Pelé foi o craque da Copa do Mundo de 1970, conquistada pelo Brasil
Uma das memórias mais remotas que tenho sobre futebol é relacionada à Copa do Mundo de 1998. Lembro-me bem da vitória do Brasil por 3 a 2 sobre a Dinamarca, nas quartas de final; do triunfo nos pênaltis diante da Holanda, na semifinal; e da derrota por 3 a 0 para a anfitriã França, na decisão. Eu era um garotinho de 5 anos que começava a gostar do esporte por influência de um tio. Minha frustração deu lugar à alegria em 2002, quando aos 9 anos, um pouco mais entendido de bola, vibrei com as atuações decisivas de Rivaldo e Ronaldo na caminhada rumo ao penta em cima da Alemanha no Japão.
Quando eu nasci, em 1992, Pelé tinha 52 anos e estava aposentado desde 1977, época em que vestiu a camisa do New York Cosmos, dos Estados Unidos. Não tive a sorte de assisti-lo ao vivo, porém ouvi relatos encantados de pessoas mais velhas, como meu pai, meu tio e meu padrinho - os três acima dos 60 anos -, além de ex-jogadores e colegas de imprensa na mesma faixa etária. E felizmente a televisão e a internet me permitiram ver gols, dribles, arrancadas, assistências e jogos completos do Rei do Futebol, que morreu nessa quinta-feira (29/12), aos 82 anos, após um ano de luta contra um câncer no cólon.
Se os brasileiros reverenciam Messi, Cristiano Ronaldo, Mbappé e tantos craques estrangeiros é porque nasceram em um país que estabeleceu o futebol como identidade nacional. Essa tradição só foi consolidada por causa da genialidade de Pelé. Com apenas 17 anos, ele marcou seis gols na Copa do Mundo de 1958, na Suécia, a primeira conquistada pelo Brasil. Em 1970, aos 29, liderou a seleção no tricampeonato, no México, em um elenco recheado de grandes nomes: Gerson, Tostão, Jairzinho, Rivellino, Clodoaldo, Carlos Alberto e outros. Ainda integrou o escrete vencedor em 1962, no Chile.
Pelé foi o cara que arrastou milhares de pessoas aos estádios e proporcionou milhões em dinheiro. Que fez do Santos um dos clubes com o maior número de torcedores da época. Que sintonizou físico e técnico, força e precisão, velocidade e habilidade, complexidade e simplicidade. Que fez justiça ao título de "Atleta do Século" em um período no qual ciências como medicina, fisiologia e fisioterapia não eram tão avançadas como hoje. O Rei ainda demonstrou ser bom de negócios, tendo sabedoria para gerir a fortuna em meio aos comuns casos de falência de grandes esportistas. Um homem à frente de seu tempo.
Já parou para pensar no nosso hipotético futebol sem Pelé como referência? Poderíamos ser hoje uma espécie de Holanda, que sempre montou boas seleções, porém “bateu na trave” em Copas e não foi além de três segundos lugares. Ou talvez uma Hungria, vice-campeã em 1938 e 1954, “desaparecida” do cenário mundial a partir de 1970. Gostaríamos da bola com gomos pretos e brancos? Creio que sim, mas não sei se com o mesmo fervor e intensidade.
O filme "Pelé Eterno", lançado em 2004, conta toda a trajetória de vida de Edson Arantes do Nascimento, com direito a depoimentos de familiares, amigos de infância, companheiros dos tempos de Santos e Seleção Brasileira e adversários. E, claro, não poderiam faltar vídeos de vários dos 1.283 gols. O repertório contempla jogadas de todos os tipos: chutes de pé direito, pé esquerdo, cobrança de falta, pênalti, cabeça, bicicleta, voleio, 'matada' no peito, 'caneta' e chapéu.
