Conselheiros e associados votarão, em pleito secreto, a possibilidade de alteração do Artigo 1º do Estatuto do Cruzeiro, que diz que "o clube será o acionista majoritário e o controlador obrigatoriamente e de modo permanente na sociedade empresária ou sua sucessora".
O Superesportes ouviu, ao longo da semana, dez conselheiros e/ou associados sobre os votos que serão depositados nas urnas na sexta-feira. Entre os entrevistados, há integrantes das principais alas políticas do Conselho Deliberativo.
Embora o voto secreto possa promover mudanças inesperadas, existe uma forte tendência de que a proposta de alteração do Estatuto seja aprovada com a maioria absoluta dos votos nesta sexta.
Vale lembrar que a Assembleia Geral tem diferenciação de peso dos votos entre Conselheiros Beneméritos (seis por um), Conselheiros Natos (cinco por um), Conselheiros Efetivos (quatro por um), Conselheiros Suplentes (dois por um) e Associados (um por um).
Veja abaixo votos e opiniões de 10 conselheiros de diferentes alas do Conselho:
Gustavo Gatti, conselheiro nato
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
Eu sou favorável aos 90%. Quanto maior o percentual, mais engajamento o cara vai ter com o investimento dele. Se for 50%, todo investimento que ele fizer será 50% para ele e 50% para o Cruzeiro. Então, é questão matemática. O Cruzeiro não tem outra saída, hoje, a não ser a venda.
E para que o cara realmente compre e faça o investimento que tem que ser feito, precisa ser desta forma. Aí cabe ao Cruzeiro, na negociação, fazer o comprador se comprometer com o investimento. Tendo 90% do retorno do investimento dele, ele estará muito mais alinhado do que se fosse 50% a 50% ou 51% a 49%.
Ubirajara Pires Glória, conselheiro nato
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
O Cruzeiro tem duas opções: ou nós votamos de forma favorável para salvar um clube falido ou então vamos continuar nas Séries B e C falidos. Nenhum investidor vai entrar em um negócio em que ele não tenha controle. Tem que ter controle. Para colocar dinheiro em uma empresa falida, você tem que dirigir a empresa.
O Cruzeiro tem seus 9 milhões de torcedores e dinheiro publicidade, que é grande. É que o clube está vendendo ao investidor. Mas sou totalmente favorável à venda. Conheço a situação financeira do clube desde 2017 até quando saí do Conselho Fiscal, mas conheço de hoje também. O clube não tem como se salvar se não tiver a SAF. É a única solução.
Rogério Serra Batista, conselheiro efetivo
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
Estou votando desta forma porque fui convencido pelo pessoal da XP Investimentos que não há venda nos moldes do atual Estatuto, apenas com 49%. Só conseguirá vender se mudar para até 90%. Então sou a favor. Se não vender, nós estamos ferrados. Não tem outro caminho.
Eu acho que é nossa última solução possível. Eu não sei se vale a pena, se não vale, como o dinheiro vai ser utilizado, mas eu sei que se não for feito nada, a gente fecha as portas. Não tem jeito. Não tem receita, não tem nada. E se eu fosse comprar, eu também não ia querer não ter o controle. Então é isso, tem que vender mais, já que precisamos deste dinheiro. Paciência. Não é o ideal, mas é a solução.
Paulo César Pedrosa, conselheiro benemérito
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
Sou 100% a favor da proposta. A situação do Cruzeiro, com dívida de R$ 1 bilhão, precisando pagar a Fifa para registrar jogadores, quem é que vai colocar dinheiro? Temos que aprovar essa alteração. Se eu sou investidor, sou um grande empresário, por exemplo, Localiza, Sada, MRV, como que vou ter o domínio se eu quero investir?
E é até 90%. Não quer dizer que será 90%. Não tem outra saída para o Cruzeiro. Na minha opinião, não tem outra saída. A torcida sabe disso, tenho certeza que a torcida quer isso também. Com dinheiro, com investimento, vamos trazer jogadores de ponta para sermos campeões da Série B. É o mínimo que esperamos ano que vem, mesmo com grandes equipes disputando a competição.
Luiz Carlos Rodrigues, conselheiro nato
Voto: contrário à venda de até 90% das ações da SAF
Sou pela independência do futebol. Voto para que o investidor tenha 100% da SAF, sem participação do Cruzeiro no futebol. E insisto que a melhor saída seja um comodato.
