Futebol Internacional

Copa Libertadores é prioridade de clubes, mas ainda frustra pelo retorno financeiro

Enquanto Estaduais se tornaram rentáveis, torneio continental é alvo de críticas

Thiago Madureira

Premiação não foi reajustada e Conmebol pagará ao campeão apenas US$ 5,3 milhões
O prestígio da Copa Libertadores é inquestionável. Sonho dos torcedores, a conquista do maior torneio das Américas é o grande objetivo dos clubes do continente. A despeito da sua importância, o valor das premiações ainda é desvalorizado – o campeão fatura, entre premiações e direitos de TV, US$ 5,3 milhões (o valor continua o mesmo do ano passado cerca de R$ 14,7 milhões). A baixa remuneração incomoda a cada ano os clubes brasileiros, que, em alguns casos, chegam a ganhar mais disputando os Estaduais.


Os grandes de São Paulo, por exemplo, só em direitos de transmissão e placas de publicidade recebem R$ 14, 5 milhões por participação no Campeonato Paulista. Em Minas Gerais, Cruzeiro e Atlético faturam, em caso de título, quase 10 milhões, somando patrocínios, direitos de TV e bônus com patrocinadores.

Pouco influentes na Conmebol, os clubes brasileiros se queixam da falta de representatividade dos dirigentes brasileiros na entidade. Segundo eles, falta interlocução e abertura para negociação. Hoje, Marco Pólo Del Nero, eleito presidente da Confederação Brasileira de Futebol, é membro do Comitê Executivo da Conmebol.

“O valor das cotas é baixíssimo. Penso que os clubes brasileiros têm que se unir. Enquanto as equipes brasileiras não falarem ‘por essa cota não jogamos, estamos fora’ não evolui”, observa o diretor de futebol do Atlético, Eduardo Maluf. “A Conmebol não dá satisfação, os clubes não conhecem as negociações, não sabem os valores que giram dentro da entidade, fica difícil”, acrescenta.

Enquanto os torneios brasileiros conseguiram evoluir economicamente, crescendo as cotas para os clubes, as competições da Conmebol pararam no tempo, avalia o dirigente atleticano. “Os estaduais ficaram bons financeiramente. Tempos atrás o Mineiro não pagava nada. Hoje o Atlético ganha quase R$ 800 mil, mais renda de bilheteria, mais placa por jogo como mandante. A Libertadores não acompanhou, não evoluiu”, explicou.

O diretor comercial do Cruzeiro, Robson Pires, faz as contas. Segundo ele, o Campeonato Mineiro pode, inclusive, ser mais vantajoso financeiramente. “No Estadual, os clubes recebem um valor fixo e ganham bônus em caso de conquista. No total, essa quantia só é superada se o clube chegar em fases mais agudas da Libertadores. Nessas etapas o valor de cota sobe”, explica. “Não tenho dúvida de que o valor recebido na Libertadores tinha que ser mais substancial, mas falta uma evolução nessa área comercial na Conmebol”, acredita.

Na fase de grupos da maior competição do continente, os clubes receberão 900 mil dólares pelas três partidas em casa da primeira fase. Nas oitavas de final, são 550 mil dólares. Já nas quartas de final, os clubes serão contemplados com 650 mil dólares. A vaga nas semifinais vale 700 mil dólares. Em caso de título, bônus de 2 milhões e 300 mil dólares – o vice fica com 1 milhão de dólares.

A cota é relativa apenas aos jogos como mandante. Em partidas como visitante, o clube nada recebe e ainda tem que arcar com deslocamento e hospedagem.

A Libertadores se torna mais atrativa financeiramente quando se leva em conta a bilheteria. Por ser o torneio preferido dos torcedores, os estádios sempre estão com bons públicos. Os bilhetes costumam ser mais caros. Sem falar no ganho com sócios que se motivam a se associar para não ficar de fora dos jogos do torneio. Com presença na Libertadores em 2014 e 2015 e boas campanhas em outros torneios, o Cruzeiro se tornou o quinto clube com mais sócios do Brasil: mais de 68 mil.

O Atlético também tira proveito da bilheteria no torneio continental. Apenas na decisão da Libertadores 2013, por exemplo, o Galo faturou R$ 14.176.146,00. No Estadual, as rendas são altas apenas nos grandes clássicos. “Na Libertadores, teremos o Independência sempre cheio. Vendemos quase todos os ingressos porque é uma atração para o torcedor. Já no Mineiro a bilheteria é muito fraca. Existe uma disparidade enorme”, afirma Maluf.

A comparação entre a Libertadores e a Liga dos Campeões chega a ser abissal. O Real Madrid, campeão da Uefa em 2014, faturou R$ 112 milhões – embora, claro, a economia europeia seja mais robusta que a sul-americana.