None

ENTREVISTA

Marcelo Oliveira abre o jogo: Atlético, Cruzeiro, críticas, feitos, polêmicas e futuro

Em conversa com o Estado de Minas/Superesportes, técnico fala sobre vários assuntos polêmicos e revela sua pretensão profissional para o futuro

postado em 09/07/2017 08:00 / atualizado em 10/07/2017 19:07

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
Com dois títulos brasileiros pelo Cruzeiro e uma Copa do Brasil pelo Palmeiras, o técnico Marcelo Oliveira entrou para a galeria dos técnicos mais vencedores do país recentemente. Apesar disso, o mineiro de 62 anos está longe do futebol há sete meses, desde que foi dispensado pelo Atlético antes da finalíssima da Copa do Brasil, contra o Grêmio. Nesse período, teve propostas de clubes, mas não aceitou. Ele não descarta investir no mercado alternativo (Oriente Médio, China ou Japão) ou mesmo voltar a trabalhar no país. “O técnico não se pode dar ao luxo de escolher mercados. Vou trabalhar em algo que me chame a atenção, desperte a chance de fazer algo produtivo”, afirma Marcelo, que revelou ter tido problemas com Dagoberto na Raposa, há três anos, e o afastou do grupo. O treinador também disse não ter mágoas pela demissão no Galo, clube do qual foi ídolo nos anos 1970 e 1980. Na entrevista ao Estado de Minas/Superesportes, o treinador fala sobre as ambições para a continuidade da carreira e conta sobre os bastidores do sucesso no Cruzeiro.

Como estão sendo estes sete meses acompanhando o futebol mais à distância? Como tem sido essa reciclagem e busca por novos conhecimentos?

Tudo o que você faz que pode agregar ao trabalho feito é importante. Uma das formas que penso de reciclar é avaliar o próprio trabalho. Fiz três reuniões com minha comissão técnica para discutir nossos últimos trabalhos, o que foi bom e deu muito certo e o que pode ser melhorado. Essa comissão trabalha comigo há seis anos, quando conquistamos muita coisa. É sempre possível agregar e melhorar o trabalho. Vejo e analiso muitos jogos, gosto também de ler. A princípio, tive o interesse de sair do país para fazer cursos. Mas, ou eu fazia um curso curto, que não aproveitasse tanto, seria mais para dizer que eu fiz, ou muito longo, que confrontaria com meus interesses no momento. Precisava de tempo com minha família, para ficar mais em casa e fazer coisas que não vinha fazendo. Esses seis anos foram intensos, com finais de Copa do Brasil, disputa de Brasileiro, campeonatos estaduais e Libertadores. Estava ausente de casa e precisava desse tempo. Mas não voltei por iniciativa própria, porque tive propostas que achei não ser interessantes no momento.

Qual será o Marcelo Oliveira que vai voltar ao mercado? Renovado, com novas visões, ideias, ou o mesmo que teve o auge?

Não terá diferenças substanciais, até porque esses seis últimos anos foram muito bons. Conquistamos seis títulos, fomos a seis finais de Copa do Brasil, sempre trabalhando na ponta com clubes diferentes, Coritiba, Cruzeiro, Palmeiras e finalmente o Atlético. Por tudo o que aconteceu, essa última passagem no Atlético criou uma expectativa imensa em todos para conquistar o título nacional, mas infelizmente não conseguimos por uma série de dificuldades. Mesmo assim, conseguimos o quarto lugar, que valia uma vaga na Libertadores, colocação que o Atlético não tem hoje. E também a decisão da Copa do Brasil. Claro que uma ou outra coisa a gente muda. A postura dos times que treinei sempre foi ofensiva, com times técnicos. Conseguimos isso bem no Coritiba, Cruzeiro e em algum momento no Palmeiras. O time jogava muito para a frente, sendo um dos melhores ataques do país. Em relação à postura profissional, vou seguir sendo honesto, correto, leal, intenso e tratando os jogadores com muito respeito e criando bons ambientes, porque isso é um fator básico para chegar às conquistas.

