O retorno de um ídolo costuma ser muito festejado. Não foi diferente quando Marcelo anunciou que voltaria ao Fluminense após 17 anos na Europa. Em sua apresentação, o Maracanã teve público de jogo, festa e show do rapper tricolor Filipe Ret. Em cima do palco, o presidente Mário Bittencourt apresentou o jogador de 35 anos à sua "nova família". Quatro meses depois, entretanto, ele ainda não está tão em casa assim.
No estádio, Marcelo foi recebido por lideranças do elenco e do clube, como o diretor de planejamento Fred e o auxiliar Marcão, seus ex-companheiros. Sua camisa tricolor foi entregue pelos filhos Enzo e Liam, acompanhados por Lorenzo e Henrico, filhos de Cano e Ganso, respectivamente. Uma tentativa de receber o jogador na "família Fluminense".
Embora tenha rapidamente arrebatado os corações dos torcedores com uma atuação de gala na final em que o Fluminense conquistou o bicampeonato carioca com uma goleada de 4 a 1 sobre o arquirrival Flamengo, internamente, Marcelo ainda não fala a mesma língua que jogadores e funcionários do clube.
Se em campo a liderança técnica se impõe, do CT Carlos Castilho às Laranjeiras, somam-se insatisfações com o jeito introspectivo do jogador. Não há, entretanto, um problema explícito de relacionamento individual com algum atleta, funcionário ou integrante da diretoria.
Entre os jogadores mais importantes do clube, apenas o volante Alexsander é mais próximo do lateral. O jogador costuma passar mais tempo com jovens de Xerém, principalmente os menos utilizados pelo técnico Fernando Diniz, do que com o restante do elenco e seus principais jogadores.
O lateral-esquerdo, que marcou um golaço na decisão do Estadual, não foi às comemorações do título com o elenco e os empregados do Flu. Tampouco esteve presente em outras confraternizações dos atletas, que são muito unidos, seja no próprio centro de treinamentos ou fora do trabalho.
Descrito como um "cara na dele" pelas 16 pessoas ouvidas pela reportagem do Superesportes, Marcelo começou bem, mas acumulou ausências, lesões e reclamações fora de campo quando a fase piorou.
Desde que os resultados pararam de chegar, a pressão externa aumentou e interna também. Assim, o lateral-esquerdo passou a viver relação tumultuada com elenco e funcionários. Ele foi chamado de "popstar" por muitas das pessoas do dia a dia do clube.
Até aqui, ele ainda não se integrou completamente à "família Fluminense", um ambiente de elenco e funcionários que é elogiado até por rivais.
Procurados pela reportagem, Fluminense e Marcelo não se pronunciaram até o texto ser publicado. O espaço está aberto para a posição de ambos e a matéria será atualizada caso haja alguma resposta.
Desde que os resultados pararam de chegar, a pressão externa aumentou e interna também. Assim, o lateral-esquerdo passou a viver relação tumultuada com elenco e funcionários. Ele foi chamado de "popstar" por muitas das pessoas do dia a dia do clube.
Até aqui, ele ainda não se integrou completamente à "família Fluminense", um ambiente de elenco e funcionários que é elogiado até por rivais.
Procurados pela reportagem, Fluminense e Marcelo não se pronunciaram até o texto ser publicado. O espaço está aberto para a posição de ambos e a matéria será atualizada caso haja alguma resposta.
Bom início e brilho em decisão
Marcelo não poderia ter tido um início melhor no Fluminense. Em seu primeiro jogo, deu um passe genial que desafogou o time que estreava na Libertadores fora de casa -- e venceu de virada o Sporting Cristal, em Lima, no Peru.
Depois, uma atuação histórica na decisão do Carioca contra o Flamengo. Muito além do gol, comandou a equipe com passes, jogadas plásticas e uma liderança técnica que deu esperança de que o Tricolor teria um jogador que poderia resolver qualquer jogo.
Ainda no campo, chorou copiosamente e levantou a torcida vibrando pela conquista. O lateral-esquerdo encantava e se encantava com seu retorno ao Fluminense.
Ainda no campo, chorou copiosamente e levantou a torcida vibrando pela conquista. O lateral-esquerdo encantava e se encantava com seu retorno ao Fluminense.
