Os torcedores do
Cruzeiro
têm acompanhado um círculo vicioso na gestão do futebol desde o rebaixamento à Série B do Campeonato Brasileiro. Além das constantes trocas de técnicos a cada sequência de maus resultados, o clube convive com mudanças na diretoria executiva e caminha rumo ao sexto profissional no cargo em cerca de dois anos.
Em um primeiro momento, segundo Vanderlei Luxemburgo,
o clube apostará em solução caseira para substituir
Rodrigo Pastana
, demitido nessa segunda-feira (4/10) após ser
alvo de críticas de
Pedro Lourenço
, dono do Supermercados BH
. “Tem que mudar essa diretoria de futebol. Não entendem nada de futebol”, afirmou o patrocinador celeste em entrevista à
Rádio Itatiaia
no último sábado.
Pedrinho questionou “a falta de ouvidos” do presidente
Sérgio Santos Rodrigues
e frisou que Pastana “não deveria nem ter passado na porta da Toca da Raposa II”. No fim das contas, prevaleceu o posicionamento de quem injeta dinheiro no clube para o pagamento de salários de jogadores e funcionários, dívidas na Fifa e aquisição de jogadores.
A opinião de Lourenço diverge do que havia dito Rodrigues em participação na
Turma do Bate-Bola
, da
Itatiaia
, em 15 de junho de 2021. Na ocasião, o presidente garantiu que o empresário aprovou o nome de Pastana em razão do histórico de acessos para a Série A: Barueri (2008), Criciúma (2012), Figueirense (2013), Paraná (2017) e Coritiba (2019).
“(...) Em janeiro, quando eu trouxe o Mazzuco, o próprio Pedrinho brincou daquele jeito: 'ó, Serginho, se eu fosse você, trazia o Pestana (sic), que o Pestana tem muitos acessos. Não mexe com Mazzuco agora não, mexe com o Pestana que é melhor, porque ele tem muitos acessos'. Entendi que estava trazendo um diretor que ele gosta”.
A “Era Pastana” no Cruzeiro durou quatro meses. Sua principal aposta foi Mozart Santos, com quem trabalhou no Coritiba e no CSA. O técnico obteve 33,33% de aproveitamento (duas vitórias, sete empates e quatro derrotas) e pediu demissão depois de um 2 a 2 diante do Londrina, no Mineirão, pela 15ª rodada da Série B.
Rodrigo Pastana só foi contratado pelo Cruzeiro porque o diretor anterior, André Mazzuco, aceitou proposta do Santos no fim de maio. O desempenho dele chegou a ser bem avaliado pelos torcedores, especialmente quando o time demonstrou certa evolução no Mineiro com o técnico Felipe Conceição.
Antes de Mazzuco, que chegou à Toca em janeiro de 2021, o Cruzeiro teve Deivid e Ricardo Drubscky na condução do futebol. Enquanto o primeiro contava com o apoio de Sérgio Rodrigues - apesar da forte rejeição da torcida -, o segundo se sentiu desprestigiado e deixou o clube no início de outubro de 2020.
De todos os nomes, Deivid foi o mais longevo no clube. Embora não tenha tomado a frente do departamento de futebol por todo o tempo, o centroavante campeão da Tríplice Coroa de 2003 sempre participava de negociações com dirigentes de outros clubes e empresários. Tanto que o estopim para a sua saída, em junho, foi o vazamento de uma conversa com o agente André Cury, na qual pedia ajuda na contratação de jogadores.
“Me ajuda. Estou respirando por aparelhos, po**. O Sérgio faz coisas contigo e você está chateado comigo? Eu que estou tomando a culpa? Está foda. Tu me largou mesmo… Eu estou pior do que COVID, irmão. Respirando por aparelhos”, disse o ex-camisa 9, referindo-se às desavenças entre Cury e Santos Rodrigues.
Nesses dois anos, os cinco profissionais que estiveram à frente do departamento de futebol do Cruzeiro lidaram com uma crise financeira que impactou em vários meses de salários atrasados e gerou punições desportivas na Fifa, desde a perda de seis pontos na Série B de 2020 até a proibição de registro de jogadores (transfer ban) em 2020 e em 2021. Por sua vez, o clube jamais brigou pelo acesso à Série A, estando neste momento em 12º lugar, com 35 pontos - 13 a menos que o 4º colocado Goiás.
Para tentar sair do
loop
de fracassos na Série B, o Cruzeiro aposta na permanência de Luxemburgo em 2022 e também na contratação de um diretor de renome. O preferido do empresário Pedro Lourenço é Alexandre Mattos, sem clube desde janeiro, quando saiu do Atlético. Com dois títulos brasileiros pela Raposa, em 2013 e 2014, o executivo se encontra nos Estados Unidos, onde fará alguns cursos. A ideia do gestor é iniciar um projeto a partir de março.
Diretores de futebol do Cruzeiro desde 2020
- Ocimar Bolicenho - 6 de janeiro de 2020 a 15 de março de 2020
- Ricardo Drubscky - 17 de março de 2020 a 1º de outubro de 2020
- Deivid* - 1º de junho de 2020 a 15 de junho de 2021
- André Mazzuco - 5 de janeiro de 2021 a 28 de maio de 2021
- Rodrigo Pastana - 6 de junho de 2021 a 4 de outubro de 2021
* Deivid ficou responsável pela diretoria de futebol de agosto a dezembro de 2020