Depois do trabalho no Palmeiras, a mídia passou a criticá-lo duramente em relação ao esquema tático previsível, à proposta de jogo sempre igual, aos chutões e cruzamentos. Isso te atrapalhou no Atlético e na sua recolocação no mercado?

Seria pouco inteligente da minha parte se eu mudasse a postura em relação aos meus dois trabalhos anteriores. No Coritiba, foram dois anos com um dos melhores ataques do Brasil, jogando com toques, rapidez e envolvimento, sendo um time altamente ofensivo. Tanto é que goleamos todos os clubes que foram a Curitiba nos enfrentar. Posteriormente, no Cruzeiro, éramos considerados um time que atacava muito, que mais finalizava, conquistando título brasileiro de forma antecipada. Então, por que eu mudaria minha postura? Será que enjoei de ser um técnico que faz o time jogar e gosta do futebol bem jogado? Claro que não. Não foi possível fazer da mesma forma, pela característica dos jogadores e pelo número de contusões no Palmeiras e no Atlético. Isso atrapalha muito o trabalho. Nunca você tem a mesma escalação frequente, que gera um entrosamento maior. As críticas têm sido assim mesmo. Não tenho interesse e tempo para ver todas. Não sei se eu tenho debatido com um ou outro comentarista, falado de alguma coisa que não soou bem, que foi assumido ou absorvido por outros colegas. Os trabalhos foram normais. Ninguém consegue resultados em sete meses, num grupo que você não montou, o que é importante. Por isso, os técnicos europeus têm uma cota para investir e buscam os jogadores que querem para montar um grupo e um time. No Brasil, ficamos pouco tempo, rodamos em clubes sem montar elenco, sem escolher faixa etária, característica técnica e física. Tudo isso implica para se conseguir um bom trabalho. Tive quatro propostas de fato e uma especulação. Internacional, São Paulo e Santos especularam meu nome, o que não se concretizou. Também deixei de trabalhar por vontade própria. Não sei o que isso pode significar na avaliação dos dirigentes, que trabalham muito com opinião de imprensa e rede social. De repente, num projeto bom, vou ter condição de mostrar tudo o que fizemos.

Você não tem perfil autoritário. Ser um técnico educado, que conversa, é algo difícil de conciliar no futebol e gera perda de comando?

A característica do treinador é a maior qualidade quando os resultados aparecem. E é o maior defeito quando derrotas acontecem. É a cultura do Brasil. Então, o Marcelo Oliveira, com dois títulos nacionais, é equilibrado, respeita imprensa e torcedor. E o Marcelo, que não fez bom trabalho no Atlético, é muito equilibrado, mas deveria bater de frente e dar soco na mesa. O Felipão foi extraordinário na Copa do Mundo de 2002, criou a família Scolari, mas gritava e cobrava muito. Era incrível. Depois, com as derrotas, ele era estressado. Isso incomoda um pouco. Não sou ator. Poderia fazer diferente, mas sou como sou. Tive um técnico durante cinco anos que foi referência, o Telê Santana, que era correto, honesto e cobrava dos jogadores. Nunca tive problema com jogador, a não ser um ou outro problema de indisciplina que tive de afastar.

Você é o único técnico mineiro a ser bicampeão brasileiro. Isso o coloca em outro patamar na história do Cruzeiro, mesmo sendo ligado ao rival Atlético?

Eu me senti privilegiado por ter chegado com certa resistência no início, pela minha história com o Atlético, e depois ter dado tão certo. E não deu tão certo apenas pela figura do técnico. Foi um conjunto que atuou junto, atletas, diretoria e comissão. É uma honra receber o carinho do torcedor, tanto do Cruzeiro, quanto do Atlético. Isso é difícil num estado com dois clubes de tanta rivalidade. No Brasil, se um clube disputa as primeiras colocações e depois fica fora da Libertadores acaba se transformando numa frustração. Se um técnico disputa as últimas colocações e consegue se livrar do rebaixamento, é um trabalho extraordinário. Os valores são distorcidos. Conquistar dois títulos nacionais e estar marcado na história do Cruzeiro é muito importante.

