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Pioneiro, Cruzeiro celebra 50 anos da Toca I e explica planos para o CT

Raposa fez história ao construir em Belo Horizonte o primeiro espaço exclusivo para treinamento e concentração de jogadores de um clube do Brasil

03/02/2023 05:00 / atualizado em 02/02/2023 14:07
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Imagem da fachada da Toca da Raposa I no ano da inauguração
foto: Arquivo Estado de Minas

Imagem da fachada da Toca da Raposa I no ano da inauguração


"Uma obra de 4 milhões de cruzeiros para fazer inveja aos hotéis mais luxuosos do mundo. Parece tudo, menos a concentração de um time de futebol." Essa foi a descrição feita pelo jornal Estado de Minas, quando da inauguração da Toca da Raposa I, então o pioneiro centro de treinamentos no Brasil, que completa 50 anos nesta sexta-feira (3/2).

Fotos históricas da Toca da Raposa I



Cruzeiro fez história ao construir em Belo Horizonte espaço exclusivo para atividades e concentração de jogadores. Havia, naquele momento no país, locais destinados aos treinos dos clubes, mas nada comparado à estrutura montada pelo clube celeste.

A Toca da Raposa I foi erguida em um terreno de 60 mil metros quadrados na orla da Lagoa da Pampulha. Na época, o CT tinha como infraestrutura campos de futebol, sala de estar, biblioteca, piscina, cinema, capela, espaço médico, salas de fisioterapia, área de videotape, apartamentos, refeitório, vestiário, área de lazer e banheiros, entre outros.

Jornal Estado de Minas noticia a inauguração da Toca I
foto: Estado de Minas/Reprodução

Jornal Estado de Minas noticia a inauguração da Toca I

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A lista de convidados mostrou a importância da inauguração: o então governador de Minas Gerais, Rondon Pacheco, e o então prefeito de Belo Horizonte, Oswaldo Pieruccetti, marcaram presença. Até os presidentes de Atlético, Nelson Campos, e América, Ruy da Costa Val, não se furtaram em participar da festa.

A empolgação era grande naquela época com o vanguardismo do Cruzeiro, como mostra reportagem do EM. "A Toca da Raposa vai atrair tantos turistas quanto o Mineirão. Será admirada tanto quanto a Igrejinha de São Francisco".

De fato, a Toca I se tornou referência no Brasil. Prova disso é que a Seleção Brasileira utilizou as dependências do local na preparação para as Copas do Mundo de 1982 e 1986.

Jornal Estado de Minas detalha a estrutura da Toca I
foto: Estado de Minas/Reprodução

Jornal Estado de Minas detalha a estrutura da Toca I

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Novo processo de profissionalização


O ex-meio-campista Toninho Almeida viveu a transformação no Cruzeiro com a inauguração do centro de treinamentos do clube. Ele chegou à Raposa no fim da década de 1960 para treinar na categoria de base e, em pouco tempo, subiu ao profissional.

Antes da Toca I, os treinamentos do Cruzeiro eram no Barro Preto, onde o clube celeste mantinha o Estádio JK, que já estava decadente e não recebia os jogos da Raposa. A inauguração do CT na Pampulha permitiu um avanço no processo de profissionalização.

"Com a Toca, o Cruzeiro deu um passo muito grande rumo à modernidade. Os locais de treinamentos de todos os clubes eram precários. Lembro que a gente, para fortalecer a perna, subia e descia a arquibancada do Barro Preto, não tinha aparelhagem, que só veio com a inauguração da Toca", disse Toninho Almeida.

Preparação da Seleção Brasileira na Toca da Raposa I para a Copa do Mundo de 1986
foto: Arquivo Estado de Minas

Preparação da Seleção Brasileira na Toca da Raposa I para a Copa do Mundo de 1986



Antes da Toca I, os jogadores da base e os solteiros do time profissional moravam em uma casa alugada pelo Cruzeiro no Centro de Belo Horizonte. Isso mudou com a inauguração do CT.

"Jogadores solteiros moravam na Avenida Amazonas, número 1696, era uma casa que servia de concentração e moradia para infantil, juvenil e aspirante, além dos solteiros da equipe profissional. A gente almoçava e descia para treinar: os profissionais pela manhã, e a base durante a tarde. Com a Toca da Raposa, era tudo em um lugar só, era mais prático e muito mais confortável", relembra.

Grande responsável pela obra


O pioneirismo do Cruzeiro tem nome e sobrenome: Felício Brandi, reconhecido por muitos como o principal presidente da história celeste. Ele dirigiu o clube de 1961 a 1982, conquistando o Campeonato Brasileiro de 1966, a Copa Libertadores de 1976 e 10 Campeonatos Mineiros (1961, 1965, 1966, 1967, 1968, 1969, 1972, 1973, 1974 e 1975).

