“Estou muito feliz. Fazia tempo que eu não tinha a felicidade de estar treinando, jogando. Tenho tudo para fazer um grande Campeonato Mineiro e principalmente ajudar o Uberlândia”, afirmou o goleiro ao Superesportes.
Antes do Uberlândia, Felipe defendia o Boavista-RJ. O goleiro atuou pela equipe de Saquarema durante o Campeonato Carioca do ano passado. Mas, na reta final da competição, ele acabou sofrendo um problema na coluna que o impediu de fazer qualquer tipo de atividade por três meses. Passado o período, o arqueiro passou a treinar por conta própria, até chegar o convite do clube mineiro. Agora, o camisa 1 terá a missão de ‘segurar’ o Cruzeiro em pleno Mineirão.
O Cruzeiro investiu pesado nesta temporada, sobretudo na parte ofensiva. Como parar esse time esta noite?
Vai ser difícil. Tem jogadores de qualidade. Já era um time forte no ano passado e agora trouxeram o Fred, o David, que estava no Vitória e que acompanho, por ser de Salvador. Mantiveram a base, houve poucas perdas e muitos ganhos. Sem dúvida é um dos melhores elencos do país e a gente vai ter que se desdobrar pra fazer um grande resultado nesta quarta.
Parar o Fred em pleno Mineirão, por exemplo, chamaria bastante a atenção da mídia nacional...
Sempre quando você joga com as grandes equipes é assim. O Fred já estreou, ainda não fez gol e quer fazer. Não só o Fred, mas também Thiago Neves, Robinho, Arrascaeta... são grandes atletas. Se nossa equipe fizer um grande jogo, todo mundo aparece na forma positiva. A ideia é essa. É ter calma e paciência. Vamos ter 90 minutos de pressão, mas podemos surpreender o Cruzeiro. Certamente o Mineirão estará lotado, assim como na primeira partida.
No ano passado, sob o comando do Paulo Cezar Catanoce, o Uberlândia conseguiu arrancar um empate do Cruzeiro no último minuto. O que ele tem passado para vocês, diante dessa experiência em enfrentar o time celeste?
Cada jogo é uma história. Ano passado conseguimos o empate. Esse ano nossa equipe foi totalmente modificada. O Cruzeiro também se reforçou. Apesar de ser início de temporada, o Mano está colocando os principais atletas para jogar. Vamos ter 90 minutos para tentar parar a equipe do Cruzeiro, que é uma coisa quase impossível, mas aqui do outro lado também temos jogadores de qualidade para fazer uma boa partida. O importante é pontuar. Sempre entramos para vencer os jogos, mas a gente sabe que um empate contra o Cruzeiro no Mineirão não é um resultado ruim.
O Uberlândia tem enfrentado longas viagens neste início de Mineiro. De Uberlândia até Juiz de Fora e de Juiz de Fora até BH, após uma partida em que a equipe se doou completamente em campo na goleada por 5 a 2 sobre o Tupi. Como driblar o desgaste?
É um tempo curto, mas o pessoal da preparação física está fazendo um trabalho de recuperação e as pernas já estão mais leves. Infelizmente com o calendário assim você joga aqui e joga lá e tem pouco tempo de recuperação, mas já estamos acostumados com isso. Não é novidade. Vamos embora quinta, depois jogamos domingo e tem jogo na outra quarta… Então esse problema de desgaste é uma coisa normal para todas as equipes.
Você também enfrentou o Cruzeiro em diversas oportunidades. De qual jogo você se lembra mais?
Sem dúvida foi pela Copa do Brasil em 2013, onde o Elias marcou o gol no finalzinho do jogo, e naquele ano o Cruzeiro seria campeão brasileiro. Eles tinham o melhor elenco do país e a gente não tinha nenhum grande craque. O Elias era nosso melhor jogador e o Hernane estava em uma grande fase. Desacreditados, mas com 70 mil pessoas no Maracanã, conseguimos eliminar o Cruzeiro e fomos campeões da Copa do Brasil daquele ano.
Último jogo no Mineirão - Cruzeiro 2 x 1 Flamengo (golaço de Everton Ribeiro)
Atuando, sim. Depois voltei com o Figueirense. Aquele gol do Cadu (Carlos Eduardo, meio-campista) foi esperançoso. A gente sabia que 2 a 0 seria difícil de reverter. O Everton Ribeiro, hoje no Flamengo, acabou fazendo um golaço dando um chapéu. Ali foi só olhar e bater palma para ele (risos). Foi um lance de pura habilidade e genialidade. Mas ganhamos esperança no gol do Carlos Eduardo, ainda mais que ele era um atleta bastante questionado e acabou fazendo o gol em um momento do jogo que ninguém esperava. Sem dúvida aquele gol foi o ânimo que a gente precisava. A torcida comprou a briga e lotou o Maracanã.
