após a entrada do processo na Fifa. O meia de 32 anos, que recebia R$ 650 mil mensais na Toca II, transferiu-se para o Bahia.

(Foto: Bruno Haddad/Cruzeiro)

O parcelamento do débito na Fifa poderia ser uma alternativa para o Atlético, que precisa pagar R$ 12,5 milhões à Udinese, da Itália, pela contratação de Maicosuel, em maio de 2014. Entretanto, o prazo desse compromisso vence na terça-feira, 28 de abril, e o presidente Sérgio Sette Câmara se mostrou pessimista quanto a uma renegociação.

A Fifa não está abrindo mão. Ela esperava que esse tipo de coisa chegasse ao ponto que chegou para mostrar a todo mundo que não estava brincando, quando avisava que os clubes não poderiam fazer contratações de modo irresponsável, sem ter como pagar, e jogar isso para administrações posteriores. Infelizmente, foi o nosso caso”, afirmou, ao canal do jornalista Breno Galante no YouTube.

O dirigente chegou a frisar que o dinheiro estava separado para encerrar a pendência financeira, porém mudou o discurso em entrevista ao blog do Perrone, do site UOL, veiculada neste domingo (26). De acordo com Sette Câmara, o Galo corre o risco de perder três pontos no Campeonato Brasileiro.

O alento para os clubes é que nenhum patrocinador pediu o encerramento do contrato. Em um caso específico, a Multimarcas Consórcios, parceira de Cruzeiro e Atlético, solicitou a suspensão do repasse de verbas por dois meses, com promessa de ressarcimento posterior. “Houve uma suspensão por período de dois meses e, consequentemente, uma extensão de contrato pelo mesmo período”, disse Fabiano Ferreira Lopes, proprietário da empresa.

Salários


Respaldados pela Medida Provisória nº 927, de 22 de março de 2020, e pelo art. 503 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), Cruzeiro e Atlético anunciaram, no início de abril, a redução de 25% nos salários de jogadores e funcionários. No caso do Galo, foi preservada 100% da remuneração de trabalhadores com rendimentos de até R$ 5 mil.

Apesar das diminuições de despesas, os rivais não escaparam do atraso dos salários com vencimento no quinto dia útil de abril. Como consequência, o presidente cruzeirense, José Dalai Rocha, comunicou na sexta-feira (24) a suspensão de parte dos contratos de trabalho. A medida vigorará por 60 dias, com os profissionais podendo retornar antes do término do período, caso os campeonatos sejam reiniciados ou mediante a necessidade dos departamentos.

(Foto: Cruzeiro/Divulgação)

“Ainda não temos o número exato de quantos funcionários estarão nesta situação. Mesmo sem as competições, temos alguns setores importantes em nossa engrenagem que continuam exercendo suas funções, ao mesmo tempo em que os funcionários tomam todos os cuidados para que essa doença não se espalhe ainda mais. No entanto, com os campeonatos paralisados, optamos por suspender os contratos de trabalho, para que possamos manter os colaboradores conosco e para que a gente consiga passar por esta fase com responsabilidade financeira. É uma tentativa de manter os empregos”, declarou Dalai, ao site oficial do clube.

Já o América não alterou nenhuma situação contratual. De acordo com o clube, 95% dos colaboradores, incluindo atletas, encontram-se em férias coletivas até 30 de abril, enquanto os 5% restantes se dividem entre teletrabalho e trabalho presencial - casos dos responsáveis pela parte operacional do CT Lanna Drumond.

Orçamentos


Antes da pandemia de coronavírus, o Atlético tinha expectativa de alcançar receita bruta de R$ 308,7 milhões em 2020, com superávit de R$ 1,9 milhão. O América também almejava encerrar o ano no positivo, com saldo de R$ 388 mil. Já o Cruzeiro, em um cálculo atualizado com as paralisações no esporte, estimou déficit de R$ 143 milhões, sem detalhar ganhos e gastos na temporada.

(Foto: Divulgação/Atlético)

Os números estipulados por Atlético e América dependem da manutenção do pagamento por parte da TV Globo, detentora dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. O Galo almejava faturar R$ 78,9 milhões com “transmissão e imagem” - 25,5% de sua receita bruta -, enquanto o Coelho projetava R$ 9,4 milhões (26,4%). Por se tratar de uma fonte importante de receita, dirigentes dos clubes mantêm contato frequente com executivos da emissora e também da CBF com o propósito de garantir a realização das competições de maneira integral, ainda que sem a presença de público inicialmente.

“Os presidentes dos clubes se reuniram juntamente com o Conselho Nacional dos Clubes, que representa a Série A e a Série B, além dos clubes que ainda estão na Copa do Brasil. Foi feita uma carta que vai ser entregue à Rede Globo confirmando o compromisso de ter as 38 datas e em contrapartida ter a manutenção dos pagamentos", disse Edno Melo, presidente do Náutico, em entrevista à Rádio Jornal, do Recife, em 21 de abril. “Se já era vital para os clubes, hoje a cota é fundamental e essencial para a sobrevivência e manutenção dos pagamentos dos clubes”, complementou.

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