No fim dos anos 1960, Brandi teve a ideia de construir a Toca da Raposa I. Ele entendia que a Pampulha era o lugar ideal por estar próxima do Mineirão – onde o time celeste mandava suas partidas – e, na época, afastada do movimento do Centro da capital.

"Havia, na Pampulha, o Mineirão, a Igrejinha, o Zoológico de BH e muitos sítios. Não era uma área urbanizada como hoje, era um lugar muito tranquilo e distante do burburinho do Centro. Felício Brandi queria afastar o jogador da agitação, porque naquela época era comum torcedor ir acompanhar o treino, muitos curiosos também", relembra o ex-atacante Evaldo, que atuou na Raposa nas décadas de 1960 e 1970.

Ex-presidente do Cruzeiro Felício Brandi, construtor da Toca da Raposa I, durante visita ao CT em 2000
foto: Arquivo Estado de Minas

Ex-presidente do Cruzeiro Felício Brandi, construtor da Toca da Raposa I, durante visita ao CT em 2000



Existem algumas versões sobre a compra do terreno para construir a Toca I. A mais conhecida delas é que Brandi havia prometido à esposa que compraria um sítio para a família na Pampulha. Ao pesquisar terrenos na região e perceber a excelente localização em relação ao Mineirão, ele entendeu que ali era o local ideal para a construção de um centro de treinamentos para o Cruzeiro.

Evaldo rememora outros detalhes. "O presidente era um italiano de negócios, excelente para fazer acordos. Ele estava procurando um terreno na Pampulha para o Cruzeiro, mas estava com dificuldade de encontrar. Por fim, descobriu uma mulher que havia ficado viúva. Ele ficou atrás dela por muito tempo, tentando convencê-la até conseguir comprar o terreno", conta.

Deixando a modéstia de lado, Felício Brandi já reconheceu publicamente a relevância da sua administração. "Acredito que o Cruzeiro tenha um marco de divisão de duas eras: antes e depois que a gente começou a trabalhar no clube", disse, em entrevista nos anos 1990.

Na inauguração da Toca I, os sócios do Cruzeiro fizeram uma placa exaltando "o trabalho, o talento e a visão" de Brandi. "Ao grande presidente do Cruzeiro Esporte Clube Felício Brandi o reconhecimento e a gratidão da família cruzeirense pela construção dessa magnífica obra".

Em 2020, a Toca da Raposa I foi rebatizada em homenagem ao dirigente: Centro de Formação Felício Brandi. No local, o Cruzeiro descobriu grandes craques, como o próprio Ronaldo Fenômeno, que chegou a treinar por lá no seu início em Belo Horizonte.

Presente e futuro da Toca I


A Toca I começou a perder relevância com o surgimento da Toca da Raposa II, inaugurada em 2002 para receber os treinos do time profissional. Assim, o antigo CT ficou disponível para as categorias de base. 

Com a crise financeira do Cruzeiro nos últimos anos, a Toca I chegou a ter a energia cortada pela Cemig em 2021. Mais grave ainda foram os efeitos em profissionais que trabalham no local, que ficaram vários meses sem receber. Houve greve, e o clima no CT ficou o pior possível.

A venda de 90% das ações da SAF do Cruzeiro incluiu as duas Tocas da Raposa no negócio. Sob o comando de Ronaldo, a Toca II passou por mudanças profundas, sendo totalmente repaginada.

Treino aberto do Cruzeiro na Toca da Raposa I, em 2000
foto: Arquivo Estado de Minas

Treino aberto do Cruzeiro na Toca da Raposa I, em 2000



Por sua vez, o trabalho na Toca I ainda é gradual. O diretor de operação do Cruzeiro, Enrico Ambrogini, explica o processo de reestruturação do espaço. 

"Ao longo dos anos, foram feitas poucas intervenções na Toca da Raposa I, excetuando-se as reformas realizadas por projetos incentivados, na academia e na área médica, na década passada", disse.

Ambrogini detalha melhorias que estão sendo feitas e destaca que a intenção do clube é "gradualmente melhorar todos os aspectos da estrutura da Toca I".

"Buscamos maior qualidade para as pessoas que vivem, trabalham ou treinam no CT. Toda a área estrutural tem passado por melhorias, como a parte elétrica e telhados. Refizemos toda a hotelaria, assim como a reforma dos banheiros." 

Outra preocupação do Cruzeiro é em relação aos campos. "Definimos que a mesma empresa que cuida dos campos da Toca II será responsável pela manutenção dos campos da Toca I. Dessa forma, com os gramados revitalizados, poderemos oferecer mais qualidade para os treinamentos de todas as categorias que utilizam o centro de treinamentos", completou o dirigente celeste. 

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