Nesta votação, não temos acesso ao Estatuto da SAF. Estamos votando em branco, dando plenos poderes ao Sérgio (Santos Rodrigues, presidente). Ninguém conhece o Estatuto, isso é inacreditável. No meu entendimento, deve ser 100% para a SAF. Em vez de vender o Cruzeiro, deveria ser um comodato de 30 anos, atribuindo 50% das ações ao torcedor, dando proteção à marca.
Paulo Sifuentes, conselheiro nato
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
Claro que a gente gostaria de votar dentro de uma situação que pudesse nos dar opção de poder partir para uma ideia ideal de 49% para o investidor e 51% para o Cruzeiro. Isso seria o ideal. Essa, sem dúvida, seria minha proposta. Agora, em face das circunstâncias, com o Cruzeiro em uma situação precária, a gente teme que se não partir para uma votação que atenda aos interesses da administração, a gente vai acabar inviabilizando a subsistência do Cruzeiro.
É a única chance. Temos várias agremiações no Brasil optando pela SAF. Situação de pandemia, um momento econômico muito crítico no país, é claro que vai dificultar os investimentos. Se a gente não optar por uma situação que possa estimular o investimento, muitas concorrências virão e correremos o risco de perder o investidor. Por esses motivos, optei por dar um crédito de confiança e aceitar o que está sendo proposto pela direção do Cruzeiro.
Maurício Silva, conselheiro nato
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
Meu voto - e imagino que da maioria - é sim. Veja bem, sou vice-presidente do Conselho Deliberativo. Há alguns meses estamos fazendo reuniões, convidando todos os conselheiros, a maioria foi, junto com o pessoal da XP Investimentos e de outras assessorias, para explicar tudo. Esclarecer todas as dúvidas possíveis.
É a melhor decisão para o Cruzeiro, não tenho dúvidas. O que vai mudar lá (no Estatuto) é só o percentual. E o problema não é o percentual. É quem serão os parceiros do Cruzeiro. Para escolher os parceiros e os investidores certos. É muito melhor você ter 30% e com melhores investidores, que entendem de futebol, do que pegar 60% de gestão péssima, que não entende de futebol e que irá trazer prejuízo ao Cruzeiro.
Jarbas dos Reis, conselheiro efetivo
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
Tenho certeza absoluta do meu voto por um motivo bem simples. Hoje, o Cruzeiro não tem condição financeira nenhuma de bancar o futebol profissional. Isso é público e notório. Nosso passivo é muito grande. E o investidor vai apostar suas fichas no local em que tem maior controle.
Não tem nenhum sentido um cara entrar com 49% das ações. Particularmente, se fosse 100% das ações para mim não teria problema nenhum. A gente tem que modernizar. Se você for ver na Inglaterra hoje, todos os clubes são de investidores. O que importa para a gente é preservar as cores e o nome para a gente torcer pelo nosso time.
Paulo Augusto da Cunha, conselheiro efetivo
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
O processo não foi da forma que eu gostaria. Eu acho que poderia ter tido mais transparência. Mas o Cruzeiro não tem saída. O Cruzeiro não tem para onde ir. Se nesses dois anos não apareceu nenhum empresário que colocou dinheiro, não vai aparecer agora. A gente torce, espera, que o investidor seja um parceiro do Cruzeiro. Não vejo luz no fim do túnel.
Sobre o processo, foram feitas muitas reuniões sobre a SAF, ficamos bem informados do que seria, mas a montagem a gente não sabe. Existem cláusulas de confidencialidade. É um risco que estão jogando para os conselheiros a responsabilidade. Depois, se der errado... Eu fico em uma situação ruim. Eu não votei nas pessoas que colocaram o Cruzeiro neste buraco. E estão jogando todo mundo no mesmo balaio. Na verdade, não é todo mundo.
Marco Soalheiro, associado
Voto: favorável à venda de até 90% das ações da SAF
Sou associado há cinco anos e meu sonho sempre foi a democratização efetiva da instituição, com direito de participação ativa de sócios torcedores fiéis nas decisões. Mas a mudança estatutária para que isso acontecesse é inviável diante da indisposição do sistema vigente de poder, que a meu ver é viciado e exaurido. Incapaz de punir quem lesou o clube.
Logo, a realidade se impõe à utopia. A SAF pode ser um caminho na atual conjuntura para que o Cruzeiro tenha uma gestão mais digna da paixão que desperta. A depender, claro, da forma como for conduzida. Ciente de que há riscos inerentes ao processo, votarei sim, a favor da alienação de até 90% das ações.