Pelé na Copa de 1958, na Suécia, a primeira conquistada pelo Brasil - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé e Didi em 1958 - foto: O Cruzeiro/Arquivo EMPelé e Didi na Copa do Mundo de 1958 - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé na Copa de 1958, na Suécia, a primeira conquistada pelo Brasil - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressGotemburgo - Pelé ao lados das crianças suecas que o visitam na concentração da Seleção Brasileira - foto: Luiz Carlos Barreto/O Cruzeiro/Arquivo EM.Gotemburgo - Pelé ao lados das crianças suecas que o visitam na concentração da Seleção Brasileira - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressLance do gol de Pelé contra o Pais de Gales, pelas quartas de final. Pelé ganha do marcador na corrida e da entrada da área marca seu primeiro gol em Copas - foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 05/07/1958Brasil x País de Gales, pelas quartas de final: Seleção venceu por 1 a 0. No detalhe, Pelé contra os adversários. - foto: Arquivo Estado de Minas/D.A Press - 19/06/1958Lance do gol de Pele contra o País de Gales, pelas quartas de final. Pelé vence o marcador na corrida e da entrada da área dispara um chute mortal. - foto: Luiz Carlos Barreto/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas/D.A Press - 05/07/1958O jogador de futebol da Seleção Brasileira Pelé num lance do jogo válido pela Copa do Mundo de 1958 - foto: Arquivo O Cruzeiro/EMLance do gol de Pelé contra o País de Gales, pelas quartas de ifnal. O goleiro adversário vê a bola no fundo das redes após chute de Pelé da entrada da área. - foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 05/07/1958Brasil x França: gol de Pelé - foto: rquivo/O Cruzeiro/EM/D.A Press - 07/07/1958Brasil x França: na foto, Pelé em ação - foto: Arquivo/O Cruzeiro/EM/D.A Press - 07/07/1958Brasil x França: gol de Pelé - foto: Henry Ballot/O Cruzeiro/EM/D.A Press - 07/07/1958Partida final contra a Suécia pela final da Copa de 1958. Da esquerda para a direita: Didi, Garrincha, Pele, Djalma Santos, Zagalo, Zito, Nilton Santos, Orlando, Vava Gilmar e Bellini. - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressLance do jogo entre Brasil X Suécia pela final da Copa. O Brasil venceu por 5 a 2, ficando com o título. No detalhe, Pelé comemora o quarto gol, marcado por Zagallo - foto: Luiz Carlos Barreto/O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas/D.A Press - 14/07/1958 O jogador de futebol da Seleção Brasileira, Pelé, num lance do jogo contra a Seleção da Suécia, realizado em Estocolmo, válido pela Copa do Mundo de 1958. O Brasil sagrou-se campeão da Copa - foto: 29/06/1958. Arquivo O Cruzeiro/EMPelé na Copa de 1958, na Suécia, a primeira conquistada pelo Brasil - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé na Copa de 1958, na Suécia, a primeira conquistada pelo Brasil - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé em lance do jogo contra a Suécia na final da Copa de 1958 - foto: 29/06/1958. Credito: O Cruzeiro/Arquivo EM29/06/1958 - O jogador de futebol da Seleção Brasileira Pelé num lance do jogo contra a Suécia, realizado em Estocolmo, válido pela final da Copa do Mundo de 1958. O Brasil sagrou-se campeão da Copa - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressO Brasil venceu a Suécia na final por 5 a 2 e conquistou o título. No detalhe, os campeões De Sordi, Didi, Zito, Orlando, Garrincha, Pelé, Nilton Santos, Belini, Gilmar, Vavá e Zagallo - foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas/D.A