O futebol em Belo Horizonte começou dentro do Parque Municipal. Não havia campo e ninguém estava interessado no esporte. Com o tempo, os políticos perceberam que o povo começou a praticá-lo e deram importância, cedendo terrenos para a construção de campos. Foi assim com os primeiros estádios do Atlético, do Cruzeiro e do América na área central”, explica o jornalista Lucas Souza, que ao lado dos colegas Carlos Oliveira, Ives Teixeira e Gabriel Amorim, desenvolveu o projeto de conclusão de curso Campos Invisíveis, da UFMG, que conta a história dos estádios já demolidos.
Apenas os garotos de famílias mais abastadas tinham acesso ao futebol, como filhos de políticos, magnatas e escritores. Era comum ver herdeiros dos governadores Silviano Brandão e Afonso Pena jogando peladas no centro de BH. Quinze pequenos estádios abrigavam jogos na capital.
Se hoje dividem o Independência, Atlético e América já tiveram campos no passado, ambos na área central. Nas décadas de 1910 e 1920, eram vizinhos na antiga Avenida Paraopeba (atualmente Avenida Augusto de Lima), em terrenos doados pela prefeitura. O do Galo era situado onde hoje está o Minascentro; o do Coelho deu lugar ao Mercado Central a partir de 1929 – foi o palco da goleada de 9 a 2 do alvinegro sobre o Palestra dois anos antes. O Cruzeiro teve seu campo, o Juscelino Kubitschek, onde hoje é sua sede social, no Barro Preto.
Uma testemunha viva dos antigos campos da capital é o advogado e ex-presidente do América Afonso Celso Raso, de 84 anos. Para ele, o mais “simpático” era o da Alameda, construído depois que o Coelho deixou o Mercado Central. Ele pertenceu ao alviverde até a década de 1970 (o espaço abriga atualmente um supermercado). “O Alameda era um estádio muito bom. Cabiam 12 mil pessoas, que faziam muita pressão. Foi um marco para o futebol da capital. A princípio, serviria para sediar os jogos da Copa do Mundo de 1950 em BH, mas depois optaram por construir o Independência”, lembra Afonso.
Depois que deixou a área central, o Atlético migrou para Lourdes. Em 1929, construiu o Estádio Antônio Carlos, que seria sua casa até 1968. Foi o campo onde brilhou o Trio Maldito, composto por Jairo, Said e Mário de Castro, maior ataque alvinegro de todos os tempos. “Além do campo, o Antônio Carlos tinha concentração, dormitórios e salas da diretoria e da administração.
O Juscelino Kubitschek, do Cruzeiro, tinha capacidade para 12 mil pessoas. Foi construído em 1923 e reformado em 1945. Sua última partida foi em 1965. Lá, o clube celeste atuou em 12 de seus 36 títulos mineiros, tendo vários jogadores como destaque, como Ninão e Niginho. Foi completamente demolido em 1985.
OUTROS PALCOS
A trajetória dos palcos que ficaram pelo caminho vai muito além de Galo, Raposa e Coelho. Times que disputaram as edições iniciais do Campeonato Mineiro – antes chamado de Campeonato da Cidade – tiveram pequenos estádios, vários com capacidade inferior a 5 mil. Foi o caso do Sport Club, um dos primeiros de BH (fundado em 1904), que fez suas primeiras partidas no Parque Municipal, mas depois teve um campo onde está a Praça da Estação. O Yale, com fundação em 1910, ganhou um campo com arquibancadas na região central, próximo à Praça Raul Soares – estádio em que pela primeira vez se cobrou ingresso na capital. Também houve o Estádio Eucaliptos, do Renascença, que disputou os Estaduais de 1959 a 1967.
O Prado Mineiro foi outro espaço importante para o futebol mineiro. Inaugurado por volta de 1906 com a presença do governador Francisco Sales e do prefeito Antônio Carlos, foi muitas vezes utilizado para corridas de cavalos, evento que agitava as tardes dos fins de semana.