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Racismo: Seneme garante punição a árbitros que não cumprirem protocolo

Presidente da comissão de arbitragem da CBF vê melhora na condução dos casos de discriminação e espera profissionais conscientes para enfrentar atos racistas

17/06/2023 06:00 / atualizado em 16/06/2023 23:18
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Vini Jr tem sido alvo de atos racistas na Espanha
foto: Lucas Figueiredo

Vini Jr tem sido alvo de atos racistas na Espanha

 

Os recentes atos racistas registrados no futebol brasileiro e internacional, sobretudo os direcionados a Vinicius Junior, têm movimentado ações da CBF nas últimas semanas. Em um intervalo de menos de um mês, a entidade lançou uma campanha contra o racismo, marcou um amistoso simbólico com a Espanha e publicou mensagens de apoio ao jogador e repúdio ao crime em mais de uma oportunidade.

Às vésperas do jogo do Brasil deste sábado (17) contra a Guiné, Vini pediu espaço na entrevista coletiva de imprensa, agradeceu pelo suporte recebido e afirmou que seguirá na luta por “todas as pessoas que sofrem e não têm a voz que eu tenho”. O técnico Ramon Menezes saiu em defesa do atleta.

A condução da arbitragem em casos de discriminação, tema amplamente alçado ao debate pela conduta do VAR em Valencia x Real Madrid – posteriormente demitido –, também é preocupação da CBF. É o que garantiu Wilson Seneme, presidente da comissão de arbitragem da entidade, em entrevista ao Superesportes.


O quanto está internalizada a mensagem que a Fifa passou sobre o protocolo em casos de racismo?

Como diz o próprio Infantino, não é nada de novo, né? Os árbitros já têm o conhecimento desse protocolo no Brasil. Estão extremamente preparados para isso já desde o ano passado. É uma preocupação da comissão de arbitragem preparar os árbitros constantemente e alertar toda a equipe de arbitragem. Não só o árbitro central como toda a equipe para estarem alertas e identificarem esses possíveis casos de racismo ou homofobia para que dessa maneira possam iniciar o protocolo.

O caso entre Altos-PI e Ypiranga-RS, em que o jogo foi paralisado e o torcedor retirado do estádio, serve de modelo para que esse recado seja passado aos árbitros no país?

 

 

O que ocorreu nesse jogo realmente foi um exemplo positivo. Não só para os árbitros, ao iniciar o protocolo, mas também das dos outros segmentos, das autoridades, seja o policiamento, seja a organização das federações, da própria CBF, os departamentos, que, num trabalho em conjunto, podem agregar muito mais ao combate a esse tipo de crime. Porque nós devemos considerar isso um crime.

 

 

 

Realmente foi um marco (Altos-PI x Ypiranga-RS) e serve, sim, como um bom exemplo a ser seguido por todos os árbitros, independentemente da categoria em que eles apitem.

 

Orientações são reforçadas periodicamente, diz Seneme 



A comissão de arbitragem tem realizado reuniões e palestras para reforçar essas orientações ou há o entendimento de que os árbitros estão conscientes sobre como lidar com o problema?

Como o registro das capacitações constantes que a gente faz, palestras, o marco desse ano foram as pré-temporadas. Nós realizamos pré-temporadas com vários grupos, mais de 300 árbitros de maneira presencial, e o restante do grupo, de aproximadamente outros 300, foram capacitados de maneira virtual.

 

Esse foi o start que fizemos em relação a esse protocolo e a essa preocupação com o racismo e a homofobia. Após esses casos que vem ocorrendo mundo afora, nós reforçamos semanalmente nas reuniões prévias às rodadas, reforçamos essa atenção que os árbitros devem estar constantemente atentos, para que possam tomar as medidas cabíveis a eles em caso de ocorrência desses fatos.



Esta mesma orientação está internalizada em relação a outras formas de discriminação, como os casos de homofobia? Que avaliação você faz neste caso?

Tudo o que é instrução, principalmente essas de peso, algo realmente que abala e que comove as pessoas do bem, estamos atentos e esperamos que os árbitros cumpram. E é óbvio que, caso não não se cumpra, principalmente se conseguiu observar e deixou de cumprir com o seu papel, que o árbitro vai sofrer sanções em relação a isso.

Mas, no final das contas, a gente espera que os árbitros sejam realmente conscientes do seu papel e apliquem isso sem nenhuma margem de dúvida ou de incerteza, para que possam realmente fazer justiça aí no que tange a arbitragem.



Ao assumir a comissão, você falou em resgatar a credibilidade da arbitragem brasileira. Como a contundência dos profissionais para lidar com o racismo e outras formas de discriminação pode colaborar neste sentido?

É uma das nossas metas o resgate da credibilidade. Acredito que isso já tem ocorrido, temos um ano de 2023 muito melhor do que 2022. Realmente a arbitragem vem demonstrando uma melhora tanto na disciplina quanto na parte técnica e física.

E também passa por isso (condução de casos de discriminação): nós tivemos já alguns casos de racismo e homofobia em estádios onde os árbitros abriram o protocolo e realizaram as ações que deveriam. A gente espera realmente que, com isso, a categoria de árbitros possa, além de resgatar cada vez mais sua credibilidade, promover maior justiça, colocando esses criminosos onde devem estar.

 

 


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