2

Ex-presidentes do Cruzeiro cobram explicação sobre contrato com Ronaldo

José Dalai Rocha e Gilvan de Pinho Tavares querem que Sergio Santos Rodrigues esclareça a proposta da venda de 90% da SAF e possíveis mudanças no acordo

15/03/2022 13:30 / atualizado em 15/03/2022 16:10
compartilhe
José Dalai Rocha espera esclarecimento sobre possíveis mudanças no contrato
foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A PRESS

José Dalai Rocha espera esclarecimento sobre possíveis mudanças no contrato


Ex-presidentes do Cruzeiro, José Dalai Rocha e Gilvan de Pinho Tavares querem que o mandatário do clube, Sérgio Santos Rodrigues, esclareça a proposta de venda de 90% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) celeste para Ronaldo. Os ex-dirigentes estão surpresos com a informação divulgada pelo Superesportes de que o empresário quer alterações no contrato.

"Aquele açodamento da assinatura do contrato da venda da SAF do dia para a noite está cobrando o preço. O negócio foi fechado sem avisar ninguém, o presidente Sérgio Rodrigues abrindo champanhe e aparecendo na redes socais. Eu fiquei estupefato ao saber que o advogado que dava assessoria à comissão nomeada pelo Sérgio Rodrigues não sabia do teor do acordo. O Alvimar de Oliveira Costa e o Paulo Henrique Pentagna Guimarães, que faziam parte do Conselho de Administração da SAF, não sabiam o que tinha sido assinado pelo Sérgio. Esse açodamento, que surpreendeu demais, pode colocar em risco um patrimônio imemorial e histórico do Cruzeiro", disse Dalai, ao Superesportes.

Na nova proposta, Ronaldo assumiria as dívidas fiscais e tributárias do clube e, em contrapartida, as Tocas da Raposa I e II passariam a ser de propriedade da SAF. Para isso ocorrer, o Conselho Deliberativo deve ser convocado, com aprovação de 9/10 (nove décimos) dos conselheiros, de acordo com o artigo 20 do Estatuto do Cruzeiro. 

Dalai acredita que será difícil a possível alienação de imóveis do clube ser aprovada no Conselho. "Vejo uma reação muito grande dos conselheiros, porque são patrimônios históricos do clube. Espero que o presidente Sérgio venha a público esclarecer isso o mais rápido possível".

A reportagem ligou para o presidente Sérgio Santos Rodrigues nesta manhã de terça-feira (15), mas ele não atendeu ao telefone.

O ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares também entende que haverá reação negativa do Conselho. "Particularmente, sou contra a alienação de imóveis. Acho que o Ronaldo vai ser dono da marca do Cruzeiro, dono do futebol do Cruzeiro e tem as Tocas da Raposa I e II para usar. Ele assinou a compra das ações da SAF, não comprou nenhum patrimônio do Cruzeiro. Isso não foi aprovado pelo Conselho, e acho que não será. A gente viu que nenhum dos outros clubes comprometeu patrimônio na SAF", disse.

Além do Cruzeiro, o Botafogo vendeu as ações da sua SAF. As negociações dos dois clubes foram semelhantes: R$ 400 milhões por 90% das ações da SAF. 

Ademais, o Vasco assinou acordo para vender 70% das ações da SAF por R$ 700 milhões investidos pela 777 Partners ao longo dos próximos anos. A empresa se propõe a lidar com o pagamento integral das dívidas do clube (cerca de R$ 700 milhões) e há ainda a possibilidade de investir na reforma de São Januário, que será alugado para os novos gestores por 50 anos em valor a ser definido. O clube carioca ainda pretende comercializar parte das ações futuramente, ficando com no mínimo 10%.

Gilvan também lamenta a falta de transparência na venda das ações da SAF. "Infelizmente, o teor da negociação não foi divulgado nem para os conselheiros. Fizeram um negócio sem ninguém ter acesso às informações. Os conselheiros estavam muito interessados, tanto que toparam aprovar a venda de até 90% da SAF sem saber o valor nem para quem era, confiando no Sérgio Rodrigues. Agora, todo mundo foi pego de surpresa", destacou.

Cruzeiro estreia novo uniforme; veja fotos


Dívidas


De acordo com o Artigo 11 da Lei 14.193, os administradores da SAF respondem pessoal e solidariamente pelas obrigações relativas aos repasses financeiros definidos às associações.

O artigo 10 explica os valores que devem ser repassados da SAF à associação: 

"O clube ou pessoa jurídica original é responsável pelo pagamento das obrigações anteriores à constituição da SAF, por meio de receitas próprias e das seguintes receitas que lhe serão transferidas pela Sociedade Anônima do Futebol, quando constituída exclusivamente:

I - por destinação de 20% (vinte por cento) das receitas correntes mensais auferidas pela Sociedade Anônima do Futebol, conforme plano aprovado pelos credores, nos termos do inciso I do caput do art. 13 desta Lei;

II - por destinação de 50% (cinquenta por cento) dos dividendos, dos juros sobre o capital próprio ou de outra remuneração recebida desta, na condição de acionista".

Nesse novo modelo, o Cruzeiro terá seis anos para pagar 60% das dívidas da associação. Se isso for concluído, será permitida a prorrogação do Regime Centralizado de Execuções por mais quatro anos.

Sendo assim, caberá à associação pagar ou renegociar as dívidas nos prazos estabelecidos em lei, sendo os gestores da SAF solidários nesse processo. Hoje, a dívida do Cruzeiro chega a R$ 1 bilhão.

Compartilhe