No dia seguinte ao título, no CT Carlos Castilho, ele confidenciou em conversa com dirigentes, funcionários e jogadores que se divertiu como nunca naquela final. O jogo ficará marcado para sempre em sua história e na do Fluminense. Marcelo já está eternizado na parede da sala de troféus das Laranjeiras.
Segurança e fisioterapeuta particulares no CT
Com um "estafe próprio" no CT, o jogador chega todos os dias para treinar acompanhado de um segurança particular, pedido que fez ao clube ao voltar a morar no Rio de Janeiro.
Seguimos trabalhando %uD83D%uDCAA%uD83C%uDFFE%u26BD%uFE0F pic.twitter.com/TQPoPi3Vh3
%u2014 Marcelotwelve (@MarceloM12) March 16, 2023
Quando encerra seus treinamentos, é tratado por um fisioterapeuta individual, que veio da Espanha com o jogador e também foi autorizado pela diretoria a utilizar as instalações do clube.
Embora tenha recusado pedidos similares no pasado, o Tricolor concordou em ceder aos pedidos do camisa 12 pelo diálogo aberto com a diretoria e o peso que ele possui no futebol. A relação, entretanto, causa olhares tortos e ciúmes no clube.
'Esquema especial' de jogos
No Fluminense, Marcelo teria um esquema de treinamentos e jogos específico, assim como Paulo Henrique Ganso e Felipe Melo. Todos os departamentos estavam cientes de que, em função do tempo que passou fora do país e também de sua idade, um período de adaptação seria necessário.
Assim que chegou, entretanto, bem fisicamente e motivado, o lateral fez bons jogos, foi decisivo na final do Carioca e deu esperanças. Depois, passou a conviver com dores. Treinando muito mais no Brasil do que no restante de sua carreira, bem como com mais jogos no calendário, ele precisou ser preservado.
Internamente, por tudo o que envolve o dia a dia, Marcelo é visto com um comportamento de "estrela". Ele fica a par dos principais jogadores e da maior parte do elenco, sendo próximo apenas de jogadores que acabaram de subir de Xerém, encantados com o ídolo.
Ausência no Fla-Flu decisivo
Depois que Marcelo sentiu dores na panturrilha, o Fluminense criou um cronograma para tê-lo no Fla-Flu decisivo pela Copa do Brasil. O jogador conseguiu cumprir uma parte significativa do caminho, mas as dores lhe tiraram do jogo.
No dia anterior ao clássico, ele não treinou com o grupo, mas foi ao campo com atletas que faziam transição física. Uma situação, entretanto, incomodou alguns funcionários.
Marcelo costuma pedir aos fotógrafos que lhe mandem imagens do treino para compartilhar em suas redes sociais. Naquele dia, entretanto, havia expectativa: se treinasse, o lateral jogaria o Fla-Flu. Mesmo depois de se reunir com Fernando Diniz e deixar claro que não suportava as dores na panturrilha, e portanto, não teria condições de jogo, ele requisitou as imagens.
O departamento de futebol negou os envios naquele momento para não gerar interpretações equivocadas, contrariando o jogador. No dia seguinte, Marcelo não jogou. Ao ler nas redes sociais que teria "pipocado", o lateral-esquerdo cobrou profissionais do departamento médico e do futebol.
Dores, frustração e reclamação
No início de maio, uma reunião entre o departamento médico e a comissão técnica foi realizada para definir alguns pontos de planejamento. Àquela altura, o Flu tinha os mesmos 9 pontos na Libertadores após golear o River Plate por 5 a 1 e vivia grande momento. Seguindo seus métodos, o técnico Fernando Diniz decidiu poupar jogadores o mínimo possível. O comandante e o elenco costumam seguir o lema "Sem sacrifício não há vitória".
Marcelo, então, entrou em campo na vitória por 2 a 0 sobre o Cuiabá, quando teve atuação discreta. No jogo seguinte, um empate sem gols com o Flamengo pela Copa do Brasil, o lateral-esquerdo foi substituído ainda no primeiro tempo.
As dores que já o incomodavam por algumas semanas retornaram e aumentaram. Frustrado, o jogador chegou a tecer críticas a funcionários do departamento médico e se queixou ao diretor Paulo Angioni, o que foi apaziguado internamente no CT Carlos Castilho.