Como chegou a proposta do Uberlândia? Qual fator pesou mais para você aceitar?
Chegou um convite do Fabrício (Tavares, diretor de futebol do Uberlândia) no fim de setembro e início de outubro e fomos conversando. Pesou o fato de poder atuar pela primeira vez no futebol mineiro. Saí do Boavista por lesão e fiquei três meses parado com um problema na coluna. Depois que comecei a fazer os trabalhos por conta própria apareceram algumas situações que não eram legais no momento. Já ganhei o Campeonato Baiano, Carioca e Paulista e tava tendo essa oportunidade de jogar o Campeonato Mineiro. Sem contar a estrutura do Uberlândia. Muitas equipes grandes não têm a estrutura que o Uberlândia tem. Tem quatro campos de treinamento, tem o estádio, a cidade é maravilhosa. O fato de conhecer o Fernando e o Alexandre Pires (músicos) também pesou, foram os primeiros contatos que eu tive quando houve o convite. Liguei para eles e pelo fato de sermos amigos eu tive as melhores informações possíveis da estrutura do clube. Não me arrependo da escolha. Estou bem feliz voltando a fazer o que gosto. Fazendo um bom Campeonato Mineiro, certamente coisas boas podem aparecer.
Como foi a adaptação com a cidade?
A cidade é muito boa. Quase um milhão de habitantes. Tem o aeroporto, então fica fácil para viajar. Vou muito ao Rio de Janeiro, Salvador, é tudo muito rápido e perto. É muita gente na cidade, apesar de ser interior. Tem muitos torcedores do Corinthians e Flamengo, onde tive a felicidade de jogar nas duas equipes. Minha adaptação foi muito rápida, conhecendo o Fernando (Pires) também, que ainda reside lá, ficou muito mais fácil, já fiz amizade com o pessoal lá também. Estou muito feliz. Fazia tempo que eu não tinha a felicidade de estar treinando, jogando. Tenho tudo para fazer um grande Campeonato Mineiro e principalmente ajudar o Uberlândia
Como você se vê sendo uma das principais referências do Uberlândia? O que você passa para o grupo pela sua experiência?
Tento passar a experiência que vivi. Estreamos com derrota (2 a 0 para a URT, no Parque do Sabiá) e o grupo ficou cabisbaixo. Foi muita cobrança, conversamos bastante na viagem. Conversamos antes do jogo (contra o Tupi) que a estreia já havia passado, que tínhamos um novo jogo. A gente soube assimilar a derrota. Temos que conversar não só nas vitórias, mas também nas derrotas. Não só eu, mas também o Ferron (zagueiro), que é um atleta experiente, o Bruno Costa (zagueiro) também. A gente conversa mais nesses momentos. Na vitória, na euforia, a gente não tem nem porque conversar. Todo mundo ali sorrindo. Mas são nos piores momentos é que os atletas de maior rodagem precisam aparecer
Em outras oportunidades, antes mesmo de fechar com o Uberlândia, você disse que começaria 2018 com tudo. Como você está fisicamente?
Estou muito bem, tanto que me apresentei antes da data prevista no Uberlândia. Era pra eu chegar no dia 20 de novembro e cheguei no começo do mês, já para começar a treinar, manter a forma. Sinto que posso melhorar mais ainda. Fiquei quase dez meses sem atuar, então fui jogar minha primeira partida há uma semana. Senti bastante, mas a tendência é melhorar bastante e fazer um ótimo Campeonato Mineiro pelo Uberlândia.
Você é um dos poucos no futebol que atuou ao lado do Ronaldo e Ronaldinho. Como foi essa experiência?
É o sonho de qualquer atleta. Ronaldo chegou no Corinthians desacreditado, por conta das lesões e o fato de estar acima do peso. Jogamos e conquistamos títulos, que é o mais importante. Foi uma reformulação no Corinthians naquele ano. Existe um Corinthians antes do Ronaldo e depois do Ronaldo. Foi uma felicidade incrível chegar aos treinos e ver ele se recuperando, mesmo acima do peso, pois qualidade ele tinha. Era o verdadeiro Fenômeno. É uma oportunidade para poucos e fico muito feliz em ser um desses poucos.
E com o Ronaldinho Gaúcho no Flamengo foi diferente. Eleito melhor do mundo. Você jogava com ele no videogame e depois estar ali no dia a dia, conquistar título com ele. Então são coisas na minha vida e na minha carreira que não vou esquecer nunca.
Sobre o Corinthians: você apareceu bem em 2007, foi campeão em 2008 e 2009, mas uma discussão na TV gerou sua rescisão contratual naquele momento. Se arrepende daquilo?
