Os jogadores do
Cruzeiro
oficializaram a paralisação nos treinamentos em
protesto
contra os
salários atrasados
. Quase todos os integrantes do elenco se manifestaram pelas redes sociais, casos de Fábio, Henrique, Matheus Pereira, Bruno José, Giovanni, Ramon, Marcinho, Lucas Ventura, Ariel Cabral, Vitor Leque, Adriano, Rômulo, Léo Santos, Rafael Sobis, Wellington Nem e Eduardo Brock.
Na
carta
divulgada nesta quarta-feira - cuja íntegra pode ser lida no
fim do texto
-, os atletas consideraram “desgastante e angustiante” a sensação de levar o problema a público, porém ressaltaram a necessidade de se manifestar em razão das “insustentáveis condições” no clube. “Estamos aqui para dar voz principalmente aos funcionários que têm sofrido com a atual situação”.
Os jogadores alegam que o Cruzeiro chegou a dever seis meses de salários, a ponto de funcionários com remunerações mais baixas terem de contar com auxílio financeiro para manterem as “necessidades básicas de sobrevivência”. Eles também informaram que há pendências referentes ao ano de 2020.
De acordo com os atletas, o comunicado se fez necessário pela “absoluta ausência de uma efetiva resposta quanto ao pagamento dos salários atrasados”. Neste momento, o presidente do clube,
Sérgio Santos Rodrigues
, está em Lisboa, capital de Portugal, onde participa de um evento sobre gestão esportiva.
“Informamos à gestão do Cruzeiro Esporte Clube que estaremos aguardando o cumprimento das obrigações no prazo mais breve possível, sendo lamentável ver o sofrimento dos colaboradores que dedicam seus dias a manter essa centenária e vitoriosa instituição”.
Apesar da crise econômica e administrativa na Toca da Raposa, o grupo celeste garante que “não faltou e nem faltará empenho para o cumprimento dos contratos de trabalho por atletas profissionais e funcionários”.
Nessa terça-feira, o Cruzeiro empatou por 0 a 0 com o Botafogo, no Independência, pela 30ª rodada da Série B. O resultado fez o time chegar a 39 pontos, em 11º lugar, e com 0,15% de chance de acesso, segundo o
Departamento de Matemática da UFMG
. O Goiás, 4º colocado, soma 48 em 29 jogos.
A realidade de permanecer na segunda divisão em 2022 traz um cenário econômico bastante preocupante. Se o faturamento em 2021 for equiparado ao de 2020, o clube deve registrar receita líquida de aproximadamente R$120 milhões - 57% a menos que os R$280,8 milhões de 2019, época em que estava na Série A.
As principais perdas 2019 para 2020 foram com direitos de transmissão - R$102,5 milhões para R$40,3 milhões - e negociação de direitos econômicos de atletas - R$108,1 milhões para R$23,4 milhões
A gestão de Sérgio Rodrigues ainda lida com processos trabalhistas e cíveis, além de dívidas na Fifa herdadas das administrações de Gilvan de Pinho Tavares e Wagner Pires de Sá. O passivo da instituição mais que dobrou de 2017 a 2020: de cerca de R$400 milhões para quase R$900 milhões.
A esperança mais viável para a recuperação financeira da instituição é a transformação em Sociedade Anônima do Futebol (SAF) em 2022. Por esse objetivo, a direção fez uma parceria com a XP Investimentos, que será a responsável pela abertura de um fundo para captar investidores.
LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA
Carta à Nação Azul
Nós, ATLETAS PROFISSIONAIS DO CRUZEIRO ESPORTE CLUBE, viemos por meio desta carta publicamente informar e esclarecer a todos e principalmente à Nação Cruzeirense, o que abaixo segue:
Confessamos que é desgastante e angustiante escrever essa carta para alcançarmos direitos. Em razão das insustentáveis condições, não iremos nos calar. Por esse motivo, estamos aqui para dar voz principalmente aos funcionários que têm sofrido com a atual situação.
Informamos que, diante dos reiterados atrasos salariais neste ano de 2021, chegamos ao ponto insustentável de termos até 06 (seis) meses de atrasos, o que demonstra a precária situação financeira a que estão expostos todos funcionários, que atualmente estão sendo socorridos pelo auxílio/ajuda financeira dos atletas profissionais para manutenção das necessidades básicas de sobrevivência.
Salientamos que a delicada situação é praticamente impensável para um clube da grandeza e tradição do Cruzeiro Esporte Clube. Até o presente momento, atletas e funcionários do Cruzeiro Esporte Clube (Toca I e Toca II) estão com os salários atrasados.
Entre o elenco profissional e funcionários com contrato de trabalho vigente há também pendências financeiras referentes ao ano de 2020.
Informamos que a presente Carta se fez necessária pela absoluta ausência de uma efetiva resposta quanto ao pagamento dos salários atrasados.
Ressaltamos que, apesar de todas as dificuldades financeiras impostas pela delicada situação, não faltou e nem faltará empenho para o cumprimento dos contratos de trabalho por atletas profissionais e funcionários, que jamais deixaram e/ou deixarão de honrar a tradicional Camisa deste gigantesco clube.
Informamos à gestão do Cruzeiro Esporte Clube que estaremos aguardando o cumprimento das obrigações no prazo mais breve possível, sendo lamentável ver o sofrimento dos colaboradores que dedicam seus dias a manter essa centenária e vitoriosa instituição.
Faremos a paralisação dos treinamentos em voz a todos os colaboradores que amam o Clube e estão desamparados.
Infelizmente, ficou intolerável e injustificável a forma como atletas e funcionários estão sendo geridos.
Não aceitaremos essa negligência que tem afetado famílias que dedicam seu tempo, seu suor, seu esforço para cuidar, zelar, servir essa instituição tão amada Cruzeiro Esporte Clube.
Avante Cruzeiro, Você é Gigante.
Belo Horizonte, 13 de outubro de 2021