2

Cruzeiro na Série A: 5 desafios de Ronaldo e da SAF em 2023

Pela primeira vez em sua história, clube celeste disputará a Primeira Divisão gerido por uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF)

23/09/2022 06:00 / atualizado em 22/09/2022 22:03
compartilhe
Paulo André, Gabriel Lima e Ronaldo: as cabeças do projeto do Cruzeiro SAF
foto: Marco Ferraz/Cruzeiro

Paulo André, Gabriel Lima e Ronaldo: as cabeças do projeto do Cruzeiro SAF

Garantido na próxima edição da Série A após golear o Vasco por 3 a 0 nessa quarta-feira (21), no Mineirão, o Cruzeiro terá uma série de desafios no retorno à elite do futebol brasileiro. O planejamento, inclusive, já começou.  

Apesar da campanha impecável na Série B, o time celeste enfrentou dificuldades quando precisou medir forças com clubes da Primeira Divisão. Em compromissos contra Atlético, América e Fluminense, por Campeonato Mineiro e Copa do Brasil, acabou derrotado. 

A remontagem de elenco, que sofrerá muitas mudanças, e a busca por um time competitivo  diante de adversários mais fortes são apenas alguns desses desafios. 

Também caberá ao grupo de gestores da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Cruzeiro, liderado por Ronaldo, aumentar o número de sócios, buscar novas formas de receita e melhorar a estrutura física das Tocas da Raposa I e II.

O Superesportes lista, nos tópicos abaixo, cinco grandes desafios do Cruzeiro em 2023:

1. Montar elenco competitivo


Esse, sem dúvida, é o principal objetivo do Cruzeiro para iniciar 2023 de forma mais segura. Como alcançou o acesso de forma bem antecipada, ainda em setembro, a direção celeste terá tempo para fazer um mercado criativo de olho na Série A.

Contudo, é preciso lembrar que o Cruzeiro ainda enfrenta situação financeira delicada, o que inviabiliza grandes investimentos. O clube espera para os próximos meses nova ordem de pagamento da Fifa, desta vez envolvendo a compra de Rodriguinho, em 2019. A Raposa deve ao Pyramids, do Egito, mais de R$ 30 milhões. 

Executivo de futebol do Cruzeiro, Pedro Martins terá muito trabalho na próxima janela de transferências
foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro

Executivo de futebol do Cruzeiro, Pedro Martins terá muito trabalho na próxima janela de transferências

'A grande dificuldade vai ser colocar na cabeça da torcida que o Cruzeiro não tem que contratar grandes nomes. A gente tem que trabalhar de forma equilibrada. Ir para o estádio, lotar como em 2022, e apoiar", avaliou Hugão, representante do Cruzeiro na bancada do Alterosa Esporte.

"Estamos em um processo de recuperação. Se tudo der certo e ano que vem a gente conquistar alguma coisa, beleza. Mas se não conquistar, é para pensar em 2024, almejar grandes coisas em 2025. Em 2023, a gente tem que ir para o estádio e apoiar o time com a montagem do elenco que for possível", completou.

2. Aumentar número de sócios


Em 2022, a torcida celeste voltou a prestigiar o programa de sócio. Ao abraçar o projeto de Ronaldo na Sociedade Anônima do Futebol (SAF), os cruzeirenses superaram a marca de 69 mil associados e foram um pilar importante na reestruturação financeira do clube.

Agora, com o acesso garantido à Série A e as dificuldades financeiras que vêm pela frente na formatação de um elenco mais robusto, o torcedor será ainda mais fundamental. O objetivo é ampliar ainda mais as adesões ao programa a partir de 2023.

"Não é mérito ou demérito para nenhum time do mundo. A realidade é que o desempenho do time nas competições reflete diretamente no número de sócios",  lembra Gustavo Nolasco, colunista do Superesportes e do Estado de Minas

Ranking de públicos do Cruzeiro em casa na Série B

"Não existe nenhum clube do mundo onde a relação entre 'desempenho esportivo x número de sócios' não se aplique. Sabemos o quanto os desafios do Cruzeiro para 2023 e 2024 serão muito maiores do que 2022", completa.

Com 70 mil associados, de acordo com Lênin Franco, diretor de negócios do Cruzeiro, a receita bruta anual será de cerca de R$ 30 milhões/ano. Além do desafio de alcançar esse número, o clube celeste precisará convencer velhos associados a permanecerem no programa.

"Acredito que dependerá muito da criatividade do marketing do clube construir uma mensagem que consiga transformar o torcedor em quase um jogador, ao ponto dele deixar de ser passional e ser mais racional, no sentido de que saiba que precisará se manter sócio mesmo se os desempenhos do passado não aconteçam", avaliou Nolasco.

