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Cruzeiro: entenda por que o Mineiro de 1984 serve de inspiração para final

Naquele Estadual, Raposa mostrou seu poderio em todo campeonato, mesmo em período histórico de hegemonia do Atlético

31/03/2022 05:00 / atualizado em 31/03/2022 16:30
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Cruzeiro venceu o Atlético na decisão do Estadual de 1984
foto: Reprodução

Cruzeiro venceu o Atlético na decisão do Estadual de 1984


Cruzeiro entra em campo neste sábado, às 16h30, no Mineirão, na final do Estadual, para quebrar uma hegemonia do Atlético, que conquistou os últimos dois Campeonatos Mineiros, bem como as taças do Brasileirão e da Copa do Brasil do ano passado. A Raposa pode buscar inspiração no passado para desbancar o arquirrival, grande favorito para o jogo decisivo do fim de semana.

Poucas vezes, o Galo se mostrou tão superior ao Cruzeiro como hoje. Com o auxílio de mecenas, o time alvinegro investiu forte nos últimos anos, contratando estrelas do futebol sul-americano, como Hulk, Eduardo Vargas e Nacho Fernández. A Raposa, por sua vez, vive a pior crise da história e disputará a Série B pela terceira vez seguida.

Em um passado distante, o equilíbrio das forças foi quase tão desproporcional quanto é hoje. De 1978 a 1983, o Galo conquistou seu único hexacampeonato na história do Campeonato Mineiro. O longo período de títulos alvinegros foi interrompido pelo Cruzeiro em 1984, que venceu turno e returno, com direito a goleada sobre o Atlético.

O ex-meio-campista Douglas relembrou aquele feito do Cruzeiro. "Foi maravilhoso para nós naquela época, ainda mais para mim, que participei de toda base no Cruzeiro, a gente viveu essa época de glória do Atlético. Mas, neste ano, o Cruzeiro fez um grande elenco. Acho, inclusive, que o nosso ataque era melhor do que o deles. A gente tinha Carlinhos, Carlos Alberto Seixas e Joãozinho, além do Tostão II, Palhinha", disse. 

A despeito do desequilíbrio de forças, Douglas vê o Cruzeiro em condições de superar o Atlético na final deste sábado. "Acho que o Cruzeiro tem chances, mas tem que ter confiança, tem que entrar concentrado e viver a rivalidade. Na minha época, não sei se os jogadores de hoje vivem isso, mas quando eu ia à padaria, o padeiro falava: 'não vai deixar o Atlético ser campeão de novo, hein'. Havia todo um clima na cidade voltado para o clássico, do porteiro do prédio até o açougueiro, todo mundo falava nisso". 

O ex-volante, que tem seis títulos com a camisa do Cruzeiro - quatro Campeonatos Mineiros (1984, 1987, 1992 e 1994), uma Copa do Brasil (1993) e uma Supercopa da Libertadores (1992) -, acredita que Vitor Roque será o nome do jogo. "Eu lembro quando o Ronaldinho começou, o Roque vai ter que fazer igual, vai ter que encarar essa zagueirada do Atlético. Ele já fez gol no Atlético, se fizer gol e for campeão, vai ganhar confiança e vai se consagrar, o clássico pode marcar a história de um jogador", destacou Douglas.

Visão do rival


No comando do Atlético naquele campeonato de 1984 estava o então treinador Procópio Cardoso. Ele disse que o Galo tinha um timaço, mas a fome de bola celeste falou mais alto naquele torneio. "Sobre Atlético e Cruzeiro, eu aprendi desde de menino, porque moro em Belo Horizonte desde os dez anos de idade. Joguei no Atlético e no Cruzeiro. E sempre foi um clássico importante para quem está em baixa, porque é um clássico que te reabilita, que a rivalidade fala mais alto", disse.

"Naquele jogo, o Atlético era um time superior, vinha bem, mas tomou de 4 a 0. Isso prova que nem sempre o favorito ganha, é uma oportunidade para quem está por baixo. Pode ser a grande oportunidade de um ressurgimento, de um marco para este novo Cruzeiro", acrescentou o ex-treinador.

