Belo-horizontino da gema, como ele faz questão de dizer, nascido e criado no tradicional Bairro Santa Tereza (Região Leste da capital), e quase economista, não fosse a desistência do curso em 1981, Ricardo Drubscky se deparou com mais um desafio profissional pela frente. Aos 51 anos, ele, que já foi auxiliar técnico, preparador físico, gestor de futebol e, até domingo passado, técnico do Tupi – levando o clube de Juiz de Fora ao título da Série D do Brasileiro de 2011 e ascensão para a C –, surpreendentemente fez as malas rumo à industrializada Volta Redonda (RJ).
Na bagagem, carrega dois objetivos que põe na cota do senso de oportunidade: ter maior visibilidade no mercado e incomodar adversários maiores, como Flamengo, Botafogo, Fluminense e Vasco, à frente do Voltaço, no Campeonato Carioca do próximo ano. A equipe, embora não tenha se saído bem no Brasileiro desse ano – foi eliminada pelo Tupi no jogo de volta das oitavas de final, por 4 a 2 –, vai jogar no Grupo B da competição estadual e oferece melhor infraestrutura, nas palavras do treinador. “Reconheço que não será fácil, mas tudo isso faz parte da minha missão, que é melhorar, qualificar e organizar o futebol brasileiro taticamente”, enumera Drubscky, não apenas como técnico, mas como professor de técnicos.
Há dois anos e meio coordenador do curso de treinadores da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), o ex-comandante do Galo Carijó de Juiz de Fora afirma, prega e alerta que o futebol brasileiro está sem sincronismo, vivendo em torno de atletas que não sabem o que é tática de jogo coletivo. Falta de organização que, em sua avaliação, pode ser facilmente explicada e resolvida com o aprendizado dentro de campo. “Quem é meu aluno há 10 anos sabe muito bem que prego tática. Ao contrário do que muitos entendedores do futebol dizem, não é robotizar o esporte. Estudo o assunto diariamente, seja pelo lado do treinamento, seja na psicologia e filosofia do futebol. Também já escrevi um livro em que faço uma alusão ao comportamento brasileiro de desrespeito tático”, diz, se referindo à obra O Universo tático do futebol - Escola brasileira, publicada pela editora Health. O plano de Drubscky é lançar uma segunda edição em 2012.
Trabalhar com jovens atletas é outro orgulho do treinador, pai do estudante de direito Lucas, 21 anos, da adolescente Luísa, de 17, e de Raíssa, de 8. “Me considero um professor de futebol, um profissional na acepção da palavra. Adoro trabalhar com a juventude. Absorvo muito mais deles do que eles de mim”, garante.
INCENTIVO Filho caçula de uma família de nove irmãos – entre eles Aloísio Drubscky, que trabalhou como repórter na Rádio Guarani e TV Alterosa, dos Diários Associados – ele conta com o incentivo da mulher, Zulmira, que o apoia diariamente por telefone e sempre que pôde foi a Juiz de Fora assistir aos jogos do Tupi. A atração do técnico pela bola surgiu muitos anos antes, ainda jogando futsal. “Mas eu tinha uma particularidade em relação aos demais jogadores. Sempre fui um estrategista. Desde os 12 anos de idade quis ser treinador”, conta.
Naquela época surgiu outro grande incentivador: Aloísio Beleza, treinador em Santa Tereza que acompanhava Drubscky nas peladas de fim de semana. Quando se graduou em Educação Física na UFMG, em 1983, o jovem treinador já estava no comando do time do curso, disputando campeonatos universitários. Logo em seguida entrou no Venda Nova Esporte Clube, como preparador infantil, “porque era o caminho”, iniciando assim uma carreira multiprofissional marcada por passagens pelo Atlético, América, Cruzeiro, Ipatinga, Villa Nova, Democrata, Monte Azul (de Monte Azul Paulista–SP) e Valério.
LÁ FORA Em 1988 veio a primeira chance de trabalhar num time no exterior – o Universidad Católica de Quito, no Equador, por 10 meses. “Assim que acabou meu compromisso vim embora. Foi uma experiência traumática, pois vi índios (bêbados) sendo mortos nas ruas”, relembra. No Japão, Drubscky teve a oportunidade de estagiar nos primórdios da liga profissional, espécie de competiçãopiloto. Já em Portugal, foi auxiliar técnico e preparador físico no Futebol Clube Penafiel e no Clube Desportivo de Chaves.
UM MÊS DE ATLÉTICO
Um dos maiores desafios de Ricardo Drubscky foi dirigir o time profissional do Atlético. Quando Carlos Alberto Torres caiu, em 1999, o treinador assumiu, mas durou pouco tempo – somente um mês. “Eu era o Telê Santana do interior, as próprias pessoas diziam isso. Mas era novo, inexperiente, e a coisa não arredondou. O Galo também buscava uma identidade. Minha saída foi dramática e, de certa forma, determinante para me afastar do campo por algum tempo”, lamenta Drubscky, que só voltou a comandar um clube, o Monte Azul, em outubro de 2010. Nesse intervalo, atuou no gerenciamento de categorias de base.
Professor tática
Campeão da Série D pelo Galo Carijó de Juiz de Fora, treinador diz que desafio no Voltaço será incomodar grandes do Rio e que não abre mão de requalificar seus times taticamente
postado em 25/11/2011 07:16