2

O que esperar do Cruzeiro na temporada de 2023

Após levar a Raposa de volta à Série A após três anos, Ronaldo e a equipe que gere a SAF terão que contornar novos desafios para continuar em ascensão

De volta à elite do Campeonato Brasileiro, Cruzeiro precisará superar desafios diferentes dos enfrentados na temporada em que foi campeão da Série B
foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

De volta à elite do Campeonato Brasileiro, Cruzeiro precisará superar desafios diferentes dos enfrentados na temporada em que foi campeão da Série B

O Cruzeiro inicia 2023 cercado de expectativas positivas em seu segundo ano como SAF, mas ciente dos desafios que tem pela frente. Após o fim do calvário vivido nas últimas três temporadas, com o título da Série B do Campeonato Brasileiro, o clube se prepara para seu grande objetivo: a permanência na elite nacional. 
 

Contratações do Cruzeiro para 2023

 
Apesar do maior poder de investimento disponível, a política de pés no chão instituída pela gestão de Ronaldo ainda prevalece no Cruzeiro. O clube precisa encontrar o equilíbrio ideal para driblar a situação financeira delicada e, ao mesmo tempo, conseguir montar um time que seja competitivo. 
 
"Ficamos felizes com o resultado esportivo. Na área administrativa, demoramos muito para tomar as ações que precisamos, até descobrir realmente o tamanho da dívida. (...) Os próximos anos já serão um pouco mais fáceis. Então, espero a partir do próximo ano ter dias melhores", disse o Fenômeno ainda em dezembro. 
 
Também caberá ao grupo de gestores do Cruzeiro aumentar o número de sócios-torcedores, buscar novas formas de aumentar a receita e melhorar a estrutura física das Tocas da Raposa I e II. O início dos pagamentos previstos no plano de credores também é uma das metas para 2023. 
 

Mudanças no elenco

 
Dentro de campo, o Cruzeiro passou por intensas mudanças no elenco desde que faturou a Segundona. Dezessete jogadores não tiveram seus contratos renovados, foram cedidos ou vendidos pelo clube, enquanto outros 14 permaneceram. Desses, dois têm conversas adiantadas com outros times.
 

Jogadores que não seguirão no Cruzeiro em 2023

  
 
O centroavante Edu recebeu uma proposta do Dibba Fujairah, de Dubai, e deve deixar o time mineiro rumo aos Emirados Árabes Unidos já nos próximos dias. Já seu companheiro de ataque, Rafa Silva está de saída para o Jeonbuk, da Coreia do Sul. A proposta asiática é considerada irrecusável. 
 
Por sua vez, as movimentações do Cruzeiro no mercado também foram grandes. Até o momento, dez atletas já foram apresentados aos torcedores e iniciaram a preparação física sob o comando do técnico Paulo Pezzolano na Toca II, em Belo Horizonte. Apenas a lateral esquerda ainda não foi reforçada.
 
Além deles, mais um será oficializado até a próxima semana. Trata-se do goleiro Anderson, com contrato com o Athletico Paranaense até dia 31 de dezembro. Ele já tem um pré-contrato assinado com o Cruzeiro desde o fim do ano. 
 
Já o volante Agustín Almendra, que pertence ao Boca Juniors, da Argentina, está apalavrado com a Raposa e deve assinar um pré-contrato nos próximos dias.
 

Quem fica no Cruzeiro para 2023

 

Manutenção do programa Sócio 5 Estrelas


Depois de ultrapassar a marca de 71 mil sócios-torcedores, o Cruzeiro fechou 2022 com o programa em queda no número de adesões. Entre o encerramento da temporada, em 6 de novembro, e o fim do ano, a Raposa perdeu quatro mil associados - hoje, tem cerca de 67 mil. 

Em 2023, o grande desafio será garantir que os torcedores que aderiram ao programa ao longo deste ano sigam contribuindo como sócios. No ano passado, o projeto foi impulsionado pelo fator Ronaldo, que comprou 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

De volta à Série A, com patamar de investimento bem distante dos novos adversários, o Cruzeiro precisará ser criativo e extremamente competente para alcançar resultados e garantir ânimo ao torcedor celeste.

Crescimento no campo esportivo


Brigar para retornar aos campeonatos sul-americanos é um dos principais objetivos do Cruzeiro. Em março de 2022, quando apresentou o projeto da SAF para o Conselho Deliberativo, Gabriel Lima, hoje CEO, afirmou que a meta para 2023 era ficar entre os 12 melhores da Série A.

Se alcançar esse objetivo, o clube garantirá vaga na Copa Sul-Americana de 2024. Pensando em caixa, chegar mais longe na Copa do Brasil também é um objetivo da Raposa. 

