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O que os conselheiros do Cruzeiro pensam sobre as demandas de Ronaldo?

Órgão se reunirá em 4 de abril para votar se Tocas devem ser transferidas para SAF e se associação poderá passar por recuperação judicial ou extrajudicial

Tiago Mattar
Conselho do Cruzeiro se reunirá em 4 de abril para votar demandas de Ronaldo - Foto: Igor Sales/Cruzeiro Desde o início da última semana, o Superesportes entrou em contato com diferentes membros do Conselho Deliberativo do Cruzeiro, de variadas vertentes políticas. Eles foram convidados a se manifestar sobre as demandas feitas por Ronaldo, que negocia a compra de 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).



Depois de assinar oferta vinculante em dezembro de 2021, o Fenômeno tem até meados de abril para confirmar a aquisição do percentual. Para isso, porém, deseja ajustes no contrato inicial. Ele quer que as Tocas da Raposa I e II sejam transferidas do patrimônio da associação para o da SAF. Além disso, espera que o Conselho Deliberativo aprove a possibilidade de uma recuperação judicial ou extrajudicial no clube.


Embora a reportagem tenha consultado quase 20 conselheiros, apenas sete aceitaram se manifestar publicamente sobre a pauta da reunião marcada para 4 de abril, quando serão votadas as demandas de Ronaldo. Alguns nem sequer responderam, outros afirmaram que não tornariam públicas suas teses. Internamente, há um receio muito grande, em praticamente todas as alas, de ameaças e pressões pela aprovação das alienações.

No último fim de semana, o empresário Pedro Lourenço, que sempre foi muito admirado pelo torcedor celeste, divulgou carta em que revelou ameaças. Dias antes, ele foi um dos signatários de uma carta que apontava a negociação com Ronaldo como 'lesiva' ao Cruzeiro. O dono do Supermercados BH optou por se afastar da política celeste após as pressões.

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Nos bastidores, o trabalho de convencimento dos que apoiam a transferência das Tocas para a SAF é feito, especialmente, por Lidson Potsch, atual vice-presidente do Cruzeiro e com penetração em diferentes setores do Conselho. Por outro lado, membros da Mesa Diretora, que são contrários ao acordo com Ronaldo, garantem não existir votos suficientes para aprovação neste momento. 



Veja abaixo a opinião dos conselheiros que aceitaram se manifestar:

Anísio Ciscotto, conselheiro nato e ex-integrante do Conselho Gestor, que administrou o Cruzeiro entre janeiro e maio de 2021

"Eu trabalho em banco e sei que as operações de crédito, de cobrança, esse tipo de coisa, exigem garantias. Eu acho que o Ronaldo não está errado em pedir as garantias. Mas tem que ver como esse acerto será feito. Se as Tocas passam para ele ou ficariam como uma garantia no caso de o Cruzeiro não pagar e ele precisar pagar (as dívidas tributárias de cerca de R$ 180 milhões com a Fazenda Nacional) Até porque o faturamento atual do Cruzeiro não dá para pagar a dívida renegociada. 

Anísio Ciscotto, conselheiro nato do Cruzeiro - Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro O grande problema do Cruzeiro, eu acho, é a falta de transparência. Em dezembro foi assinado o pré-contrato para o Ronaldo assumir o Cruzeiro, votamos favoravelmente aos 90%, e no dia seguinte ele já comprou. Ele está fazendo a investigação, mas em momento nenhum nós tivemos acesso. Não há transparência. Como é que fica esse contrato? Eu acho que ele está certo em reivindicar, eu acho que o conselheiro tem que pensar bastante, mas para pensar ele tem que saber o que está acontecendo. 

(...) Eu não acho estranho o Ronaldo pedir essa garantia. Eu acho que é um direito dele. Agora, o problema é que o conselho do Cruzeiro sempre vota de afogadilho. Tem que votar isso, se não acontecer isso vai acontecer aquilo. E a gente nem sempre tem as informações. É uma dificuldade que temos".



Ubirajara Pires Glória, conselheiro nato e ex-integrante do Conselho Fiscal, que renunciou ao mandato em maio de 2019, após a gestão Wagner Pires de Sá limitar o repasse de dados sensíveis ao órgão

"Desde 2018, internamente, eu vinha dizendo a situação que a gente chegaria. Em 2019, eu pedi demissão, assim como nossos colegas do Conselho Fiscal. Eu disse numa entrevista, na época, que o clube estava falido. Essa é a realidade. 

Temos, agora, que saber o seguinte: ou o Cruzeiro continua ou fecha as portas. Quem deve R$ 1,2 bilhão e não tem patrimônio, não tem renda, não sei como resolver. Todos esses que estão aí na Mesa Diretora (do Conselho Deliberativo) fizeram parte do grupo que bateram palma para o Wagner e para o Itair (Machado, ex-vice-presidente de futebol). Eu, desde janeiro de 2018, avisei que o clube acabaria com aqueles incompetentes.

Essa é a nossa situação. Agora, tem que resolver com calma. Pensar o que será feito. Avaliar as propostas. A situação é crítica, falência que nós estamos vivendo. Tem que ter uma equação, uma solução. Só assim, de pronta entrega, sem avaliar tudo de novo, como avaliamos em 2018 e 2019, não tem jeito de responder. Tem que passar números, dados... Sei que, hoje, o clube continua falido. Sem solução".



