“João era adepto do futebol arte, ele deixava o jogador jogar da maneira que gostava de jogar. A Seleção recuperou seu futebol, só craque, e o João, politizado, comunista, começou a bater de frente com o presidente da república. Ele começou a incomodar o poder”, relata Dirceu, que vestiu a camisa do Cruzeiro entre 1964 e 1977 e a da Seleção Brasileira na primeira metade de 1970.
“Vivenciamos um fato verídico: quando perguntaram (diretores da CBD) ao João Saldanha sobre o Dario (ex-atacante do Atlético), ele disse: eu não escalo ministros para o presidente, eu não admito que nem o presidente escale jogador na Seleção Brasileira. Enquanto estiver aqui, quem manda sou eu. Estávamos de folga e quando voltamos existia aquele ambiente de pressão, ele (João Saldanha) já tinha caído. Entrou o Zagallo. Eu não o conhecia. Só que de jogador mais importante da Seleção, como o João falava, eu passei a ser o menos importante”, lamenta. Assista outros trechos da entrevista com Dirceu Lopes no vídeo acima.
Biógrafo de Dirceu Lopes, o jornalista Pedro Blank ratifica que o corte do meia se deu pela troca de treinadores. “Em que pese a concorrência acirrada naquela seleção que é apontada como a melhor de todos os tempos, era indiscutível que Dirceu Lopes tinha lugar assegurado pelo menos entre os 22 convocados. O empecilho, contudo, era (Garrastazu) Médici (chefe maior da ditadura entre 1969 e 1974), que não engolia Saldanha e muito menos a ausência de Dario”, relata.
A convocação de Dario e o corte de Dirceu não têm relação direta. Blank explica o processo que levou o centroavante alvinegro para a Copa de 70. “Para abrir caminho para Dario, o coronel Otávio Costa, então chefe de Relações Públicas da Presidência da República, começou a pressionar o presidente da CBD, João Havelange, para colocar Dadá entre os 22”, diz. “Diante desse impasse, os médicos da CBD fizeram uma rodada de exames médicos no grupo. Toninho, um atacante fora de série do Santos, foi cortado por sinusite. Veja bem: sinusite. Isso, em tese, permitiria a convocação de Dario”, explica.
A convocação de Dario e o corte de Dirceu não têm relação direta. Blank explica o processo que levou o centroavante alvinegro para a Copa de 70. “Para abrir caminho para Dario, o coronel Otávio Costa, então chefe de Relações Públicas da Presidência da República, começou a pressionar o presidente da CBD, João Havelange, para colocar Dadá entre os 22”, diz. “Diante desse impasse, os médicos da CBD fizeram uma rodada de exames médicos no grupo. Toninho, um atacante fora de série do Santos, foi cortado por sinusite. Veja bem: sinusite. Isso, em tese, permitiria a convocação de Dario”, explica.
Dadá: “O Médici pegou e falou: Convoca ele”
“Eu dei uma sorte na vida. O Médici foi ver um jogo entre Atlético e Internacional. O Inter estava ganhando de todo mundo. Eu cheguei na maior cara de pau e falei que ia fazer dois gols, do nada. Fui vaiado entrando em campo. Fiz os gols (três). Ganhamos de 4 a 1 do Inter, mas eu não sabia que o Médici estava vendo o jogo. Ele viu as minhas entrevistas e ficou louco comigo. Depois, quando cheguei nos treinos da seleção, arrebentei, fiz gols e fui para a Copa do Mundo”, garante. Veja outros trechos da entrevista com Dario no vídeo acima.
Não resta dúvida que futebol e política sempre andaram de mãos dadas nas linhas tortas da história do Brasil. O corte de Dirceu Lopes, um dos melhores jogadores do país na segunda metade dos anos 60 e início dos anos 70, acontece com esse pano de fundo.
É inegável que o presidente Médici era um apreciador de futebol. São clássicas suas cenas em estádios Brasil afora com um radinho de pilha no ouvido. O general assistiu João Saldanha, um comunista declarado, montar o time que participou das eliminatórias e classificou o Brasil para a Copa de 70.
Desde a primeira convocação, João Saldanha sempre deixou claro que Dirceu Lopes era figura certa na Copa de 70. O meia cruzeirense, inclusive, ganhou uma Bola de Ouro, em 2013, por ser o melhor jogador do país em 71 – Pelé não participava da disputa por ser hours concours.
Em que pese a concorrência acirrada naquela seleção que é apontada como a melhor de todos os tempos, era indiscutível que Dirceu Lopes tinha lugar assegurado pelo menos entre os 22. O empecilho, contudo, era Medici, que não engolia Saldanha e muito menos a ausência de Dario, um goleador incontestável, entre os 22.
Para abrir caminho para Dario, o coronel Otávio Costa, então chefe de Relações Públicas da Presidência da República, começou a pressionar o presidente da Confederação Brasileira de Desportos (CBD), João Havelange, para colocar Dadá entre os 22.
Saldanha jamais admitiria essa ingerência. Tanto que ele comentou em uma entrevista: o presidente escala o ministério e a seleção. O treinador jamais aceitaria convocar Dario, um baita goleador, mas tecnicamente inferior ao restante do grupo.
Diante desse impasse, os médicos da CBD fizeram uma rodada de exames médicos no grupo. Toninho, um atacante fora de série do Santos, foi cortado por SINUSITE. Veja bem: SINUSITE. Isso, em tese, permitira a convocação de Dario por Saldanha.
Saldanha não aceitou. Chamou Zé Carlos, um grande volante do Cruzeiro. Foi o que bastou para sua demissão. Dino Sani e Otto Glória foram convidados. Em troca, deveriam chamar Dario. Ambos rechaçaram. Veio Zagallo.
Dirceu Lopes estava com o terno encomendado pela CBD. Mas Zagallo preferiu seu corte, assim como Zé Carlos. Uma injustiça histórica.
Dadá, ex-Atlético, em amistoso preparatório da Seleção para Copa de 70 - Foto: Arquivo EM
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