Ex-funcionária da Minas Arena (administradora do Mineirão), a historiadora Karina Rezende criticou a concessionária pela forma como conduziu uma denúncia de assédio sexual ocorrido no estádio. De acordo com a vítima, o caso ocorreu numa cabine de fotos durante uma festa de fim de ano entre empregados, em 19 de dezembro de 2018.
“Em um dado momento em que eu estava dançando do lado de fora da arquibancada - eu já estava indo embora, inclusive, já tinha despedido das pessoas -, um dos funcionários do estádio Mineirão, o qual eu não sabia o nome, só tinha visto e cumprimentado de longe algumas vezes, me pediu para autografar o álbum de figurinhas da empresa, em que cada um tinha a sua figurinha. Quando a gente foi para a parte interna da arquibancada roxa, ele pediu para tirar uma foto comigo dentro da cabine. Ele apertou o botão da cabine e tiramos uma foto. No momento em que apertou o botão, ele tentou forçar um beijo, segurando muito forte o meu rosto. Eu consegui escapar, pressionando meu rosto para baixo”, diz ao Superesportes.
Karina relatou o episódio à Minas Arena e, uma semana após o caso, fez boletim de ocorrência (foto acima) na 3ª delegacia de Polícia Civil, em Belo Horizonte. Em 19 de janeiro de 2019 - exatamente um mês depois do ocorrido -, a administradora do estádio avisou à vítima que tomaria medidas que julgava cabíveis.
A Minas Arena justifica que esse prazo se deveu ao fato de os funcionários da administradora estarem de férias. Durante o período, Karina e concessionária - que consultou uma assessoria jurídica para tratar o caso - estiveram em contato, mas a espera da vítima durou até a última semana.
A Minas Arena justifica que esse prazo se deveu ao fato de os funcionários da administradora estarem de férias. Durante o período, Karina e concessionária - que consultou uma assessoria jurídica para tratar o caso - estiveram em contato, mas a espera da vítima durou até a última semana.
Questionada por Karina sobre o teor das medidas contra o funcionário envolvido no caso, a Minas Arena não as revelou sob a alegação de que, juridicamente, o processo deve correr em sigilo. Diante disso, a vítima utilizou as redes sociais para relatar o episódio de assédio sexual e criticar a forma como a administradora do Mineirão lidou com o caso.
“Ao questionar quais as atitudes da empresa, a comunicação me informou que eu não poderia saber. Isso mesmo. Eu, a vítima do assédio, não posso saber de nada relacionado ao caso e ao assediador, pois é um assunto da empresa e não me diz respeito”, escreveu Karina em uma postagem no Facebook (leia ao final desta matéria).
A vítima trabalhou no Museu Brasileiro do Futebol, no Mineirão, entre 13 de dezembro de 2017 e 12 de dezembro de 2018. Por ter integrado a equipe de trabalhadores durante todo o ano passado, foi convidada para o jogo festivo e a confraternização, que ocorreram dias depois do final do contrato de estágio.
O posicionamento da Minas Arena
Nesse domingo, a administradora do Mineirão divulgou uma nota em que diz repudiar “qualquer tipo de assédio” e explica o motivo de não ter revelado as medidas tomadas após o ocorrido.
“Desde que o caso foi comunicado à gestão da empresa, o assunto foi conduzido por meio de comitê interno e assessoria técnica especializada no assunto, para resguardar os envolvidos, dentro dos limites éticos e legais. Por observância à legislação brasileira, (as medidas) não podem ser divulgadas em função do sigilo que deve existir na relação empregado-empregador”, lê-se.
Na nota, a Minas Arena informou que os funcionários passarão por um treinamento na última semana de janeiro para aprenderam a identificar casos de abuso e assédios e entenderem “a gravidade e as possíveis consequências desses atos”.
Nas redes sociais, Karina Rezende criticou forma como a Minas Arena conduziu o caso, especialmente pelo fato de a administradora do Mineirão se engajar publicamente em lutas feministas e contra assédio.