A dificuldade de gerir um grupo com 30 jogadores é maior que montar um bom time?

As duas situações são difíceis e cabe ao treinador administrá-las. Gestão de grupo é difícil, porque o jogador brasileiro tem dificuldade de lidar com titularidade e suplência. Quando ele vai para a Europa, e todos dizem que é um sonho, ele fica no banco, sai, eventualmente não é convocado ou joga várias partidas. Tudo isso é normal. No Brasil, por mais que a gente conscientize que é um grupo e precisará de todos, alguns ainda se rebelam e criam uma situação ou outra. O jogador hoje é muito protegido pela Lei Pelé, mas nunca tive a intenção de prejudicar ou afastar ninguém. É muito fácil para um técnico colocar um jogador para treinar separado. Mas poucas vezes tive essa atitude para não prejudicar ninguém, até porque fui jogador. Um jogador precisa de mobilização. Você ganha dois jogos e vai atuar contra uma terceira de menor expressão e ele, inconscientemente, se sente confortável, e as coisas não dão certo. Por isso as equipes às vezes atuam em grandes jogos e deixam de jogar em partidas de menor importância. Não é um trabalho só do técnico, é de toda a comissão. Quando há uma diretoria que participa desse processo, é melhor ainda.

Você sentiu a falta de um diretor presente no dia a dia no Atlético?

Em relação às decisões referentes ao time, não. Mas nas decisões gerais, acredito que fez falta. Não era um diretor comum. O Maluf era um profissional experiente, ativo, que estava no dia a dia. Ele fez falta, porque todas as questões ficam muito em cima do técnico. Quando há um diretor mais presente como o Maluf, certamente se filtra muita coisa e o treinador fica empenhado na qualidade do trabalho e na escalação do time.


Você teve duas saídas do Atlético que te magoaram muito. Uma com o Alexandre Kalil e outra com o Daniel Nepomuceno, em meio a uma decisão de Copa do Brasil. Qual o seu sentimento em relação ao clube?

Em relação à demissão, não me decepcionei. Isso é corriqueiro no Brasil e está banalizado. Tem colegas de imprensa que apostam quem vai cair primeiro, brincando com profissionais muito sérios. Recentemente, vimos o Ney Franco saindo do Sport com 13 jogos e apenas um mês de trabalho, e tivemos o Vagner Mancini sair depois de reconstruir um elenco e o time da Chapecoense. Então, está banalizado e faz parte da cultura do futebol brasileiro. No Atlético, não esperava sair da forma que saí, entre um jogo e outro de uma final que chegamos. Na véspera daquele jogo contra o Grêmio, conversando com o presidente, estávamos lembrando de nomes que poderiam reforçar o time em 2017. Mostrei para ele as carências em relação à idade média do time, à zaga. Foi uma surpresa desagradável. Mas não tem mágoa nenhuma, porque sou respeitado pelos torcedores de Atlético e Cruzeiro. E as instituições são muito mais grandiosas do que as pessoas que passam por lá.

Você quer retomar a carreira só em clubes grandes ou admite dar um passo atrás e recomeçar numa equipe de menor expressão?

Esse um passo atrás é muito relativo. Trabalhei num clube que não tinha estrutura que tem um Coritiba, um Goiás, um Sport, que são times de tradição, mas não considerados os primeiros clubes que ganharão o Brasileiro. Trabalharia num projeto de pessoas sérias, já organizado e determinado, independentemente de ser um time grande ou não. Não sei se aceitaria agora, muito próximo do fim do ano. O ideal para um técnico é começar a temporada, formando o seu novo grupo. É fundamental.

