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JOGADA PIONEIRA

Um golaço mineiro

Juiz de Fora promoveu partidas de futebol antes que a bola rolasse com Charles Miller

postado em 15/06/2015 08:32 / atualizado em 15/06/2015 08:58

Arquivo Granberry

Eduardo Murta/Enviado especial

Juiz de Fora – O livro de capa marrom e bordas vermelhas guarda bem mais que as notas e os nomes dos alunos matriculados no Colégio Granbery, de Juiz de Fora, entre 1890 e 1894. Com letras bordadas, está ali a senha capaz de fazer um corte vertical na história do futebol no Brasil: antes que o emblemático Charles Miller desse o pontapé inicial para aquela que é considerada a primeira partida no país, em 14 de abril de 1895, a bola já havia rolado na cidade da Zona da Mata mineira.

Num sábado de 1893, dia 24 de junho, dois times formados por estudantes se enfrentaram no campo da escola metodista. A atividade, a caminho de completar 122 anos, está registrada no diário do então reitor, o norte-americano John McPhearson Lander, que tratou também de publicar anúncio um dia antes no jornal O Pharol. “Inaugurou foot-ball and tennis. O primeiro field day realizou-se em 24 de junho de 1893, com saltos, corridas, indianclubs, tennis, foot-ball entre gregos e troianos”, indica Lander com sua escrita mesclando português e inglês.

A documentação está no Arquivo Histórico do Granbery, um casarão adquirido em 1906, que fica ao lado do complexo onde a instituição já foi dona de quase tudo. Parte dos muitos terrenos foi vendida, enquanto o que foi erguido a partir de 1903, uma construção imponente, segue por lá. No quarteirão vizinho, a área que recebeu um dos primeiros jogos de futebol no Brasil (há precursores no interior de São Paulo e Rio de Janeiro) também está de pé, mas desde o início do século passado o campo da Rua do Comércio, 85 (hoje Batista de Oliveira), teve sua posição alterada, como num giro de 90 graus, como permanece atualmente.



Em meio ao cenário em que os casarões se misturam a prédios, o coordenador do Arquivo Histórico, Ernesto Giudice Filho, oscila entre o orgulho diante da documentação e o temor quanto à preservação do acervo, do qual não há microfilmagem.

A presença de Juiz de Fora como referência neste caso do esporte não é casual. A cidade, que naquela época tinha população próxima de 18 mil habitantes, era um polo econômico, com posição geográfica privilegiada, e representava o maior centro comercial da região cafeeira em Minas Gerais. Impulsionada pela novidade da geração de energia elétrica, acabou atraindo empresas e, com elas, trabalhadores de fora, incluindo colônias estrangeiras.

Mary, uma das filhas de Lander que nasceu no Brasil e posteriormente se mudou para os Estados Unidos com a família, em 1984 fez questão de visitar a escola que o reitor implantou. Deixou na Casa do Granberyense um bilhete que, dentro de alguns anos, talvez seja incorporado aos registros históricos. Sem rodeios, invoca, em inglês, o pioneirismo do pai: “Nota sobre o primeiro jogo de futebol em 1894 (93): Meu pai introduziu o futebol depois de ver uma partida na Inglaterra, em 1893. Ele trouxe uma bola, um livro de regras e introduziu o jogo no Brasil”. Eis uma instigante provocação aos historiadores.

Sua excelência, a bola

Arquivo Granberry
• Feita em couro, a bola de futebol mais antiga do mundo foi encontrada no Castelo de Stirling, na Escócia, e seria dos anos 1540, como relatado no diário da rainha Maria

• No Brasil, as primeiras marcas vieram da Inglaterra (Shoot), Alemanha (Fussball) e França (Dupont), no fim do século 19. As primeiras nacionais teriam sido fabricadas artesanalmente em São Paulo e em Petrópolis

• Em couro cru, tinham uma abertura aparente, selada por um cadarço, por onde era inserida a câmara inflável de borracha

• Ainda que tenham incorporado as costuras internas nos anos 1940, faltava impermeabilidade, e as bolas encharcadas eram um adversário extra em dias de chuva

• Mesmo mantida a produção em couro nos anos 1960 e 1970, a impermeabilização é definitivamente incorporada

• O uso de materiais sintéticos se transforma na vedete dos anos 1980

• A aplicação de materiais como o poliuretano ajuda a tornar as bolas mais leves nos anos 90. A partir daí, a evolução ganhou mais conceito estético que material, especialmente nas Copas

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