“O Mineirão é engajado na campanha do #DeixaElaTrabalhar. A capa da revista do estádio esse mês é sobre mulheres. Uma nota da campanha #DeixaElaTrabalhar divulgada pelo estádio afirma que ‘O Mineirão reafirma o seu caráter inclusivo e que a luta pelo empoderamento feminino deve ser perene, e não somente no mês de março (mês em que é celebrado o Dia Internacional da Mulher)’’. Será mesmo? O caso ser mantido sob sigilo absoluto (inclusive comigo mesmo) e nenhuma sanção ter sido sofrida por parte do assediador é empoderador?”, questionou.
A campanha #DeixaElaTrabalhar foi idealizada por mulheres jornalistas após a repórter Bruna Dealdry, do canal Esporte Interativo, ter sido beijada à força por um torcedor do Vasco. O episódio ocorreu em 14 de março de 2018, nos arredores do São Januário, no Rio de Janeiro, antes do jogo contra a Universidad do Chile, pela fase de grupos da Copa Libertadores.
Na nota, a Minas Arena reitera o posicionamento sobre casos como esse. “Combater o assédio ou qualquer outra atitude que possa comprometer a integridade de alguém é um compromisso assumido publicamente pelo Mineirão desde 2017, por meio de campanhas internas e externas, bem como com a Rede Brasil do Pacto Global, protocolado na ONU. A empresa considera extremamente importante que esse tema seja amplamente discutido, principalmente no meio do futebol, como forma de conscientização e prevenção”, lê-se.
Karina rebate: "Eu repudio aquela nota. Considero que ela não esclarece nada, ela deixa sem respostas e ela não fala sobre o assediador e nem sobre o assédio".
Karina rebate: "Eu repudio aquela nota. Considero que ela não esclarece nada, ela deixa sem respostas e ela não fala sobre o assediador e nem sobre o assédio".
A postagem
Nas redes sociais, Karina relatou o episódio, criticou a demora para receber uma resposta da Minas Arena diante da denúncia e questionou o fato de não poder ter acesso às fotos tiradas na cabine, que podem ter registrado o momento do assédio. Veja a postagem a seguir:
A nota da Minas Arena
No site oficial, a administradora do Mineirão se posicionou e justificou a forma como agiu diante do caso. Leia a seguir:
"O Mineirão repudia qualquer tipo de assédio e, desde que o caso foi comunicado à gestão da empresa, o assunto foi conduzido por meio de comitê interno e assessoria técnica especializada no assunto, para resguardar os envolvidos, dentro dos limites éticos e legais.
Em função do post público da Karina, a concessionária informa que ela foi convidada para a festa de confraternização mesmo não sendo mais colaboradora da empresa. Ainda assim, após apuração interna rigorosa e sigilosa para esclarecer os fatos, foram tomadas as medidas que competem a uma empresa realizar e que, por observância à legislação brasileira, não podem ser divulgadas em função do sigilo que deve existir na relação empregado-empregador.
Este retorno foi dado a Karina na última sexta-feira e, para aprimorar ainda mais a consciência de seu público interno, o estádio está desenvolvendo treinamentos para seus funcionários e parceiros identificarem casos de abusos e assédios e entenderem a gravidade e as possíveis consequências desses atos. Um treinamento geral acontecerá na última semana de janeiro.
O Mineirão reforça que está à disposição das autoridades competentes para fornecer as informações que se façam necessárias para o esclarecimento do ocorrido. Combater o assédio ou qualquer outra atitude que possa comprometer a integridade de alguém é um compromisso assumido publicamente pelo Mineirão desde 2017, por meio de campanhas internas e externas, bem como com a Rede Brasil do Pacto Global, protocolado na ONU. A empresa considera extremamente importante que esse tema seja amplamente discutido, principalmente no meio do futebol, como forma de conscientização e prevenção."
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