Em 2013, você começou um trabalho do zero apostando em jogadores que ainda estavam por estourar no Brasil, casos de Éverton Ribeiro, Nílton e Ricardo Goulart. Por que aquele time deu liga?

Minha contratação ocorreu no fim do ano anterior. A minha comissão técnica se reuniu com o Valdir Barbosa, o Alexandre Mattos, o presidente Gilvan de Pinho Tavares e o Benecy Queiroz e abrimos o elenco que tínhamos, aquele com os quais podíamos contar e de que forma poderíamos modificar. Dei a sugestão de criar um grupo com atletas da base. Os meus auxiliares haviam visto bons jogadores na Taça São Paulo e demos sorte nisso também. Pelo menos cinco deles excepcionais como pessoa e atleta subiram para o time de cima. Buscamos no mercado atletas que se destacaram em clubes de menor expressão e jogadores mais experientes. Alguns já estavam no clube. Foi fundamental começar o trabalho a partir do elenco que tínhamos. No Brasil, poucas vezes se faz isso: um elenco com boa qualidade, um número bom com repertórios diferentes, um lateral que apoia mais, um lateral mais marcador, volantes que saem mais, que marcam mais, jogadores mais técnicos e de velocidade. Felizmente, deu certo.

Como foi a montagem do grupo?

Cheguei com uma lista que havia trabalhado e outros jogadores por meio de observação dos jogos das Séries A e B, e um aspecto pontual foi a questão do Éverton Ribeiro. Iinsisti muito para que este jogador viesse. No dia que estavam reunidos, lembro que o Alexandre ligou para mim dizendo que o Cruzeiro estava pagando R$ 4,5 milhões e me perguntou: “Você acha que ele vai aguentar a camisa do Cruzeiro?”. Eu disse que poderia trazer e que tinha total confiança. Ele deu muito certo, foi um ídolo do clube. Recentemente, o Cruzeiro tentou trazê-lo de volta. Muitos nomes foram sugeridos pelo Alexandre Mattos, como o próprio Goulart, que estava nas duas listas. O Egídio também. Isso foi bom, porque mostra o sentido de observação para os dois lados.

Qual foi a importância e a sintonia com o Alexandre Mattos?

A relação foi extremante saudável e produtiva. A combinação foi boa. É ruim quando um trabalho vai bem e a vaidade aflora. Não aconteceu isso por parte dele ou da comissão técnica. Ele foi importante, porque em algum momento o técnico tem que sair um pouco de uma situação de grupo e entra a figura do dirigente, mostrando sua autoridade. Nesse dois anos e meio de Cruzeiro, tivemos pouquíssimas situações de indisciplinas e problemas mais sérios. O ambiente era bom e a possibilidade de vitórias e conquistas é maior.

Antes de ir para o Atlético, em meados de 2016, o Cruzeiro o procurou e fez uma proposta para retornar, um ano após sua demissão. Você disse que tinha uma proposta de fora e não aceitou. Dias depois, acertou com o Atlético, gerando uma suspeita de que havia um acordo. Você se arrepende de ter tomado essa decisão?

Se gerou alguma suspeita errada, não deveria ter gerado. Comecei há 15 anos e nunca tive nada que desabonasse minha carreira como atleta ou treinador. Nunca me envolvi em nada ilícito. Quando o Cruzeiro me chamou, eu tinha uma conversa bem adiantada para ir para a China, com situação financeira boa e experiência nova. E eu sustentei aquilo. Posteriormente, essas pessoas que estavam negociando me disseram que o negócio estava encaminhado, mas que eles demoram, que não resolvem rapidamente e que era para segurar. Depois veio a proposta do Atlético. Não tinha nada. Não teria problema para falar se tivesse algo.

No Cruzeiro, a diretoria chegou a dizer publicamente que você teve problema específico com dois jogadores. Um foi Dagoberto, que não quis enfrentar a Chapecoense?