Não me arrependo de ter saído do Corinthians. Me arrependo apenas da forma que foi. Andrés era meu amigo, tínhamos um convívio muito bom. Saíamos, trocávamos mensagens… não era relação nem de presidente e atleta, era amizade. Mas foi um momento de raiva e fraqueza. Ambas as partes erraram, mas pesa muito mais para o atleta. Não arrependo de ter saído do Corinthians, mas da forma que foi. Poderia ter sido tudo diferente, mas são coisas que acontecem. Já passou. O carinho que tenho pelo Corinthians é eterno. Já encontrei com o Andrés outras vezes, nos falamos, mas é uma mancha que fica, bater boca com o presidente, fica uma coisa ruim.
Você considera sua melhor fase da carreira atuando pelo Corinthians?
Vivi bons momentos no Flamengo também. Tive minhas fases no Corinthians e no Flamengo, então não tem como falar onde fui melhor. Tive bons e maus momentos nas duas equipes, então não tem como falar. Mas foram oito anos ganhando títulos, praticamente. Foi um momento marcante na minha vida
Teve aquela questão com o pênalti do Léo Moura, em 2009, quando você ainda atuava pelo Corinthians. Muita gente fala que você teria facilitado. O que houve naquela ocasião?
Se o jogo tivesse 0 a 0, poderiam falar que o Flamengo ganhou de 1 a 0. Mas foi 2 a 0 para o Flamengo. Se não me engano era o Internacional brigando pelo título também, mas o São Paulo havia perdido para o Goiás por 4 a 0. O Inter havia perdido para um time que estava brigando para não cair. Então quando um time perde um campeonato, não é o rival. São 38 jogos. Ninguém ganhou naquela rodada. Dois anos depois o Elano bateu um pênalti no meio, fiquei parado e peguei. Se ele bate no canto, e eu fico parado, será que falariam que eu deixei também? Goleiro tem direito de escolher o canto que ele quer pular e eu optei ficar no meio, porque o Léo Moura ali não era o batedor de pênalti do Flamengo. Quem cobrava era o Petkovic ou o Adriano. Quando uma equipe quer ser campeã, ela tem que depender de suas forças. Corinthians jogou para ganhar. Estávamos perdendo por 1 a 0. Eu pego o pênalti, acaba o jogo, o São Paulo teria perdido do mesmo jeito, assim como o Internacional. São coisas que o pessoal fala. Mas estou tranquilo. Pior coisa que tem para o goleiro é tomar gol. Ainda mais um jogo grande. Entramos para dar nosso melhor e ficamos tristes com esses comentários maldosos. Mas tenho minha consciência tranquila.
Ainda sobre o Flamengo: teve também aquela questão do ‘roubado é mais gostoso’. Recentemente você até postou um vídeo sobre isso em suas redes sociais. O que houve de fato?
Até hoje não tem uma frase minha falando isso. Hoje o que mais tem no campo é câmera e microfone. Tanto que quando alguém vai falar, coloca a mão na boca. E eu fui punido por isso. Poderia ter tomado dois anos de suspensão e fui absolvido. Se por caso eu falei isso, peço desculpas, mas eu não tinha certeza e até hoje não tenho, pelo tempo que passou. Alguém poderia ter falado, mas você não sabe quem. Se eu falei isso, volto a repetir, peço desculpas, mas foi pós-jogo. Não tem um áudio ou vídeo de eu falando. Até publiquei um vídeo que me mandaram que eu falo algumas coisas, mas em nenhum momento eu falo da forma que foi falada. Algumas pessoas usaram disso para se aproveitar da situação. Eu sempre fui tachado de ‘polêmico’, porque falo o que penso. Quando você não fala ‘se Deus quiser, vamos ganhar os três pontos’, você é visto como polêmico. Você no futebol tem que falar o que pensa, não o que você querem que fale.
Você ainda sonha em atuar por uma grande equipe?
Idade eu tenho e qualidade também. Tenho 33 anos e muita gente acha que não (risos) por ter atuado por tanto tempo no Corinthians e Flamengo. Mas os goleiros das grandes equipes têm mais idade. Casos do Fábio, que está em excelente fase e do Victor. Cavalieri, que saiu há pouco tempo do Fluminense. São todos atletas mais velhos do que eu. O Magrão, no Sport, está com 41 anos e tem jogado com muita qualidade. Wilson, no Coritiba, fez um excelente Brasileiro. Fernando Prass e Jaílson, no Palmeiras. Todos os atletas que eu falar têm a mesma idade do que eu ou são mais velhos. Mas todos estão atuando em alto nível. Tenho qualidade. Fazendo um bom campeonato aqui, coisas boas vão aparecer. Por isso me preparei, estou me dedicando nos treinos. Fiquei muito tempo parado e isso é ruim, Mas a cada dia que passa estou melhorando, dedicando. Por isso a escolha pelo Uberlândia: pela estrutura, de montar um elenco para chegar às finais. O time não é só o goleiro.