Após vários jogadores fecharem acordo com o MP-GO ou serem denunciados pela entidade, o foco passou a ser evitar que mais atletas, principalmente jovens, acabem caindo em possíveis esquemas.
Para entender como os jogadores devem lidar com possíveis propostas, o Superesportes conversou com Sandro Henrique Silva Halfeld Barros, promotor de Justiça e coordenador do Grupo Especial de Atuação em Grandes Eventos do Futebol (GFUT) no Ministério Público de Goiás.
Halfeld foi um dos responsáveis pela investigação da primeira parte da Operação Penalidade Máxima e recentemente deu uma palestra para jogadores das categorias de base do Goiás sobre os perigos que cercam atletas que poderiam receber ofertas.
– Na área criminal, basta só aceitar a promessa. Ou seja, se alguém manda no zap "ô, fulano, preciso que você faça um pênalti, tome um cartão amarelo" e ele responde com um "joinha" já está consumado o crime. Não precisa nem fazer o pênalti ou tomar o cartão amarelo e nem de receber o que de fato foi ofertado – afirmou o promotor.
Um dos grandes pontos de defesa dos atletas durante os julgamentos na esfera esportiva foi afirmar que receber um cartão amarelo não seria importante para alterar o resultado de uma partida, mas o promotor foi categórico ao afirmar que isso não importa de acordo com o Estatuto do Torcedor.
– Muitos atletas até questionam "Foi só um amarelo, só um escanteio". Mas a lei é clara. É qualquer evento que esteja associado ao jogo e altere a aleatoriedade associada ao jogo – disse.
A maioria dos jogadores denunciados pelo MP-GO são enquadrados no artigo 41-C do Estatuto do Torcedor, que é aplicado nos casos de “solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado”.
A punição para os jogadores que forem condenados é de dois a seis anos de prisão e multa.
Sobre a melhor forma de reportar uma possível proposta, Halfeld disse que o jogador deve contar com a ajuda de pessoas próximas, talvez do próprio clube.
– Entendo que ir na polícia pode ser ruim para o atleta. É melhor falar com um empresário ou com uma pessoa do clube. O atleta pode continuar focado na sua atividade e deixa isso para que as pessoas próximas possam ajudar – disse Sandro.
Manipular resultados só parece vantajoso, alerta promotor
Uma denúncia bem feita pode até ajudar a mostrar uma pessoa que não foi investigada ainda, de acordo com o promotor.
– Encaminhar para quem está mais próximo, como a comissão técnica e a diretoria, que aí eles passam para a gente e nós vamos atrás. Nós temos uma base de dados muito grande, então alguém pode ter passado desapercebido pela investigação e isso poderia chamar um holofote para ela – disse.
Durante a palestra aos jogadores da base do Goiás, Halfeld aproveitou para usar o exemplo de jogadores que viu na operação para lembrar aos atletas que na maioria das vezes, a oferta pdoe acabar não compensando, por mais que pareça vantajosa de início.
– Teve jogador que ganhava mil reais por mês e não recebeu a vantagem. Por exemplo, teve um jogador do Vila com salário pequeno e não recebeu a vantagem. E tem jogador que ganha R$ 200 mil que recebeu a vantagem. Não é o salário da pessoa que faz ela aceitar a vantagem, mas sim o caráter dela – conta o promotor.
– Essa pessoa que recebe mil reais e não aceitou a vantagem, essa pessoa tá seguindo a vida dela na paz. Agora, aquele que ganha R$ 200 mil e aceitou, ele tá com a vida dele de cabeça para baixo. E aí, no final das contas, o que mais valeu a pena? Quem aceitou pode viver a vida inteira agora marcado – finaliza Halfeld.