Marcus Salum (América), Sérgio Sette Câmara (Atlético) e Wagner Pires de Sá (Cruzeiro) assumiram clubes em 2018 com realidades bem diferentes, mas têm desafios comuns para elevar receitas dos clubes
Os balanços financeiros dos três clubes da capital mineira mostraram cenários distintos. Enquanto América e Atlético tiveram déficit de R$ 5,1 milhões e R$ 25 milhões, respectivamente, o Cruzeiro foi o único a registrar superávit, de R$ 30,5 milhões.
O administrador de empresas Amir Somoggi, especialista em gestão esportiva, detalhou um estudo sobre as finanças do trio de Belo Horizonte. Entre os principais pontos da análise estão as dívidas, a dependência das receitas da televisão e os desafios para aumentar o faturamento e reduzir os gastos.
Os R$ 177,1 milhões oriundos da TV representaram 51,4% da renda do Cruzeiro em 2017. Houve, conforme o estudo, um crescimento de 35% em relação a 2016, quando o clube recebeu R$ 133 milhões.
As cotas de televisão tiveram impacto ainda maior nos cofres do Atlético. Dos R$ 311 milhões obtidos pelo alvinegro, 55% vieram de direitos de transmissão (R$ 171,7 milhões).
Já o América recebeu apenas R$ 9,3 milhões de direitos de TV de Campeonato Mineiro e Série B. O valor correspondeu a 23% do orçamento de R$ 38,9 milhões em 2017. Houve crescimento em outras fontes de renda, como patrocínio, bilheteria e transferências de jogadores.
“O América está de parabéns, pois conseguiu superar a queda brusca em receita de cota de TV (caiu de R$ 46 milhões, em 2016, para os R$ 9,3 milhões de 2017) com crescimento em outras arrecadações, como bilheteria, transferência de jogadores e patrocínio. Se não tivesse sido rebaixado em 2016, o clube certamente teria sua maior arrecadação da história em 2017”, disse Amir Somoggi, à reportagem do Superesportes.
Dívidas
Como tem poder de investimento menor que Cruzeiro e Atlético, o América adota o papel de ‘pés no chão’ em suas contas. A dívida total do clube gira em torno de R$ 57,6 milhões, sendo R$ 36,2 milhões em débitos fiscais. Nesse último quesito, houve um aumento de 3% em relação a 2016, ano em que os encargos eram de R$ 35,3 milhões.
O Cruzeiro, conforme os números apresentados no estudo de Somoggi, diminuiu tanto a dívida total (R$ 363,1 milhões para R$ 313,6 milhões) quanto a fiscal (R$ 174 para R$ 170,8 milhões). O Atlético reduziu o débito tributário em 17% (R$ 284,3 para R$ 237,1 milhões), mas elevou as despesas gerais (R$ 518,7 para R$ 538,1 milhões).
Amir Somoggi fez uma observação nas contas do Cruzeiro: uma receita de R$ 35 milhões não especificada no balanço diminuiu a dívida do clube e gerou o superávit. “O Cruzeiro registrou um valor muito alto na categoria ‘outras receitas’. Esse valor, de R$ 35 milhões, não especifica a origem. Foi o fator que fez com que o clube alcançasse um superávit em 2017”.
O consultor também comentou a dimensão das obrigações tributárias não pagas pelas agremiações. “As dívidas fiscais não são de responsabilidade de uma só administração. É todo um histórico de má administração fiscal, em que gestões anteriores não pagam os impostos. É um passivo pesado, não dá para ficar com pena. Gastou com salários altos, pagando rescisões, e acaba dificultando a situação financeira do clube”.
Desafios
Em 2017, o Cruzeiro obteve R$ 26 milhões com receitas de patrocínio e publicidade. O Atlético embolsou R$ 35 milhões. Na bilheteria, o clube celeste faturou mais: R$ 38,7 a R$ 33,1 milhões (incluindo os programas de sócio).
Somoggi tomou como referência os R$ 86 milhões recebidos pelo Cruzeiro com bilheteria e programa sócio do futebol em 2014 para criticar o faturamento de 2017. No caso do Atlético, a escolha da diretoria em mandar as partidas no Independência, cuja capacidade é para apenas 23 mil torcedores, também é questionada pelo especialista.
“Os times mineiros foram muito mal em questão de bilheteria. Não estou dizendo que não podem baixar o preço dos ingressos, mas tem que ser feito um planejamento para arrecadar mais do que o obtido em 2017. O Cruzeiro chegou a receber R$ 86 milhões contando sócio e bilheteria em 2014. No ano passado, a quantia foi muito menor. O Atlético tem a questão de jogar no Independência, um estádio com capacidade bem inferior à do Mineirão, é um fator que dificulta o ganho também”.
Na opinião do administrador, os ganhos com patrocínio e publicidade também poderiam ser maiores. “O valor de R$ 26 milhões recebidos pelo Cruzeiro é baixíssimo. O Atlético arrecadou um pouco mais, cerca de R$ 35 milhões, mas também está aquém. Na minha opinião, os dois clubes têm potencial para uma receita de no mínimo R$ 50 milhões cada”.
Quanto ao América, não há muito que ser feito, já que a torcida é pequena se comparada aos dos rivais. O desafio é angariar recursos oriundos da TV, de patrocínio e com negociações de jogadores.