Dois dias depois do polêmico anúncio e em meio a uma condenação quase unânime, os planos para se criar uma Superliga com gigantes do futebol europeu desmoronaram nesta quarta-feira (21/04).
Os seis times ingleses que iriam participar da Superliga desistiram do projeto na terça-feira. Nesta quarta, foi a vez de Inter de Milão, da Itália, e Atlético de Madrid, da Espanha, abandonarem o projeto.
Com isso, sobraram apenas Barcelona, Real Madrid, Juventus e Milan.
Mas o presidente da Juventus, Andrea Agnelli, admitiu nesta quarta que o projeto da Superliga não deve prosseguir.
"Para ser franco e honesto, não, evidentemente esse não é o caso", disse Agnelli, ao ser perguntado sobre a continuidade do projeto.
"Continuo convencido da beleza daquele projeto, do valor que teria desenvolvido para a pirâmide, da criação da melhor competição do mundo, mas evidentemente não. Não acho que esse projeto ainda esteja em pé."
O presidente da Juventus era um dos artífices da proposta e virou alvo da Uefa, entidade que regula o futebol europeu. O presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, chamou Agnelli de "cobra e mentiroso" na segunda-feira, dia seguinte ao anúncio dos planos da Superliga.
No domingo (18), Agnelli renunciou ao cargo de presidente da Associação de Clubes Europeus e se recusou a receber ligações de Ceferin.
Ao anunciar a sua saída do projeto da Superliga, o Atlético de Madrid disse que "a harmonia é essencial" entre o clube e a torcida, e acrescentou que a equipe titular e o técnico Diego Simeone apoiaram a decisão porque "o mérito esportivo deve prevalecer sobre qualquer outro critério".
No seu comunicado, a Inter de Milão afirmou estar "empenhado em oferecer aos torcedores a melhor experiência futebolística", acrescentando: "Nosso compromisso com todas as partes interessadas para melhorar a indústria do futebol nunca mudará".
Ingleses foram os primeiros
Na terça-feira (20), o Manchester City foi o primeiro a deixar o torneio, e logo depois os outros cinco ingleses (Manchester United, Liverpool, Arsenal, Tottenham e Chelsea) decidiram fazer o mesmo.
"O Manchester City confirma que iniciou formalmente o procedimento de retirada do grupo que desenvolve planos para a Superliga de futebol", afirmou o clube, confirmando a informação que havia sido antecipada pela BBC.
O Arsenal pediu desculpas e admitiu ter cometido um "erro".
O Manchester United disse em um comunicado que ouviu "atentamente a reação dos torcedores, do governo britânico e de outros parceiros" na decisão de se retirar.
O presidente do Tottenham, Daniel Levy, disse que o clube lamenta "a ansiedade e o desconforto" causados %u200B%u200Bpela proposta.
O dono do Liverpool, o americano John W. Henry, pediu desculpas aos torcedores do clube. Ele assumiu a responsabilidade exclusiva pela "imagem negativa desnecessária", dizendo: "Eu os decepcionei. O projeto apresentado nunca iria resistir sem o apoio dos torcedores".
Os jogadores do Liverpool, uma das 12 equipes, expressaram em comunicado conjunto que não gostam da ideia e que esperam que a Superliga não vingue.
Os seis times ingleses formavam metade do grupo de 12 grandes clubes europeus que propuseram formar a liga própria, gerando uma onda de indignação generalizada.
Na terça-feira (20/04), a torcida do Chelsea se manifestou contra a presença da equipe londrina no projeto do campeonato.
Após o anúncio da saída do City, a Federação Inglesa de Futebol (FA) comemorou "a boa notícia de que alguns clubes decidiram abandonar os planos" para uma nova liga que "ameaça toda a estrutura do futebol".
"Foi uma proposta cujo design poderia ter dividido nosso jogo, mas ao invés disso o unificou", disse a FA em um comunicado.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, elogiou a decisão dos clubes ingleses. "Eles fizeram a coisa absolutamente certa."
Florentino Pérez, presidente do Real Madrid — um dos clubes que liderou a iniciativa — disse no domingo que a Superliga nasceu "para salvar o futebol" porque, segundo ele, os jovens já não se interessam mais pelo jogo. Um dos motivos seria a existência de "muitos jogos de baixa qualidade" nos campeonatos atuais, algo que a Superliga mudaria.
Após a desistência dos ingleses, a Superliga chegou a divulgar um comunicado no qual afirmava que estaria avançando com a proposta, com algumas modificações. Mas na quarta-feira, o presidente da Juventus admitiu que o projeto desmoronou.
Não está claro se será fácil para os clubes se desvincular dos contratos que eles já haviam firmado.
Como tudo começou
No domingo (18/04), os clubes anunciaram a decisão de criar sua própria Superliga, diferente da Liga dos Campeões da Europa. Com isso, eles se distanciariam da Uefa, o órgão dirigente do futebol europeu que organiza a Liga dos Campeões.
Uefa, FIFA (a federação mundial), ligas nacionais, clubes, torcedores e governos manifestaram fortemente seu descontentamento com esta iniciativa, que vai contra os interesses de clubes médios e pequenos.
O presidente da Uefa, Aleksander Ceferin, disse na terça-feira que estava muito satisfeito com a decisão das equipes inglesas de desistir do projeto.
"Eles mostraram inteligência ao ouvir as muitas vozes, especialmente dos seus próprios torcedores, que realçaram os benefícios vitais que o sistema atual traz para todo o futebol europeu".
"O importante agora é (...) reconstruir a unidade que o esporte desfrutava antes e seguirmos em frente juntos."
As ligas chegaram a ameaçar os grandes clubes de expulsão da Uefa e da Fifa. Os jogadores que participassem da Superliga poderiam ser excluídos das suas seleções e, inclusive, da Copa do Mundo.
Pressão
Antes da desistência de Inter de Milão e Atlético de Madri, a Superliga, em nota dos seus membros que restaram, havia dito que os clubes ingleses foram pressionados a abandonar o projeto, reiterando a intenção de seguir em frente com o plano.
"A Superliga Europeia está convencida de que o status quo do futebol europeu precisa mudar. Propomos uma nova competição porque o sistema atual não funciona", afirmava a organização em seu texto de terça-feira.
"Devido às circunstâncias atuais, devemos considerar os passos mais adequados para reformular o projeto, sempre tendo em mente o nosso objetivo de proporcionar aos torcedores a melhor experiência possível e, ao mesmo tempo, impulsionar os pagamentos solidários para toda a comunidade do futebol."
Agora, com mais times saindo do barco, o projeto parece ter afundado de vez.
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