"Meu pai era gráfico e minha mãe, do lar. Meu pai era gráfico e foi foragido por causa da ditadura. Meu pai era gráfico e fazia gráficas que não eram legais, clandestinas. Então, trabalhava ali, trabalhava aqui, ele foi gráfico da Manchete durante muitos anos. Com a ditadura, ele largou e foi participar disso aí também (oposição). E vem aí a origem do nome da minha mãe. Manoel Correia da Silva e Guiomar Correia da Silva são os nomes dos meus avós. Nenhum tio meu, que eram 11, tinham Luxemburgo no nome, porque meus avós não tinham", disse.
"Meu avô era torneiro mecânico e foi foragido também. E foi morar em Tinguá-RJ. Ele era um cara muito inteligente e leu um livro da marxista Rosa Luxemburgo. Ele colocou o nome da minha mãe de Rosa Luxemburgo em homenagem à marxista Rosa Luxemburgo. E daí para a frente passou a ter o Luxemburgo e eu passei a carregar comigo, com minhas filhas, meus netos, todos carregam Luxemburgo porque eu acho que o meu avô foi muito feliz em homenagear uma marxista que foi uma mulher guerreira, que acrescentou muito ao mundo, não foi para o país dela, a Polônia, foi para o mundo. Ela foi muito importante porque ela brigou muito, guerreou muito, guerras duras, ela foi mulher guerreira mesmo, é reconhecida como uma das mulheres mais importantes do mundo", acrescentou o treinador.
Rosa Luxemburgo é descrita por acadêmicos pelo seu pacifismo, antimilitarismo, sua luta contra o revisionismo e a defesa da democracia no seio da revolução proletária. Foi assassinada em 1919, aos 47 anos, em Berlim, na Alemanha, onde se radicou.
Luxemburgo disse que no início não queria usar o sobrenome por causa de uma possível zoação dos torcedores, que acabou não pegando. "Quando comecei, eu não queria porque achava que trocar o G pelo R era muito fácil. Na minha cabeça, os caras tem a mania de chamar todo mundo de burro, acho que Luxemburgo para Luxemburro é só trocar o G pelo R. Não queria isso, não. Mas acabou pegando Luxemburgo, que é um nome muito forte. Foi bom o pessoal insistir em colocar que foi legal".
Infância difícil
Vanderlei Luxemburgo nasceu em 1952, em Nova Iguaçu, no Rio de Janeiro. Ele disse que morava em um local isolado e trabalhava fazendo melado e vendendo na feira. "Nasci na roça, em Tinguá-RJ. Com 12, 13 anos vim para a cidade grande morar em Turiaçu, mas eu comecei na roça mesmo, cortando cana, fazendo melado, fazendo feira", disse.
Luxemburgo chegou a ter um atrito com a mãe e saiu de casa aos 14 anos. "Eu fui muito pobre. Quando eu passei na escolinha do Botafogo, fui ganhar 50 cruzeiros. E tudo que a gente fazia na época era para ganhar dinheiro. Engraxava sapato, vendia sorvete, cortava cana, fazia melado, fazia de tudo. Quando eu cheguei em casa e falei que passei no teste do Botafogo e disse que ia ganhar 50 cruzeiros, minha mãe falou assim: 'Então você vai continuar ajudando a gente melhor ainda, porque você vai dar 50% para ajudar em casa'. Eu falei que não, porque era para eu jogar futebol, para eu poder pegar ônibus, pagar um lanche".
"Minha mãe falou que a gente era pobre e que quem tinha dinheiro tinha que ajudar em casa. Mas eu disse que se desse o dinheiro eu não ia chegar onde eu queria chegar. E isso aconteceu e minha mãe falou que a coisa estava errada. Eu disse que não tinha problema e fui morar embaixo da arquibancada do Botafogo e saí de casa aos 14 anos. Fui embora. Minha vida seguiu. Depois, a vida me proporcionou ajudar, construí a casa do meu avô, da minha mãe, dos meus irmãos, a gráfica do meu irmão. Naquela época, eu ia dividir miséria. Eu não ia chegar onde cheguei. Eu optei por ser um 'mau filho' antes para ser um bom filho depois", acrescentou Luxemburgo.