Um dos estádios que pode ser considerado um grande palco do futebol nacional se tornou um pesadelo para muitas das equipes do Sudeste e Sul, além de virar um constante meme (até antes da popularização da palavra) por ter dimensões que pareciam ser até duas vezes maiores que outros estádios parecidos. No entanto, nos últimos anos, tudo o que se vê por lá é um rastro do que ele já foi.
O estádio em questão é o Serra Dourada, em Goiânia. Construído em 1975 pelo estado de Goiás, o local foi palco para muitas partidas históricas dos principais times da capital: Atlético-GO, Goiás e Vila Nova. Se até o fim da década passada era certeza que os times goianos mandariam pelo menos seus jogos mais importantes, a história mudou nos últimos quatro anos e o local ficou abandonado pelo ponto de vista esportivo.
A reportagem do Superesportes foi até Goiânia conferir o estádio, mas a entrada não foi possível sem um ofício enviado por carta para a Secretaria de Esporte e Lazer do estado. Também é complicado arrumar uma visita guiada, já que os telefones listados como contato necessário tocam, tocam e não são atendidos por ninguém.
Andando em volta do estádio foi possível ver o interior, onde era construído um palco para um evento no gramado. Como contado por locais entrevistados, recentemente o Serra se tornou mais conhecido pelos jovens como palco para shows, algo que também acontece com o Mineirão em Belo Horizonte.
A seca de jogos
O Serra Dourada parou de ser utilizado com frequência para jogos oficiais no fim de 2019. A última partida do período foi a vitória do Goiás sobre o Grêmio, por 3 a 2, no dia 8 de dezembro, pela última rodada do Brasileirão.
Desde então, o estádio foi usado apenas em ocasiões esporádicas. Em 2022, o Atlético-GO mandou as partidas do mata-mata da Copa Sul-Americana no Serra para atender a capacidade mínima exigida pela Conmebol e o Vila Nova recebeu o Fluminense em jogo válido pela terceira fase da Copa do Brasil.
Já em 2023, o único jogo oficial do Serra Dourada até o momento teve como mandante o Goiânia. O Galo Carijó recebeu o Goiás em jogo das quartas de final do Campeonato Goiano e, apesar da derrota por 8 a 3, avaliou o saldo da experiência como positivo, já que arrecadou cerca de R$ 165 mil.
O maior empecilho para o retorno
O grande desafio para o estádio receber jogos da Série A em 2023 é a falta de iluminação adequada de acordo com o regulamento de competições da CBF.
O estádio conta com apenas 850 lux (medida de luminosidade), muito abaixo do padrão de 2500 lux estabelecido pela Fifa e adotado pela CBF em uma medida de 2017.
Em abril deste ano, durante a cerimônia de premiação dos melhores jogadores do Campeonato Goiano, o governador Ronaldo Caiado (União Caiado) anunciou que determinou que a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra) abrisse uma licitação para a reforma da iluminação do estádio para atender aos padrões da CBF, estimada em R$ 11 milhões.
Na oportunidade, o governador deixou claro que o estado deseja que as equipes de Goiânia voltem a jogar no estádio, principalmente seus maiores jogos.
Outra reforma necessária, mas já realizada
Em fevereiro deste ano, Caiado entregou uma reforma dos banheiros do estádio, que não passaram por modernização desde a inauguração do Serra em 1975 e não atendiam quesitos importantes de acessibilidade.
Os 32 banheiros do estádio foram reconstruídos entre maio de 2022 e fevereiro de 2023 de forma intercalada. O investimento foi de R$ 2,7 milhões.
O que diz o Governo de Goiás
O governo do estado de Goiás foi procurado pela reportagem do Superesportes, mas afirmou que só responderia caso recebesse um ofício por correio.
Clubes vão para os estádios menores
Com os problemas no Serra Dourada, os clubes se viram obrigados a usar mais os outros estádios da cidade, espalhados pelo restante da capital.
Antes mesmo dos problemas do Serra, o Vila Nova já tinha adequado o estádio Onésio Brasileiro Alvarenga (OBA), de propriedade do clube, para receber partidas da Série B. Após reformas, o OBA começou a ser usado pelo Tigre em 2016 com capacidade para 11.788 mil torcedores (o número diminuiu para 10 mil nos últimos anos por recomendação do Corpo de Bombeiros).
O Goiás passou a usar o estádio Hailé Pinheiro para partidas nacionais no Brasileirão de 2020. Parte do Complexo da Serrinha, o estádio foi remodelado e expandido na década passada e tem capacidade para receber 13 mil torcedores.
Já o Atlético-GO decidiu usar mais o estádio Antônio Accioly. Após uma reforma que acabou em 2018, o clube já utilizava o Accioly bastante, mas a diretoria decidiu fazer uma remodelação em 2019 para atender as exigências da CBF para estádios da Série A. Hoje o estádio tem capacidade para 12.500 torcedores.
O que os clubes dizem
Os três principais clubes da cidade foram procurados múltiplas vezes pela reportagem do Superesportes, mas apenas o Goiás respondeu as questões.
O presidente executivo do Goiás, Rogério Pinheiro, afirmou que o clube prefere atuar no Hailé Pinheiro por ter controle do ambiente e “oferecer o máximo de qualidade, em relação ao gramado, a iluminação e toda estrutura que temos na nossa casa”.
Pinheiro também explicou que a opção é muito mais rentável, já que o custo operacional é menor, o clube mantém uma porcentagem maior da receita de bilheteria e ainda pode operar os bares, algo que não acontecia no Serra Dourada.
Perguntado se o clube poderia voltar a atuar no estádio Serra Dourado, o presidente executivo foi enfático.
– Já vivemos grandes momentos no Serra Dourada, mas a casa do Goiás Esporte Clube já é hoje e seguirá sendo o Estádio Hailé Pinheiro – disse Pinheiro.
O que dizem os torcedores
Durante a passagem por Goiânia, a reportagem do Superesportes conversou com vários motoristas de aplicativo para tentar entender como os torcedores das principais equipes se sentiam em relação ao Serra Dourada.
– Eu acho que o time [Vila Nova] jogava melhor quando atuava no Serra Dourada. No OBA, a torcida fica muito próxima e pode acabar intimidando os jogadores. Acho que quando o time jogava no Serra Dourada, eles se sentiam um pouco mais tranquilos para desempenhar – afirmou o torcedor do Vila Nova Leoncio.
– É triste porque o Serra era um grande palco do futebol brasileiro e agora os clubes acabam atuando nos seus próprios estádios – lamentou Ronnie, torcedor do Vila Nova.
– Quem é mais jovem só conhece o estádio como palco para shows – disse Wesley, torcedor do São Paulo, apaixonado pelos times dos Mundiais da década de 1990, e simpatizante do Goiás.
– Acho melhor jogar na Serrinha. O Goiás investiu bem e conseguiu montar um estádio que atende muito bem os torcedores, tem um gramado excelente – opinou Paulo, torcedor do Goiás.