Press - 1958Lance do jogo entre Brasil e Suécia, pela final da Copa. O Brasil venceu por 5 a 2 e conquistou o título. No detalhe, Pelé chora nos braços de Nilton Santos. - foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas/D.A Press - 12/07/1958Pelé e Garrincha comemoram a conquista do Campeonato Mundial de 1958 na Suécia - foto: O Cruzeiro/Arquivo EM. SueciaPelé chora no ombro de Gilmar e é acarinhado por Djalma Santos. O Brasil sagrou-se campeão da Copa do Mundo de 1958, realizada na Suécia - foto: Arquivo Estado de Minas-12/07/1958Integrantes da delegação brasileira de futebol comemoram a conquista da Copa do Mundo, realizada na Suécia, vendo-se os jogadores, Bellini (c) segurando a taçaa Jules Rimet, Pelé, Djalma Santos, Didi, Zagallo, Garrincha, Vavá, Zito, Nilton Santos, Zózimo, Mauro, o técnico Vicente Feola, entre outros - foto: Arquivo O Cruzeiro/EM/D.A Press - 1958Pelé observando a Taca Jules Rimet no Rio de Janeiro após a conquista da Copa de 1958 - foto: O Cruzeiro/Arquivo EM. BrasilPelé com a Taca Jules Rimet no Rio de Janeiro após a conquista da Copa de 1958 - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé recebe os cumprimentos do vice-presidente da Republica, Joao Goulart, pela conquista da Copa do Mundo de 1958 - foto: Douglas Alexandre/O Cruzeiro/Arquivo EM O "Saci" da Panair no colo do jogador de Pelé, que lhe dá de beber na Taça Jules Rimet. A Panair do Brasil ofertou a delegação brasileira um grande boneco trajando o uniforme dos jogadores brasileiros. Acabou como o "Saci" da turma. - foto: Henry Ballot/O Cruzeiro/Arquivo EMPelé é condecorado com a medalha de ouro pela filha do presidente da Republica (Juscelino Kubitschek), Marcia Kubitschek, em palanque montado em frente ao Palácio do Catete, no Rio, após a conquista da Copa de 1958 - foto: Douglas Alexandre/O Cruzeiro/Arquivo EMPelé recebe do governador de São Paulo, Janio Quadros, a medalha de ouro pela conquista da Copa do Mundo de 1958 - foto: George Torok/O Cruzeiro/Arquivo EM
Há quase duas semanas, em 18 de dezembro, acompanhei um extraordinário Lionel Messi conduzir a Argentina ao terceiro título da Copa do Mundo. O craque de 35 anos, autor de 793 gols oficiais, é o melhor futebolista que vi jogar. Só que deixei transparecer os meus 30 anos no início do texto e não sou digno de contestar a sapiência de quem passou a apreciar o futebol tendo a chance de estar perante o mineiro nascido em Três Corações em 23 de outubro de 1940.
A existência de Pelé mudou o conceito do esporte no Brasil e eternizou o uso da camisa de número 10 para o craque. Saímos de uma nação amargurada pelo revés para o Uruguai no quadrangular final da Copa de 1950, em um Maracanã com 200 mil pessoas, e chegamos ao patamar de "País do Futebol" graças às portas abertas pelo Rei. A partir do legado do filho de Dondinho e Celeste surgiram outros gênios por aqui, como Zico, Romário, Bebeto, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Neymar.
Hoje somos apaixonados por ver a bola correndo de pé em pé em um pedaço de grama de pouco mais de 7 mil metros quadrados. Ficamos vidrados em acompanhar desde jogos de estaduais a mata-matas de Copa Libertadores ou Liga dos Campeões. Também não dispensamos partidas da Copa do Mundo, seja Tunísia x Austrália, pela fase de grupos, ou Argentina x França, na final. E gostamos de desfrutar de um futebolzinho com os amigos nos momentos de folga e lazer. Tudo isso por causa do senhor Edson que sai de cena, mas deixa Pelé para sempre na história. Obrigado por nos proporcionar esse amor, Rei!
Pelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, a segunda conquistada pelo Brasil. O jogador de futebol da Seleção Brasileira num lance do jogo entre Brasil e México - foto: Henry Ballot/O Cruzeiro/EM/D.A PressPelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, a segunda conquistada pelo Brasil. O Rei num lance do jogo entre Brasil e México - foto: Mario de Moraes/O Cruzeiro/EM/D.A Press.Pelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, a segunda conquistada pelo Brasil. O Rei num lance do jogo entre Brasil e México - foto: Jorge Audi/O Cruzeiro/EM/D.A Press30/05/1962 - Pelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, a segunda conquistada pelo Brasil. O Rei no jogo contra o México - foto: Arquivo EM/O CruzeiroPelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, a segunda conquistada pelo Brasil. Na foto, o Rei comemora gol no jogo entre Brasil e México - foto: Ronaldo Moraes/O Cruzeiro/EM/D.A PressPelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, a segunda conquistada pelo Brasil. Lance do jogo entre Brasil e Tchecoslováquia, válido pela final do torneio. O Brasil conquista o bicampeonato mundial. No detalhe. Pelé e Zagallo duelam com os tchecos.
- foto: Ronaldo Moraes/O Cruzeiro/EM/D.A Press - 1962Pelé na Copa do Mundo de 1962, no Chile, a segunda conquistada pelo Brasil. Na foto, o Rei ao lado de Garrincha - foto: George Torok/O Cruzeiro/Arquivo EM.
Pelé na Copa do Mundo de 1970, no México, conquistada pelo Brasil. Seleção chegou ao tricampeonato mundial. Na foto, o Rei toca violão - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressLance do jogo de futebol entre Brasil e Peru, válido pela Copa do Mundo de 1970 - foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de MinasJogadores da Seleção Brasileira de 1970 posam para fotografia oficial. De pé, da esquerda para direita: Joel, Carlos Alberto Torres, Felix, Zé Maria, Baldocchi, Fontana, Piazza, Brito, Everaldo, Clodoaldo, Marco Antonio e Ado; Agachados: Edu, Mario Américo (massagista), Jairzinho, Gerson, Paulo Cesar, Dario, Tostão, Pelé, Rivelino e Nocaute Jack (massagista). - foto: Estado de Minas/ArquivoOs jogadores da Seleção Brasileira posam para fotografia oficial (quadro), no Estádio Azteca, antes da partida final contra a Itália. O Brasil foi tricampeão mundial de 1970. Na foto, Carlos Alberto, Piazza, Brito, Jairzinho, Gerson, Tostão, Pelé, Rivelino e outros. - foto: O Cruzeiro/Arquivo Estado de Minas - 24/09/1970Pelé na Copa do Mundo de 1970, no México, conquistada pelo Brasil. Seleção chegou ao tricampeonato mundial - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé comemora gol sobre a Itália na final da Copa do Mundo de 1970 - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé na Copa do Mundo de 1970, no México, conquistada pelo Brasil. Seleção chegou ao tricampeonato mundial. Na foto, ele comemora gol ao lado de Tostão e Jairzinho - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé sendo carregado por torcedores que comemoram a conquista da Copa do Mundo de 1970 no Estádio Azteca. Seleção venceu a Itália por 4 a 1 na decisão - foto: O Cruzeiro/EM/D.A Press - 30/06/1970 Pelé sendo carregado por torcedores que comemoram a conquista da Copa do Mundo de 1970 no Estádio Azteca. Seleção venceu a Itália por 4 a 1 na decisão - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé sendo carregado por torcedores que comemoram a conquista da Copa do Mundo de 1970 no Estádio Azteca. Seleção venceu a Itália por 4 a 1 na decisão - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPressPelé com o presidente de República, Emilio Garrastazu Médici. Os jogadores da Seleção foram homenageados pela conquista da Copa do Mundo - foto: O Cruzeiro/Arquivo EM 30/08/1970 - Jogadores da Seleção Brasileira recebem Volkswagen Fusca como prêmio pela conquista da Copa do Mundo de 1970. O prefeito de São Paulo, Paulo Maluf (c), com Pelé e Carlos Alberto Torres - foto: Arquivo O Cruzeiro/EM 30/08/1970 - Jogadores da Seleção Brasileira recebem Volkswagen Fusca como prêmio pela conquista da Copa do Mundo de 1970. Na foto, Pelé - foto: Arquivo Estado de Minas/O Cruzeiro/EM/DAPress