Koosha Delshad comandou o Comercial-PI por apenas um jogo. O treinador iraniano sofreu ataques xenófobos e renunciou ao cargo. O caso ocorreu na última quarta-feira (1º), um dia depois do anúncio do técnico.
"Não acredito que um treinador que assuma um clube na zona de rebaixamento, que não pontua, não marca gols, com apenas dois dias de treinos faça milagre; nem que ele mereça xingamentos preconceituosos e xenofóbicos", afirmou Delshad.
Ainda assim, ele se diz surpreso pelo apoio e minimiza as ofensas:
"Brasileiros são incríveis, essas poucas pessoas, menos de dez, não representam esse povo querido. Depois disso, meus amigos e colegas me apoiaram muito. Estou chocado com tamanho carinho", disse à reportagem.
Delshad também conta que, em quase dez anos no Brasil, não havia identificado ofensas xenófobas antes. "Algumas você percebe como brincadeiras, mas quando xingam e falam que você é terrorista é diferente", comenta.
Caso de xenofobia
O profissional foi anunciado em 31 de janeiro. No dia seguinte, comandou o Comercial-PI contra o River-PI, pela sexta rodada do campeonato estadual, em Campo Maior, cidade sede do time, a 84km da capital Teresina. A partida terminou 4 a 0 para os visitantes. Ainda antes do apito inicial, gritos de "treinador terrorista" eram proferidos atrás do banco de reservas.
Além das ofensas, o treinador criticou o ambiente do clube. Segundo ele, três jogadores se recusaram a entrar no estádio no dia da partida: "Mesmo tendo conhecimento da situação do clube, da falta de equipamentos necessários, assumi a parte técnica, mas percebi que eu não estava em clube profissional e sim em uma escolinha de futebol". A motivação para a atitude dos atletas, segundo o presidente do Comercial-PI, João da Silva Neto, tem a ver com rixas no elenco e não se relaciona ao técnico.
Quem é Koosha Delshad
Ele vive no Brasil desde 2014. Em 2022, o iraniano tirou a licença A da CBF, o que lhe permite comandar equipes da elite do futebol brasileiro. Agora, Delshad já retornou a São Paulo, onde mora desde a chegada no país, e analisa duas propostas -uma do Fernandópolis, clube do interior de São Paulo que vai disputar a Segunda Divisão, e outra de Sergipe. No currículo, o iraniano já atuou como auxiliar técnico e treinador de equipes de base no Paraná, Santa Catarina e São Paulo
"Quero falar com torcedores que, desde o aquecimento começaram a xingar, se vocês não gostam que eu esteja aí, ao menos gostem do clube. Eu estava lá para ajudar o futebol da cidade, um clube tradicional que está vivendo uma situação anormal, mas percebi que não existe uma determinação por esse objetivo. Tomara que um dia isso acabe no país do futebol", desabafou.
O lado do Comercial-PI
O Comercial-PI tinha uma parceria com a JK Sports, empresa gaúcha responsável pela contratação de jogadores. Em nota publicada nas redes sociais, o clube repudiou os atos dos torcedores e afirmou que o comportamento foi "incomum". "Apesar do resultado negativo, nada justifica tais atitudes", diz um trecho do texto. O clube também afirma que rompeu a parceria com a JK Sports.
À reportagem, o presidente Silva Neto evitou falar diretamente sobre o caso de xenofobia. Quanto aos atletas que se recusaram a jogar, ele disse que "se deu por conta do clima entre jogadores, com limite já passando". O dirigente espera quatro reforços para o restante da competição.
O Comercial-PI está na zona de rebaixamento do campeonato estadual. Só não é lanterna da competição porque o Ferroviário-PI desistiu do torneio, o que deu seis pontos a todos os outros clubes -os únicos do Comercial-PI.
Faltam seis rodadas para o fim da primeira fase. O primeiro clube fora do Z-2 é o Corisabbá, com 11 pontos. O Comercial-PI volta a campo neste domingo (12) contra o Fluminense-PI fora de casa.