Nem deveria entrar nisso, porque o jogador não está mais no Cruzeiro e eu falei para ele. Fomos campeões antecipados e, na semana do jogo contra a Chapecoense, defini que tiraríamos os jogadores mais desgastados e colocaria outros, caso do Dagoberto, que sempre entrava bem, mas não atuava constantemente. Ele disse no departamento médico que estava de férias e que não jogaria mais. Achei aquilo desrespeitoso com o clube e não o levei para jogar contra o Fluminense. Posteriormente, na renovação do contrato, achei que não deveria contar com o jogador. Nunca batemos boca, mas achei que não foi profissional da parte dele, principalmente por ter falado para outras pessoas. Se ele me procurasse, teríamos resolvido de outra forma. Foi uma pena, porque ele estava bem entrosado e todos gostavam dele. Esse foi o episódio que mais me deixou chateado. Não querer jogar, estando bem e alegar uma contusão inexistente foi algo que acabou rompendo a relação.

Na sua saída, o Rafael Carioca, do Atlético, deu uma entrevista dizendo que, a partir daquele momento, as coisas iam mudam no clube. Fez uma crítica dura ao seu trabalho. Como vê isso?

Eu o coloquei no banco, porque achei que deveria colocar dois jogadores com maior poder de marcação. O Atlético tinha Robinho, Fred e Cazares que não marcavam tanto. É natural que um jogador que está acostumado a atuar e não está jogando fale algo nesse sentido. Espero que este ano, organizado, o Atlético possa ter resultados melhores.
Qual é sua ambição na carreira? Toparia encarar outra função no futebol?

Nunca pensei em outra atividade, embora tenha acumulado experiência no futebol em 15 anos no campo, trabalhando com grandes técnicos e quase 15 anos também como técnico. A minha ambição é fazer do próximo trabalho o melhor possível, bem organizado, com ambiente saudável e que gere conquistas. Não traço planos muitos longos, e torço para que eles vão bem e não possam ser interrompidos. Tive oportunidade de sair do Cruzeiro e do Coritiba de forma antecipada e o não fiz. Infelizmente, o técnico é demitido na maioria das vezes.

Você pensa em dar um tempo e não trabalhar no Cruzeiro ou no Atlético neste momento? Pensa em outros mercados, objetivos?

O técnico não se pode dar ao luxo de escolher mercados. Vou trabalhar em algo que me chame a atenção, desperte a chance de fazer algo produtivo. Fui sondado por alguns clubes e alguns eu não queria assumir no momento. Em outros, não daria para fazer bom trabalho. No Sport, fiquei revoltado, porque havia a questão da demissão do Ney Franco e não aceitei por causa disso. Estou aberto a ouvir, analisar e se achar que é bem legal, a gente vai aceitar.

Os técnicos brasileiros sempre tiveram mercado no Oriente Médio, no Japão e mais recentemente na China. São praças que te interessam?

Eu iria, porque seria uma experiência nova. Trabalhar em mercados mais desconhecidos, de que forma agiríamos para impor nosso trabalho e conquistar coisas importantes. No Brasil, dificilmente essa cultura de valorização dos profissionais mudará em tempo curto. A não ser que nós, a classe de treinadores, se una mais. Já existe uma mobilização para isso. A média é de troca a quatro meses e assim fica impossível fazer um trabalho. A não ser que o trabalho gere resultados para que o contrato seja cumprido.

Rogério Ceni, maior ídolo do São Paulo, deixou o clube depois de apenas seis meses. Que análise você faz dessa experiência e da atitude da diretoria do clube?

Lamentei, mas ao mesmo tempo acho que ele poderia ter feito estágios antes de comandar o São Paulo. Poderia dar certo? Poderia. Ele é respeitado, é inteligente e se expressa bem, além de ter respaldo da diretoria e da torcida. Mas infelizmente isso não aconteceu, porque não houve a paciência necessária. A partir do momento que se tomou a decisão de o Rogério Ceni iniciar o trabalho numa grande equipe como o São Paulo, era preciso sustentar o trabalho e o contrato, até porque não poderia ser uma coisa imediata. É lamentável, mas corriqueiro e é assim que funciona.