Luiz Carlos Rodrigues, conselheiro nato, ex-candidato ao cargo de presidente do Conselho Deliberativo

"A operação, como revelada, é extremamente lesiva e desproporcional. Os associados não admitirão maior pechincha. Embora a confidencialidade, Sérgio e o head da XP declararam publicamente que a operação seria de R$ 1,4 bilhão. Agora vêm com essa lorota que o investimento é de R$ 50 milhões e que os R$ 350 milhões restantes serão de receitas incrementais. 

Luiz Carlos Rodrigues, conselheiro nato do Cruzeiro - Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro O contrato precisa ser revisto. Esta é, sem dúvida, a maior crise institucional, agora promovida pelo Sérgio. A proposta trazida pela comissão da mesa, de ceder os CTs, mas vendendo apenas 51% da SAF ao Ronaldo vem de encontro ao que temos trazido para discussão. Desde que os outros 49% sejam vendidos à torcida, que daria proteção à marca. 

Também a sustentabilidade, exercida por 49 mil ações de sócios-torcedores, números coincidentes com a capacidade do Mineirão. Seria a cisão definitiva do clube social e o futebol. Todos ganhariam".



Saulo Fróes, conselheiro nato e ex-integrante do Conselho Gestor

"Na minha avaliação, o imbróglio que envolve o contrato da SAF com o Ronaldo existiu pela forma personalista do presidente (Sérgio Rodrigues), que não deu conhecimento à comissão constituída na época. Começou ali, na minha opinião, errado.

No entanto, é preciso bom senso agora, de ambas as partes, porque existe o interesse do Cruzeiro, que precisamos preservar, mas existe também os interesses do Ronaldo, temos que reconhecer. Mais do que nunca, é preciso de segurança jurídica ao Ronaldo, em parte ele está correto, temos risco de perder os imóveis se os pagamentos não forem realizados.

Acho que dá para chegar a um acordo que seria benéfico para ambas as partes. É uma questão de bom senso e sentar numa mesa, reunir o mais rápido possível e o Conselho aprovar. Sou favorável. Acho que o Ronaldo em parte tem razão, mas sempre citando o que acabei de mencionar".



Jarbas Matias dos Reis, conselheiro efetivo e ex-integrante do Conselho Gestor

"Meu voto será favorável. Entendo que nós temos que pensar no Cruzeiro grande. O Ronaldo está dando total apoio. Ele tem que ter a garantia. 

Essa questão dos nossos débitos com a Fazenda Nacional são enormes. Ele tem que ter garantia. Eu aprovo. Temos que pensar no Cruzeiro grande para voltar a ter os anos de glórias que sempre tivemos".

Paulo Sifuentes, ex-vice-presidente do Conselho Deliberativo e ex-candidato à presidência do Conselho Deliberativo

"Quanto às pautas que serão objeto de votação, reitero meu entendimento no sentido de que os temas devem ser debatidos previamente, para que os Conselheiros  votem com conhecimento de causa, e a par de todos os detalhes relativos a cada item destacado no edital. 



Considerando que o edital prevê a "informação, a todos os presentes, de todos os termos do investimento pretendido pela Tara Sports na SAF e das cláusulas dos contratos definitivos, com explanação dos detalhes pela XP Investimentos", a expectativa é de que tais elementos sejam suficientes para dirimir as eventuais dúvidas dos presentes, e aptos a subsidiar a votação da melhor maneira possível.

Paulo Sifuentes, conselheiro nato do Cruzeiro - Foto: Gustavo Aleixo/Cruzeiro A votação do dia 04/04, de importância sem precedentes em nossa história, é extremamente técnica e deve ser conduzida de modo a garantir a plena consecução de seus objetivos. 

Por fim, destaco que continuo a me posicionar favoravelmente a tudo que proteja os melhores interesses do Cruzeiro e entendo que o trabalho demonstrado pela equipe do Ronaldo é bastante satisfatório neste início. 



Que sejam feitos os necessários ajustes, para que nosso Cruzeiro retorne aos dias de glória o quanto antes. É isso que todos esperamos, e a nação azul merece!"

Allyson Caires, conselheiro efetivo e ex-candidato à cargo na Mesa Diretora do Conselho Deliberativo

"Dia 4 de abril meu voto será favorável às solicitações do estafe do Ronaldo. A transferência das Tocas para a SAF deve ser vista com naturalidade, uma vez que ambas são destinadas exclusivamente ao futebol.  Além disso, a garantia do pagamento da renegociação tributária preserva o patrimônio imobiliário dado em garantia à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional.

Nesta reunião, detalhes do contrato entre Cruzeiro e Ronaldo serão apresentados e com isso espero que todas as especulações sobre o assunto acabem e que finalmente a guerra política, de poder e de vaidade no Cruzeiro tenham um fim. Passou da hora do cruzeirense ter paz.

Desta reunião em diante nosso foco será  apenas a retomada do protagonismo no futebol brasileiro.  O Cruzeiro é um ótimo negócio para o Ronaldo, e o Ronaldo é um ótimo negócio para o Cruzeiro, afinal são dois gigantes juntos".


Infográfico mostra como era e como ficou a proposta de Ronaldo para se tornar investidor majoritário da SAF - Foto: Soraia Piva/Superesportes