O Cruzeiro está impedido de registrar reforços pela Fifa por causa de uma dívida de R$7 milhões com o Defensor pela compra dos direitos econômicos de Arrascaeta. Um detalhe curioso envolvendo o jogador uruguaio foi revelado ao Superesportes pelo ex-gerente de futebol Valdir Barbosa, que conduziu a negociação em janeiro de 2015.
De acordo com Valdir, o montante da contratação do atacante Gonzalo Latorre ao Atenas-URU - US$3,4 milhões, cerca de R$10,5 milhões em junho de 2015 - seria, na verdade, repassado ao empresário Daniel Fonseca como parte dos salários de Arrascaeta.
“O salário do Arrascaeta com imposto por cinco anos seria de US$3,6 milhões. A outra parte do salário, de US$3,4 milhões, seria paga como se fosse a compra do Latorre. Então, se você somar tudo, são US$7 milhões”, disse.
“O Arrascaeta em cinco anos receberia 67 salários entre décimo terceiro, férias e o salário normal. Se dividir 7 milhões por 67, daria 104.400 dólares por mês, sendo que 52.200 dólares eram pagos na carteira e a outra parte como compra do Latorre”, complementou.
O ex-dirigente explicou que a operação tinha como objetivo reduzir os encargos tributários na remuneração do atleta. “O Gilvan (de Pinho Tavares, presidente da Raposa na época) optou por pagar 50% de salários e os outros 50% foi colocado como compra do Latorre para diminuir os impostos”.
O pagamento a Arrascaeta, portanto, era atualizado conforme a variação cambial. Em janeiro de 2015, o dólar estava cotado a R$2,70. Ou seja, o ex-camisa 10 teve direito a aproximadamente R$281 mil no primeiro mês na Toca.
O problema é que o Cruzeiro só quitou a aquisição de Latorre em maio de 2019, após a abertura de um processo na Fifa por parte do Atenas. A dívida corrigida girava em torno de R$18,5 milhões.
Assim, Arrascaeta teria recebido apenas os valores em carteira nos quatro anos a serviço do clube (2015 a 2018) e só embolsou o restante quando já defendia o Flamengo, que o contratou em janeiro de 2019.
Contrato do Cruzeiro com Arrascaeta:
Na carteira de trabalho - US$3,6 milhões
1º ano - US$600 mil (bônus de R$150 mil após 30 jogos)
2º ano - US$600 mil (bônus de R$150 mil após 30 jogos)
3º ano - US$600 mil (bônus de R$150 mil após 30 jogos)
4º ano - US$800 mil (bônus de R$220 mil após 30 jogos)
5º ano - US$1 milhão (bônus de R$270 mil após 30 jogos)
Na compra de Latorre - US$3,4 milhões
1º ano - US$600 mil
2º ano - US$700 mil
3º ano - US$700 mil
4º ano - US$700 mil
Segundo Valdir Barbosa, Daniel Fonseca pediu ao Cruzeiro um salário de US$7 mil para Latorre - cerca de R$21 mil em 2015. O centroavante jamais disputou uma partida pelo time principal. No Uruguai, atuou por Peñarol, Atenas, Progreso e Cerro Largo. Na Itália, jogou a terceira divisão em 2016/2017 pelo Sambenedettese.
Quanto ao pagamento ao Defensor, o Cruzeiro contou com o auxílio de Pedro Lourenço, dono do Supermercados BH, para arcar com 2 milhões de euros (R$6 milhões). O restante foi dividido em 29 parcelas de 70 mil euros, porém o clube só pagou 14. As 15 prestações pendentes resultaram no imbróglio na Fifa. Com multas e juros, o passivo já supera 1,18 milhão de euros.
Apesar das críticas por parte de torcedores, Barbosa não se arrepende dos moldes da transação. “Foi a maior negociação interna da história do futebol brasileiro com o Arrascaeta, fez o maior negócio da história do clube. O Cruzeiro nunca ganhou tanto dinheiro quanto com o Arrascaeta”.
O ex-gerente de futebol ressaltou que “houve irresponsabilidade de quem não pagou na hora certa”, inclusive no momento da transferência do camisa 10 para o Flamengo, em janeiro de 2019, na gestão do ex-presidente Wagner Pires de Sá e do ex-vice-presidente fe futebol Itair Machado. Somente pelos 50% que detinha em sociedade com o Supermercados BH, o Cruzeiro faturou 13 milhões de euros (R$55 milhões).
Valdir Barbosa destacou ainda que o Cruzeiro deveria discutir a dívida diretamente com o empresário de Arrascaeta, e não com a direção da agremiação uruguaia. “Eu falei com o Sérgio (Santos Rodrigues, presidente do clube) em junho do ano passado que a negociação não deveria ser feita com o Defensor, porque quem é o dono dos direitos é o Daniel Fonseca, ele é quem decidiria isso. O Defensor não manda em nada”.
Valdir Barbosa destacou ainda que o Cruzeiro deveria discutir a dívida diretamente com o empresário de Arrascaeta, e não com a direção da agremiação uruguaia. “Eu falei com o Sérgio (Santos Rodrigues, presidente do clube) em junho do ano passado que a negociação não deveria ser feita com o Defensor, porque quem é o dono dos direitos é o Daniel Fonseca, ele é quem decidiria isso. O Defensor não manda em nada”.
Arrascaeta se tornou o maior artilheiro estrangeiro da história do Cruzeiro, com 50 gols em 188 partidas, além de contribuir com 37 assistências. Em quatro anos, sagrou-se duas vezes campeão da Copa do Brasil, em 2017 e 2018, e duas do Campeonato Mineiro, em 2018 e 2019.
No Flamengo, o uruguaio deu sequência ao histórico de títulos: dois Brasileiros (2019 e 2020), uma Copa Libertadores (2019), uma Recopa Sul-Americana (2020) e duas Supercopas do Brasil (2020 e 2021). Com a camisa rubro-negra, Arrascaeta já balançou a rede 35 vezes em 116 jogos.