A decisão do excelente Luís Castro em trocar o Botafogo que levou à liderança do Brasileirão pelo projeto de propaganda político-futebolística da Arábia Saudita provocou um saudável debate sobre o tempo. Castro falou sobre isso pouco antes de sua saída. Ganhou do Botafogo o tempo que argumenta ser necessário para sustentar trabalhos quando sua cabeça foi pedida pela torcida e por parte da mídia. Mas entendeu que o tempo de sair tinha chegado quando apareceram os petrodólares. Mas e o tempo para o Botafogo, mister? Correu.
Posturas distintas têm mostrado Abel Ferreira e Juan Pablo Vojvoda. Para eles o tempo caminha de forma convergente com Palmeiras e Fortaleza. Assim como ganharam tempo em momentos de turbulência, ambos recusaram propostas de trabalho tentadoras dando mais tempo ao tempo de grandes trabalhos. Senhores de seus tempos.
Mas o tempo, ensina Einstein, é relativo. O tempo de aposentadoria de Felipão era um para o Athletico e foi outro para o Atlético. O tempo de Lisca foi um para o Sport e outro para o Santos. Rogério Ceni teve o tempo que precisou no Fortaleza, disse que daria o tempo de que o clube precisava e quinze dias depois entendeu que era tempo de aceitar o convite do Flamengo. Posteriormente o Flamengo concluiu que tinha dado o tempo de Rogério no Ninho. Assim como fez com Dorival Júnior, ambos campeões, mas que no tempo que entenderam ser o certo para eles deixaram para trás os grandes cearenses que lhes deram oportunidade e tempo.
Há um consenso no futebol sobre a necessidade de tempo para trabalhar. Esse pedido foi encampado como mantra por analistas e torcedores com base numa justa argumentação dos treinadores quando são demitidos em meio a um processo. Mas o tempo que eles reclamam não ter sido dado eles também não oferecem quando um belo cavalo passa selado. Essa figura de linguagem é praxe no mundo do futebol para justificar que não se perde uma oportunidade. Mas nunca lembram que alguém perde nessa oportunidade.
Não se discute o amadorismo dos dirigentes de futebol no Brasil. São oportunistas, não têm convicção, sucumbem a pressões políticas e de torcedores violentos. Salvo honrosas exceções. Mas, pela lógica do passar do tempo na teoria do cavalo selado dos técnicos de futebol, não teriam os cartolas o mesmo direito? “Olha, professor, seu trabalho é ótimo, mas apareceu a oportunidade de contratar um treinador de mais nome, prestígio e que está livre no mercado. Agradecemos sua dedicação, mas você está fora. Não podemos perder tempo”.
Lá, como cá. O mesmo direito.
Por isso, agora não caio mais no mantra politicamente correto de pedir tempo para treinadores cujo trabalho demora a se consolidar. Assim como eles podem administrar seu tempo como querem, os clubes devem ter o mesmo direito, sem discursos.
Treinadores em guerra com a arbitragem
Enquanto isso, a guerra entre treinadores, assistentes e arbitragem segue declarada. João Martins, assistente da espetacular comissão técnica do Palmeiras, concluiu que o sistema não quer que o Verdão seja campeão novamente. Mas nesse “sistema” não é o Palmeiras o maior campeão nacional? O sistema deve ser sempre culpado por gols e pênaltis perdidos? Para Felipão, alguém “lá de dentro” dá ordens para punir Hulk com cartões. Mas se Felipão, que esteve lá dentro em duas Copas do Mundo, comandando a seleção da CBF, sabe de algo, não é tempo de revelar?
Apesar dos exageros, a arbitragem merece, sim, muitas críticas. Pela absurda falta de estrutura do VAR em algumas condições e a estrutural falta de condição de alguns árbitros de interpretar a regra do jogo.
O tempo dirá quem tem razão?
Neste exato momento é o Botafogo.