O presidente Sérgio Santos Rodrigues confia na concretização da venda da Sociedade Anônima do Futebol do Cruzeiro ao ex-jogador Ronaldo Fenômeno. Em entrevista à ESPN nesta quarta-feira, ele explicou os motivos que levaram o clube a adotar uma postura de “pressa” ao anunciar o investidor em 18 de dezembro, um dia após o Conselho Deliberativo aprovar a alienação de até 90% das ações do clube-empresa. Segundo o dirigente, havia urgência em solucionar dívidas de salários e do transfer ban na Fifa.
“Eu acredito que não (irá melar). É claro que juridicamente não está sacramentado ainda. O que precisa explicar, que é fundamental, é que foi divulgado, e quando a gente falava de confiabilidade do documento preliminar - e está escrito naquilo assinado em 18 de dezembro, que o documento é preliminar, é o início de entendimento. Então, quer dizer, a gente assinou aquilo”.
“E muitas vezes se fala ‘na correria, de forma muito rápida’, mas a gente teve que fazer desse jeito para uma segurança para ele (Ronaldo), pelos aportes urgentes que precisavam ser feitos pelo Cruzeiro, tanto para pagar transfer ban quanto para questão salarial. A partir daí, várias cláusulas seriam discutidas, e estão sendo. Então, por isso que houve aquela confidencialidade inicial, exatamente para evitar que fosse discutido, igual está sendo agora, levantando várias polêmicas em questões que podem não prevalecer. E, de fato, várias questões não vão prevalecer”.
A XP Investimentos, que à época emitiu nota sobre o acordo entre o Cruzeiro e a Tara Sports, empresa de Ronaldo, ressaltou o aporte de R$ 400 milhões no futebol nos próximos anos. Contudo, o Conselho Deliberativo do clube questionou a cláusula na qual citava uma aplicação inicial de R$ 50 milhões, com os R$ 350 milhões restantes gerados pela própria atividade esportiva - vendas de jogadores, direitos de TV, patrocinadores, etc.
O jornalista Rodrigo Capelo, do ge.globo, publicou nesta quarta-feira uma reportagem sobre os detalhes do contrato entre Cruzeiro e Ronaldo. Um dos pontos de destaque é a abertura para que o Fenômeno devolva parte das ações à associação civil, em vez de investir qualquer centavo a mais que os R$ 50 milhões. Ou seja, há brecha para que o ex-centroavante não aplique os R$ 350 milhões mencionados pela XP.
A respeito dessas condições, Sérgio Rodrigues garantiu que haverá revisão nos termos, uma vez que o documento preliminar é diferente do definitivo. Segundo o presidente, tudo será apresentado em reunião extraordinária do Conselho Deliberativo, no dia 4 de abril, às 18h30 (abertura dos portões às 17h30), no clube do Barro Preto, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte.
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“Hoje estamos discutindo várias cláusulas. Vamos apresentá-las, obviamente. Está marcado para o dia 4. Vai ser feito uma apresentação do que é o documento final, de como vai se dar a operação final. Todo mundo vai ter acesso a isso. Então, o que eu estou levando à torcida, ao conselho, vocês podem ter toda certeza: acho que qualquer reportagem que foi feita em torno de um documento preliminar, ela está equivocada, porque o preliminar não é o definitivo”.
Rodrigues também pontuou que grande parte da torcida é favorável à parceria entre o clube e o ex-camisa 9 da Seleção Brasileira. “A primeira coisa que a gente tem que levar é: o que os 9 milhões de torcedores do Cruzeiro querem ver? O Cruzeiro bem, competitivo. Quando muita gente achava que demoraria 10, 15 anos para o Cruzeiro estar bem. A gente tem que parar com essa ideia de Ronaldo lá… é todo mundo Cruzeiro”.
Em seus primeiros três meses no Cruzeiro, Ronaldo pagou R$ 23 milhões referentes ao transfer ban na Fifa e liberou o registro de jogadores pelo Cruzeiro. Também abriu mão de atletas com remunerações consideradas altas, como o goleiro Fábio, o zagueiro Maicon e o atacante Marcelo Moreno, e assumiu o compromisso de manter os salários em dia no clube. O Fenômeno ainda interage com os fãs em seu canal no Twitch nas segundas e sextas-feiras.
Um ponto que ameaça estremecer a parceria é a pedida de Ronaldo para que as Tocas I e II sejam transferidas à Sociedade Anônima do Futebol. Em troca, seu grupo assumiria o pagamento de R$ 180 milhões da dívida tributária, com parcelas mensais superiores a R$ 1 milhão até 2032. Alguns conselheiros se posicionaram de maneira favorável, ao passo que outros entendem que a associação civil correrá o risco de perder os patrimônios.
Em campo, o Cruzeiro vem enchendo a torcida de esperanças quanto à briga pelo acesso na Série B do Campeonato Brasileiro, na qual estreará diante do Bahia, possivelmente em 9 de abril, na Arena Fonte Nova, em Salvador. No Mineiro, o time ficou em terceiro em 11 rodadas, com 22 pontos, e ganhou do Athletic por 2 a 0 pela ida das semifinais. Na Copa do Brasil, alcançou a terceira fase com vitórias sobre Sergipe (5 a 0) e Tuntum (3 a 0).