Procópio acredita que o Atlético é o favorito para o jogo deste sábado. "Por vários motivos: tem um time melhor, é campeão brasileiro, tem um elenco formado, com reservas à altura, tem uma hegemonia no estado. E o Cruzeiro é o time de tradição, o Cruzeiro vem claudicando, alterna boas e más partidas nos últimos anos, troca de técnico sempre, mas pode ser a grande oportunidade que o Cruzeiro tem de um ressurgimento".

Mineiro de 1984



Naquela edição do Estadual, o regulamento previa dois turnos, com os quatro melhores avançando à semifinal.

No primeiro turno, uma surpresa: o Atlético ficou em sexto lugar e ficou de fora da fase final, que foi disputada por Cruzeiro, Guarani, Villa Nova e América. Na semifinal, a Raposa bateu o time de Divinópolis, enquanto o Coelho despachou o Villa. Na final, o time celeste venceu o América duas vezes por 2 a 1.

No segundo turno, o Atlético se recuperou e fez a melhor campanha, seguido de Cruzeiro, Democrata-GV e Valério. Na semifinal, a Raposa bateu o time de Itabira e o Galo superou o clube de Valadares. 

No primeiro jogo da final do returno entre Cruzeiro e Atlético, no dia 5 de dezembro de 1984, o time celeste não tomou conhecimento do então hexacampeão e fez 4 a 0, gols de Carlinhos (2), Tostão II e Carlos Alberto Seixas.

Na finalíssima do returno, o time alvinegro venceu por 1 a 0. Com a diferença de saldo, o Cruzeiro garantiu o título por ter vencido os dois turnos da competição, sagrando-se campeão mineiro de 1984.

O time que entrou em campo no último jogo contra o Atlético era formado por Ademir Maria, Carlos Alberto, Luís Cosme, Eugênio, Ademar; Douglas, Palhinha (Eduardo), Tostão II (Evaristo); Carlinhos, Carlos Alberto Seixas, Joãozinho. O técnico era João Francisco.   

O Atlético tinha um time formado por vários jogadores da Seleção Brasileira. O Galo entrou em campo com João Leite; Elzo, Fred, Luizinho, Jorge Valença; Vítor (Toninho), Heleno, Éverton; Sérgio Araújo (Tita), Reinaldo, Éder Aleixo. O técnico que comandava o time era Procópio Cardoso.

Tapetão


Jornal Estado de Minas do dia 11 de dezembro de 1984 mostrou a indefinição daquele Campeonato Estadual
foto: Arquivo / Estado de Minas

Jornal Estado de Minas do dia 11 de dezembro de 1984 mostrou a indefinição daquele Campeonato Estadual

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Depois de ganhar o segundo jogo, o Atlético levou o caso para o Tribunal de Justiça Desportiva (TJD-MG) alegando que com a vitória sobre o Cruzeiro havia somado mais pontos do que a Raposa no returno, sendo o campeão desta etapa e forçando outra finalíssima contra o arquirrival.

O jornal Estado de Minas do dia 11 de dezembro de 1984 mostrava a indefinição daquele Campeonato Estadual: "Não há decisão em campo. Só na Justiça".

"Reitero minha certeza na vitória nos tribunais, como eu tinha também na vitória do nosso time no domingo, daí ter feito aquele mandado de garantia. Agora, vamos aos tribunais para ganhar novamente", disse Flávio Dalva Simão, então vice-presidente do Atlético e chefe do departamento jurídico do clube.

O dirigente ainda exaltou a busca do título no "tapetão". "Uma das maiores conquistas da democracia é o poder judiciário, um poder equilibrado e moderador. Diferente daquele tempo em que a espada do mais forte resolvia tudo. Vamos ganhar na Justiça, se for o caso, o título do segundo turno, e devolver aqueles acidentais 4 a 0".

Depois, a Justiça reconheceu o título do Cruzeiro, que havia vencido os dois turnos do Campeonato Mineiro daquele ano.

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