
Jorge Luís, presidente da Mancha, afirmou que tem mantido conversas com outros líderes de organizadas e que eles decidiram que já é hora de buscar a paz
Uma série de áudios, textos e postagens atribuídos ao Primeiro Comando da Capital (PCC) tomou conta das redes sociais e grupos de WhatsApp de torcidas organizadas de São Paulo nesta quarta-feira (15) e levou torcedores a propor o fim das brigas no futebol paulista.
Nos áudios, torcedores relatam reuniões nas quais integrantes do PCC teriam ordenado o fim da violência no futebol, motivados pela briga entre Mancha Verde e Gaviões da Fiel há uma semana.
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Procurados, a Polícia Civil, o Ministério Público e as lideranças das organizadas não confirmaram a ordem do PCC. Jorge Luís, o presidente da Mancha Verde, negou enfaticamente qualquer contato com a organização.
Mas a mera possibilidade da ordem do PCC ser verdadeira já provocou medo em muitos torcedores. Eles agora têm a certeza de que não haverá episódios de violência entre as torcidas paulistas ao menos nas próximas semanas.
Corinthians e Palmeiras se enfrentam nesta quinta-feira (16) em Itaquera pelo Campeonato Paulista. O jogo terá torcida única, como ocorre nos clássicos paulistas desde 2016.
O que dizem os torcedores que temem o PCC
Em áudios e textos encaminhados com frequência no WhatsApp das torcidas, pessoas não identificadas relatam uma série de reuniões desde a última sexta-feira (11) entre líderes de torcida e membros do PCC.
Nessas reuniões, a organização, chamada de "partido", teria demonstrado sua irritação com a última briga entre Mancha e Gaviões e ordenado o fim da violência no futebol paulista, já que um dos envolvidos na confusão seria também integrante do PCC.
O PCC é conhecido por dar "salves", ordens que devem ser seguidas por seus membros e mesmo por pessoas de fora da organização. De acordo com um dos áudios, se houver brigas de torcida enquanto o "salve" estiver em vigor, o líder que permitir a violência será punido com morte.
Presidente nega ordem e diz que torcida quer paz
Em entrevista ao UOL, Jorge Luís, presidente da Mancha há dois anos, afirmou que tem mantido conversas com outros líderes de organizadas e que eles decidiram que já é hora de buscar a paz. Ele classificou como boato a suposta ordem do PCC. Veja o que ele disse:
"Nossa diretoria, entre nós mesmo, se reuniu na nossa sede. Conversamos e estamos pregando a nossos associados que não vamos admitir cenas de selvageria em campo de futebol."
"É um trabalho que a gente iniciou na Mancha e não teve ordem de ninguém."
"Não houve ninguém abaixo de mim, nem vice, nem diretor, nem liderança de bairro, ninguém conversou com crime organizado."
Nessa quarta, a Mancha, a Torcida Jovem, do Santos, e a Independente, do São Paulo, publicaram notas oficiais proibindo seus membros de se envolverem em confusões. Procuradas a Jovem e a Gaviões, preferiram não se pronunciar.
Já a torcida tricolor postou em seu Instagram: "Em reunião entre nossos líderes, diretoria e conselho, foi determinado que não serão tolerados atos de violência ou covardia entre os integrantes das torcidas. ACABARAM AS BRIGAS, sendo passível de punição e exclusão do quadros de associado".
Afinal, o PCC deu a ordem?
É difícil responder a essa pergunta com certeza. Maior organização criminosa do país, o PCC tem integrantes nas periferias das grandes cidades e em muitas organizações populares, como escolas de samba e torcidas organizadas. É plausível que nas brigas de torcida eventualmente estejam envolvidos membros do PCC.
O grupo também dá ordens frequentes a seus membros, os populares "salves". A polícia e o Ministério Público costumam identificar os "salves" quando eles partem de dentro das cadeias, mas nesse caso as autoridades parecem não ter captado nenhuma mensagem diretamente às torcidas.
O delegado Cesar Saad, que investiga as agressões da semana passada, afirmou que irá apurar se os áudios e textos trocados ontem são verdadeiros. Um membro do Ministério Público afirmou que o órgão não recebeu informações oficiais sobre a suposta ordem do PCC, mas que irá investigar o assunto. Até agora, nenhuma prisão foi feita.
A reportagem conversou com dezenas de torcedores, lideranças e pessoas que conhecem a dinâmica das torcidas paulistas nesta quarta-feira. Um torcedor com décadas de experiência em uma das torcidas resumiu o caso assim: " Se essa história do PCC é verdade ou não, é difícil saber. Mas o que é verdade é o efeito que a história está tendo sobre as torcidas. Quem vai brigar agora? Ninguém vai se arriscar a desafiar uma 'ordem do PCC'."