Torcida, futebol e festa. Essa combinação tão amada pelos brasileiros foi interrompida durante meses em nome da segurança e da saúde dos cidadãos de todo o país em virtude da triste expansão do coronavírus. Mas os torcedores do Cruzeiro ao menos tiveram um gostinho de voltar a sentir o calor de um estádio ao apoiar a equipe na difícil luta pelo acesso à Série A.
No lugar do Mineirão, a Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, voltou a ser a casa celeste na expectativa de dar a energia que o clube precisa em sua missão. Sob um calor de 34ºC, a animação tomou conta da torcida. No papel, tudo certo: protocolos rígidos, inúmeros funcionários com a missão de orientar o público, exigência de testagem e capacidade reduzida para 30%. Na prática, porém, o cumprimento das determinações se tornou uma dor de cabeça a mais para as autoridades.
Agentes da Guarda Municipal de Sete Lagoas e da Vigilância Sanitária, além de seguranças particulares contratados pelo Cruzeiro, atuaram para evitar que o público se aglomerasse na porta do estádio. Apesar disso, houve tumulto próximo às catracas, sobretudo no momento de revisão dos testes ou do cartão de vacina que comprovassem as duas doses recebidas - uma das exigências para a liberação do público.
Dentro do estádio, o panorama foi o mesmo. Para buscar a melhor visão do gramado, torcedores se aglomeraram nas cadeiras centrais, contrariando as orientações iniciais, também sem o uso de máscara.
Aniele Cristine Furtado, de 26 anos, procurou seguir as normas ao usar a proteção durante todo o tempo em que esteve na partida. Integrante da organizada Fanati-Cruz, que foi com 100 integrantes à Arena do Jacaré, ela lembra que a doença ainda assola a vida dos brasileiros.
"Acho extremamente necessária a volta da torcida pelo momento que o Cruzeiro vive. Com os números em baixa, é possível liberar a presença do público. Claro que temos de tomar muito cuidado, usar máscaras o tempo todo e não esquecer que estamos ainda dentro de uma pandemia".
A experiência de voltar a um jogo com torcida foi muito comemorada pelos cruzeirenses. Gilvan de Souza, de 49, se mostrou ansioso para voltar a um estádio depois de um ano e seis meses. Ao lado de quatro amigos, ele encarou 400 quilômetros de Montes Claros a Sete Lagoas para acompanhar a equipe. Do lado de fora da Arena do Jacaré, improvisou um churrasco enquanto esperava o começo do jogo. "Foram cinco horas e meia de viagem, mas valeu a pena. Temos sempre que tentar ajudar o Cruzeiro a sair desse difícil momento".
Líder da torcida Cachazeiros, de Sete Lagoas, Gustavo Henrique Guimarães, de 25, vibrou com a chance de ver o Cruzeiro em ação na cidade: "Estivemos aqui em todo jogo nos anos de 2010, 2011 e 2012, quando fazíamos muita festa. Estava com saudade de ver um jogo do meu time, mas a pandemia atrapalhou. Hoje é um dia muito especial".
Mais uma vez em Sete Lagoas
Pelo acordo com a diretoria do Democrata-SL, o Cruzeiro mandará o jogo contra o Operário-PR, quinta-feira (16/9), também na Arena do Jacaré. Com a liberação da volta do público em Belo Horizonte, a equipe pode voltar a atuar no Mineirão a partir do dia 26, diante do CSA.
Segundo a prefeitura de Sete Lagoas, a redução do efeito do coronavírus na cidade assegura a presença de 30% da torcida. Anteriormente, a Arena do Jacaré receberia até 3,9 mil torcedores, mas, com a liberação de um setor do estádio que estava interditado, a capacidade aumentou para mais de 5 mil.
Até o momento, o município teve 23.228 casos e 607 mortes pela doença. O sistema de saúde da cidade teve um respiro e conta com 15 internados, sendo nove na UTI e seis na enfermaria.