O ex-jogador Ronaldo deseja que a associação repasse as Tocas da Raposa I e II para a SAF, que ficará sob seu comando, caso assine a proposta de compra de 90% das ações. Além dos centros de treinamentos, o Fenômeno colocou como condição para permanecer no clube a possibilidade de o Cruzeiro associação passar por uma recuperação judicial ou extrajudicial. Todas essas mudanças necessitam da aprovação do Conselho Deliberativo, em Reunião Extraordinária marcada para o dia 4 de abril (segunda-feira). Mas, afinal, quantos votos Ronaldo precisa?
Antes de responder a essa pergunta, é preciso entender a composição do Conselho Deliberativo. De acordo com o Estatuto do clube, participarão da reunião e terão direito a voto os conselheiros beneméritos, natos e efetivos - os suplentes não serão convocados nesse caso. Não há diferenciação no valor do voto entre os conselheiros.
O artigo 15 do Estatuto explica a quantidade de integrantes que compõe o quadro do Conselho Deliberativo do Cruzeiro. Ao todo, são 280 conselheiros membros (natos) e 220 associados (efetivos), além dos beneméritos.
"O Conselho Deliberativo é composto:
I - Pelos atuais e pelos ex-presidentes do Cruzeiro Esporte Clube e do Conselho Deliberativo, na condição de Conselheiros Beneméritos;
II - Por 280 (duzentos e oitenta) membros, na condição de Conselheiros Natos, eleitos entre os conselheiros;
III - Por 220 (duzentos e vinte) associados, eleitos pela Assembleia Geral, na condição de conselheiros, e 110 (cento e dez) na de suplentes.
IV - Os atletas indicarão representantes da categoria para participar nos colegiados de direção e na eleição para cargos da entidade.
§ 1.º Os suplentes de conselheiros não participam das deliberações do Conselho Deliberativo.
§ 2.º Nas deliberações do Conselho Deliberativo não será observada diferenciação de valor de voto entre membros Beneméritos, Natos e Conselheiros".
O artigo 20 do Estatuto diz que cabe ao Conselho Deliberativo decidir sobre a alienação de imóveis. Para o pedido de Ronaldo ser aprovado, é preciso consenso de modo a obter 90% da totalidade dos votos.
O item VI trata desse assunto: "Autorizar a alienação de bem imóvel do Cruzeiro Esporte Clube, excluídas as unidades que compõem o Parque Esportivo do Barro Preto, o Centro Administrativo, as Sedes Campestres, a Toca da Raposa I e a II, imóveis somente alienáveis em situação altamente vantajosa para o Cruzeiro Esporte Clube, mediante proposta aprovada por 9/10 (nove décimos) dos Conselheiros".
O item VI trata desse assunto: "Autorizar a alienação de bem imóvel do Cruzeiro Esporte Clube, excluídas as unidades que compõem o Parque Esportivo do Barro Preto, o Centro Administrativo, as Sedes Campestres, a Toca da Raposa I e a II, imóveis somente alienáveis em situação altamente vantajosa para o Cruzeiro Esporte Clube, mediante proposta aprovada por 9/10 (nove décimos) dos Conselheiros".
O ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares, em contato com o Superesportes, acredita que hoje há em torno de 420 conselheiros com direito a voto. "Quem vota são os conselheiros beneméritos, natos e efetivos. Considerando que alguns natos já faleceram, devemos ter em torno de 420 conselheiros em condições de votar", disse.
Se os números de Gilvan estiverem certos, Ronaldo precisará de 378 votos. Caso haja mais conselheiros aptos a participar da decisão, o Fenômeno terá que ter mais votos, sempre na proporção 9/10. A reportagem tentou contato com o presidente do Conselho, Nagib Simões. Ele não atendeu às ligações.
Outro ex-presidente, José Dalai Rocha explica que são 90% do total dos conselheiros, e não 90% dos conselheiros que comparecerem à votação. "Se fosse assim, o Estatuto esclareceria que seria 90% dos presentes, não 90% do total. Esse número tem que ser elevado para que somente uma quase unanimidade decida sobre a perda de patrimônio".
Sendo assim, além de muitos votos, Ronaldo precisa que quase todos os conselheiros participem da votação no dia 4. Caso haja muitas abstenções, mais difícil será para o ex-jogador ter os seus pedidos atendidos. Os votos serão secretos.
O Superesportes pediu uma posição do presidente Sérgio Santos Rodrigues ainda na semana passada, mas não houve resposta.
Negociação
Ao que tudo indica, as demandas de Ronaldo só serão aprovadas com uma nova negociação contratual.
A Mesa Diretora do Conselho já disse “que a negociação capitaneada pela XP (Investimentos) e com a anuência do presidente Sérgio Santos Rodrigues é, de um lado, extremamente lesiva e desproporcional ao Cruzeiro, e, de outro, excessivamente benéfica ao Ronaldo”.
“Com a concretização desta negociação, nos termos defendidos pela XP e pela presidência do Cruzeiro, corremos um risco real de, ao final, termos um Cruzeiro sem patrimônio e sem qualquer representatividade e força dentro da SAF, com possível diluição de sua participação acionária”, completou.
Nessa quarta-feira (23), o jornalista Rodrigo Capelo, do site ge, divulgou os termos do contrato da venda da SAF. De acordo com o documento, Ronaldo desembolsará R$ 50 milhões, mas está desobrigado de conseguir os R$ 350 milhões restantes, mesmo que as receitas do clube sejam baixas.
Ronaldo ainda pode obrigar a associação a comprar as ações da SAF, caso entenda que o clube não está reestruturando seu endividamento.
Além disso, há seis condições que protegem os interesses de Ronaldo, mas nenhuma que proteja a associação. Por fim, o clube não receberá royalties pela exploração econômica da marca do Cruzeiro.
Depois do vazamento, a XP veio a público dizer que o contrato definitivo ainda não foi elaborado. De acordo com a empresa que intermediou as tratativas, "cláusulas de proteção ao clube estarão inseridas antes da conclusão do negócio".