Futebol Internacional

Comemoração de gerações

Carolina Lenoir

Ao som de muiñeira e jota, ritmos tocados pelo trio de gaiteiros Aires do Monte, a comunidade espanhola em Belo Horizonte comemorou o título da Eurocopa como se estivesse em casa. Na sede campestre do Grêmio Espanhol, no Bairro Braúnas, os cerca de 5 mil cidadãos com passaporte espanhol que vivem em Minas Gerais foram representados por torcedores de diferentes gerações e histórias.


Cautelosos antes do início da partida, espanhóis e descendentes confiavam na vitória, mas apostavam em um jogo acirrado, com um ou dois gols de diferença no máximo. A goleada por 4 a 0 estava muito além do melhor cenário imaginado por eles.
O madrileno Fernando de Castro Ramirez, de 81 anos, está no Brasil desde 1959, mas a sua fala é como a de um recém-chegado. “O sotaque nasceu comigo e vou levá-lo para o lado de lá”, brinca. Trouxe consigo o amor pelo esporte e faz questão de acompanhar os representantes espanhóis no futebol, no basquete e no tênis. Em tantos anos, está acompanhando a melhor fase da Fúria, mas se orgulha do time por motivos que vão além dos títulos conquistados. “A seleção sempre foi montada com base no Barcelona e no Real Madrid, times rivais, mas com jogadores muito companheiros e unidos. É bonito de ver.”

O estudante de sistemas de informação Lucas Ricoy, de 19, teve motivo duplo para celebrar. No mesmo dia da conquista da Eurocopa, ele foi eleito presidente da Associação Mineira de Jovens Espanhóis e Descendentes (AMJED). Descendente de espanhóis e com pais naturalizados, ele tem percebido sua torcida pender cada vez mais para o lado dos seus antepassados. “Torço mais para a Espanha do que para o Brasil pela equipe mesmo, pelo futebol apresentado. Tem me dado mais alegrias”, confessa, certo de que mais pessoas gostariam de ter esse poder de escolha.

Já o coração da terapeuta ocupacional Letícia Sanz Grugel, de 26, quase não tem espaço para dúvida. Filha de espanhol, ela morou 18 anos na terra do pai e se considera tão espanhola quanto ele. “Acompanho o campeonato de lá, não o daqui. Faz parte da minha identidade”, diz a torcedora do Barcelona. Para o cônsul honorário da Espanha em Belo Horizonte, Cláudio Alvarez Lourenço, essa sensação é experimentada por boa parte da comunidade que faz do grêmio um ponto de encontro. “Quem ouve as histórias dos mais velhos, que são cheias de superação, especialmente no pós-guerra, nutre um amor e um carinho pelo país que se reflete nesses momentos.”

De fininho

O currículo recente da Seleção Espanhola – primeira colocada no ranking da Fifa e atual campeã do mundo – deve ter assustado a torcida italiana. Nas ruas de Belo Horizonte, mesmo na Região Centro-Sul, com uma concentração de bares que transmitiram a final da Eurocopa, não foi possível avistar bandeiras ou camisas da Azzurra entre as poucas pessoas que decidiram acompanhar o jogo fora de casa – e os que estavam “à paisana” saíram de fininho quando a goleada começou a se desenhar.