Vários técnicos da nova geração, que chegaram ao auge no cenário nacional ficaram esquecidos. Teme que isso aconteça com você pelas críticas recentes?

Fui auxiliar fixo do Atlético durante um tempo e trabalhei com o Tite, que foi dispensado quando o time não estava em boa situação. Mas o trabalho foi bom. A experiência foi importante. É uma coisa que acontece com todos. Alguns técnicos valorizados hoje, como o Fábio Carille e o Jair Ventura, passam pela base, fazem ótimos trabalhos e nenhum tem um grupo excepcional como talvez sejam os de Palmeiras e Flamengo. Ambos têm um time consistente, mas serão questionados quando suas equipes tiverem oscilações. E tomara que possam lidar bem com essas situações. Em algum momento, fui criticado no Cruzeiro porque o time ganhou por 1 a 0, empatou um jogo difícil por 1 a 1, porque se acostumou a goleadas. Não dá para temer nada. Não temo nada. Não temo trabalhar num grande clube ou trabalhar num clube de menor expressão. Temos não ter saúde para trabalhar.

Como tem sido a relação com os torcedores de Cruzeiro e Atlético nesse período fora do futebol?

Vou em todos os lugares. A minha vida é absolutamente normal. Faço compras, vou ao mercado, vou ao banco e me sinto orgulhoso de ser cumprimentado sempre e fazer fotos. Recebo muitas palavras de apoio do cruzeirense e do atleticano. Em nenhum momento, alguém veio com palavras agressivas. Isso já é uma recompensa, uma gratificação imensa para um profissional.

Hoje há uma valorização exagerada de jogadores jovens, que ainda não foram devidamente preparados, como o Vinícius Júnior (Flamengo) e o David Neres e o Luiz Araújo (São Paulo). É um risco para o futebol?

Eu vejo lamentando muito, com muita tristeza. É um dos problemas sérios do nosso futebol. Não formamos tantos excepcionais jogadores, como nos anos anteriores. Mas ainda se formam grandes jogadores na base. Infelizmente, quando eles se destacam, acabam saindo e desmancham os grandes times. Imagina o Cruzeiro mantendo o terceiro ano com o mesmo time de 2014? Certamente poderia ter um sucesso grande, porque o time já era entrosado e conhecido por todos. Os destaques são vendidos, mas talvez não seja culpa apenas de dirigentes ou treinadores. O jogador quer sair para ganhar mais, o empresário quer receber sua parte, o clube tem suas obrigações de ganhar dinheiro. Assim, o Brasil perde seus principais valores desde cedo. Em contrapartida, aqueles que não encontram mercado lá fora voltam para cá. Infelizmente, nosso campeonato não inclui os melhores jogadores.

Qual a crítica que mais te doeu?

Não tenho problemas com críticas. Não tenho que avaliar o que as pessoas falam. O que me incomoda são as inverdades. Alguém de São Paulo [o comentarista e ex-jogador Edmundo] falou que eu era preguiçoso. Não quis ficar debatendo. Como pode um técnico preguiçoso trabalhar no Coritiba e depois ter duas propostas para voltar? Um técnico que trabalhou no Cruzeiro e ter proposta no ano passado? Trabalhei no Atlético 10 anos e tive proposta para voltar, tanto é que trabalhei novamente. Tem a crítica construtiva, que é técnica e tem fundamento. Mas tem a crítica que é bairrismo, de aqueles que estão com a camisa por baixo, e tem a de interesse pessoal.

A rede social destrói um trabalho?

Com o advento da internet, qualquer pessoa pode postar o que quiser. Na verdade, pode. Mas depende da postura dos profissionais. Pode dizer que exista dirigentes que acompanham muito a rede social e ele encontrará de tudo ali. Cabe a cada um avaliar o que achar melhor.

Tags: porondeanda marcelooliveira nacional seriea cruzeiroec atleticomg