Em 2022, o Cruzeiro foi eliminado nas oitavas de final pelo Fluminense. Ainda assim, faturou R$ 7,67 milhões com a competição. O campeão, para se ter uma ideia, embolsou R$ 60 milhões.

Devido ao título da Série B, o Cruzeiro iniciará a Copa do Brasil de 2023 já na terceira fase. A equipe celeste é a maior campeã do torneio mata-mata, com seis títulos conquistados (1993, 1996, 2000, 2003, 2017 e 2018). 
 

Busca por novas formas de crescer sua receita


O Cruzeiro precisará encontrar novas formas de receitas a partir de 2023. E esse é, sem dúvidas, um dos maiores objetivos de Ronaldo com a SAF.

Desde que assumiu o comando do Cruzeiro, o Fenômeno já se encontrou com alguns investidores. Inicialmente, existiu uma conversa para venda de parte das ações da SAF. O ex-jogador adquiriu 90% delas em abril de 2022 numa negociação que poderá alcançar R$ 400 milhões.

Um dos encontros, ainda naquele mês, foi com Nicolau Esteves, médico e empresário, fundador da Afya Educacional. Cruzeirense, ele tem fortuna estimada em R$ 4,2 bilhões e estaria interessado em comprar ações da SAF celeste. 

Em agosto passado, de acordo com o colunista Jorge Nicola, do Superesportes, um grupo de investidores também mostrou interesse nas ações. A pedida de Ronaldo teria sido de R$ 110 milhões por 10% das ações.

Principal parceiro comercial do Cruzeiro nos últimos anos, Pedro Lourenço, dono da rede Supermercados BH, confirmou no fim de outubro  que cederá o espaço principal da camisa celeste para um novo patrocínio fechado pelo Fenômeno a partir de 2023. 

"Como ele tem um patrocínio (fechado), o segundo maior do Brasil, que estou sabendo, lógico que abri mão do meu e vou ficar (na parte de) trás da camisa", explicou. 
 
 

Reformas nas Tocas da Raposas I e II


Em grave crise financeira há muitos anos, o Cruzeiro investiu o dinheiro que não tinha para formar times vencedores, mas não investiu na infraestrutura das Tocas da Raposa I e II

Desde que assumiu a gestão do futebol, a equipe comandada por Ronaldo já realizou pequenas obras nos dois centros de treinamentos. Contudo, ainda há necessidade de intervenções muito maiores.

Em junho, durante uma live transmitida por seu canal na Twitch, o Fenômeno apontou que a Toca da Raposa II deveria passar por uma grande obra, que, naquele momento, já estava em fase de orçamentos.

"Estamos refazendo a área administrativa da Toca II. Temos uma obra que estamos orçando no vestiário, uma obra que ficou inacabada. Estamos orçando, vendo as licenças. Está todo mundo trabalhando", disse.

As Tocas I e II pertencem ao patrimônio da SAF. Elas foram transferidas pela associação após aprovação do Conselho Deliberativo, em 4 de abril. Em contrapartida, Ronaldo assumiu a dívida tributária da Raposa de cerca de R$ 180 milhões.

Plano de recuperação judicial


Um dos passos mais importantes que o Cruzeiro dará em 2023 é iniciar o pagamento dos credores do plano de recuperação judicial. A proposta de pagamento foi feita à Justiça, e o clube aguarda o agendamento da assembleia que definirá os acordos.

De acordo com o Artigo 11 da Lei 14.193, os administradores da SAF - no caso do Cruzeiro, o empresário Ronaldo - respondem pessoal e solidariamente pelas obrigações relativas aos repasses financeiros definidos às associações. Esses valores serão usados para o pagamento das dívidas.

O artigo 10 explica os repasses da SAF à associação: 
 
"O clube ou pessoa jurídica original é responsável pelo pagamento das obrigações anteriores à constituição da SAF, por meio de receitas próprias e das seguintes receitas que lhe serão transferidas pela Sociedade Anônima do Futebol, quando constituída exclusivamente:
 
I - por destinação de 20% (vinte por cento) das receitas correntes mensais auferidas pela Sociedade Anônima do Futebol, conforme plano aprovado pelos credores, nos termos do inciso I do caput do art. 13 desta Lei;
 
II - por destinação de 50% (cinquenta por cento) dos dividendos, dos juros sobre o capital próprio ou de outra remuneração recebida desta, na condição de acionista".
 
Nesse novo modelo, o Cruzeiro terá, ao todo, seis anos para pagar 60% das dívidas da associação. Se isso for concluído, será permitida a prorrogação do Regime Centralizado de Execuções por mais quatro anos.
 
Sendo assim, caberá à associação pagar ou renegociar as dívidas nos prazos estabelecidos em lei, sendo os gestores da SAF solidários nesse processo.

Compartilhe