3. Copa do Brasil e vaga em torneio sul-americano


Brigar para retornar aos campeonatos sul-americanos é um dos principais objetivos do Cruzeiro. Em março, quando apresentou o projeto da SAF para o Conselho Deliberativo, Gabriel Lima, hoje CEO, afirmou que a meta para 2023 era ficar entre os 12 melhores da Série A.

Se alcançar esse objetivo, o Cruzeiro garantirá vaga na Copa Sul-Americana de 2024. Contudo, o diretor de estratégias da SAF, Paulo André, destacou após o acesso, nessa quarta, que a Raposa precisará andar "muito chão" até atingir o objetivo.



"O primeiro passo foi dado. É só o primeiro passo. Ainda temos muito trabalho para conseguir colocar o Cruzeiro onde ele merece, brigando por títulos sul-americanos e brasileiros. Temos muito chão pela frente para alcançar isso", finalizou Paulo André.

Pensando em caixa, chegar mais longe na Copa do Brasil também é um objetivo do Cruzeiro. Em 2022, o clube foi eliminado nas oitavas de final para o Fluminense. Ainda assim, faturou R$ 7,67 milhões com a competição. O campeão, para se ter uma ideia, embolsará R$ 60 milhões.

Se confirmar o título da Série B, o Cruzeiro iniciará a Copa do Brasil de 2023 já na terceira fase. Vale lembrar que a Raposa é a maior campeã do torneio mata-mata: são seis títulos conquistados (1993, 1996, 2000, 2003, 2017 e 2018). 

4. Gerar novas receitas


Além de buscar o programa de sócio mais rentável do país, o Cruzeiro precisará encontrar novas formas de receitas a partir de 2023. E esse é, sem dúvidas, um dos maiores objetivos de Ronaldo com a SAF.

Desde que assumiu o comando do Cruzeiro, o Fenômeno já se encontrou com alguns investidores. Inicialmente, existiu uma conversa para venda de parte das ações da SAF. O ex-jogador adquiriu 90% delas em abril numa negociação que poderá alcançar R$ 400 milhões.

Em abril, Ronaldo se reuniu com Nicolau Esteves, fundador da Afya Educacional
foto: Arquivo pessoal

Em abril, Ronaldo se reuniu com Nicolau Esteves, fundador da Afya Educacional

Um dos encontros, ainda em abril, foi com Nicolau Esteves, médico e empresário, fundador da Afya Educacional. Cruzeirense, ele tem fortuna estimada em R$ 4,2 bilhões e estaria interessado em comprar ações da SAF cruzeirense. 

No mês passado, de acordo com o colunista Jorge Nicola, do Superesportes, um grupo de investidores também mostrou interesse nas ações. A pedida de Ronaldo teria sido de R$ 110 milhões por 10% das ações.

Novos patrocínios também estão no alvo da SAF. No momento em que chegou ao Cruzeiro, praticamente todas as propriedades do uniforme, por exemplo, já estavam vendidas. A tendência é que, com a imagem de Ronaldo, novas negociações sejam bem mais positivas para o clube.

5. Melhorar estrutura


Em grave crise financeira há muitos anos, o Cruzeiro investiu o dinheiro que não tinha para formar times vencedores e acabou esquecendo da infraestrutura das Tocas da Raposa I e II. 

Desde que assumiu a gestão do futebol, Ronaldo e sua equipe já realizaram pequenas obras nos dois centros de treinamentos. Contudo, ainda há necessidade de intervenções muito maiores.

Em junho, durante uma live transmitida por seu canal na Twitch, o Fenômeno apontou que a Toca da Raposa II deveria passar por uma grande obra, que, naquele momento, já estava em fase de orçamentos.

Toca da Raposa II passará por obras em breve, segundo Ronaldo
foto: Reprodução/Youtube/RBG Productions

Toca da Raposa II passará por obras em breve, segundo Ronaldo

"Estamos refazendo a área administrativa da Toca II. Temos uma obra que estamos orçando no vestiário, uma obra que ficou inacabada. Estamos orçando, vendo as licenças. Está todo mundo trabalhando", disse.

As Tocas I e II pertencem ao patrimônio da SAF. Elas foram transferidas pela associação após aprovação do Conselho Deliberativo, em 4 de abril. Em contrapartida, Ronaldo assumiu a dívida tributária da Raposa de cerca de R$ 180 milhões.

Vale lembrar que o Cruzeiro não pode mais usar sua Sede Administrativa, no Barro Preto. O prédio, localizado na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, foi alugado ao Supermercados BH por 10 anos pela gestão do presidente Sérgio Rodrigues. 

Entre o fim de 2020 e o início de 2022, o Cruzeiro utilizou a estrutura da WeWork, de escritórios compartilhados, no Shopping Boulevard, na Região Leste de Belo Horizonte. O acordo, contudo, foi rompido em fevereiro deste ano.

Desde então, os funcionários foram realocados nas Tocas I e II, e em espaços nos clubes sociais - Barro Preto e Campestre, na Pampulha.

Compartilhe