Ilton de Oliveira Chaves morreu nessa quinta-feira (27), no Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, aos 84 anos. Como poucos, viveu com intensidade a experiência de trabalhar nos três principais clubes de Minas Gerais. Apesar disso, sua história no Cruzeiro foi mais ampla do que em América e Atlético. No clube celeste, ele deixou legado de título e grandes histórias.
Ilton Chaves foi o treinador que mais vezes dirigiu o Cruzeiro. Ao todo, foram 389 partidas, com 213 vitórias, 89 empates e 87 derrotas. Ele comandou o time de forma consecutiva de 1972 a 1975. Também assumiu a equipe no fim dos anos 1970 e na década de 1980.
Antes de fazer história no banco, Ilton defendeu o Cruzeiro em campo. Ele participou do título do Campeonato Brasileiro de 1966, a antiga Taça Brasil. Também conquistou os estaduais de 1965, 1966, 1967 e 1968.
Procópio Cardoso atuou com Ilton na Seleção Mineira e na Seleção Brasileira. Juntos, eles conseguiram quebrar uma das maiores hegemonias do futebol nacional. O Campeonato Brasileirao de Seleções Profissionais, disputado entre os anos 1920 e 1960, era dominado por cariocas e paulistas. Os primeiros ganharam 15 troféus e os segundos, 12.
Em 1962, Minas Gerais conseguiu quebrar essa série, com um time que tinha Marcial; Massinha, William; Procópio, Ilton e Geraldino; Luis Carlos, Amauri, Marco Antonio, Rossi e Ari. O treinador era Celso Mourão. Na decisão, disputada em 63, os mineiros venceram os cariocas no Independência, por 1 a 0, e no Maracanã, por 2 a 1.
Fotos de Ilton Chaves, que morreu em BH aos 84 anos
Em 1966, o Cruzeiro chamou a atenção do Brasil por vencer, de forma avassaladora, o Santos na decisão da Taça Brasil. O time praiano exercia uma soberania nacional de cinco anos. Liderado por Pelé, conquistou os brasileiros de 1961, 1962, 1963, 1964 e 1965, além de ter ganhado o Mundial em 1962 e 1963. Toda a campanha passou pelo Gigante da Pampulha. Naquele campeonato, o Cruzeiro superou Americano, Grêmio e Fluminense, além do Santos. Na grande decisão, goleada por 6 a 2, no Mineirão, e outro triunfo em São Paulo, no Pacaembu (3 a 2). O futebol mineiro, pela primeira vez, mostrava sua força nacionalmente.
"Em 1966, ele era um reserva de luxo. Um jogador muito bom, voluntarioso, de raça, de vontade, queria ganhar, tinha uma técnica boa", disse Procópio, que lamentou a morte de Ilton. "Uma tristeza muito grande, minhas condolências à família".
Procópio ainda foi um dos responsáveis por levar Ilton ao Al-Rayyan, do Catar.
Dirceu Lopes
Ídolo do Cruzeiro, Dirceu Lopes disse que Ilton foi um grande amigo. "Ele era de uma época antes da minha. A gente jogou junto e depois ele foi meu treinador, foi meu amigo, pessoa correta, íntegra", disse.
"Quando cheguei ao Cruzeiro, ele era titular. O Piazza chegou a ser reserva dele. Era volante, muito íntegro dentro de campo, não lembro dele sendo expulso. Como ser humano, dispensa comentários, a recordação que tenho dele é a melhor possível. Ele não era treinador, era um amigo. Parou e virou treinador, tinha boa relação com todo mundo do grupo. A gente tinha maior respeito e carinho por ele", acrescentou.
Tostão
Maior artilheiro do Cruzeiro com 245 gols, Tostão recorda que Ilton chegou a ser treinador e jogador ao mesmo tempo. "Gostava muito dele, porque era um profissional excepcional, tive contato depois que parou de jogar. Lembrança maior que tenho é que ele era mais veterano, era mais velho do que eu, de uma geração anterior. Foi campeão brasileiro com a Seleção Mineira, então ele era o veterano do time. Depois, por um curto período, passou a ser técnico mesmo jogando".
Toninho Almeida
Treinadores que mais dirigiram o Cruzeiro
Jogador do Cruzeiro nos anos 1970, Toninho Almeida relembra os conselhos e o convite para almoçar com o ex-treinador. "O Ilton sempre foi coerente, sério, sempre me ajudou muito, ele morou em Teófilo Otoni, minha cidade natal, me orientou no juvenil, me deu muitas dicas, falou para comprar uma casa para minha mãe quando eu assinasse meu primeiro contrato. Um dia, quando era treinador, me chamou para almoçar na casa dele".
"Quando ganhei o Belfort Duarte [a CBF homenageava com uma medalha de prata o jogador de futebol profissional que passasse dez anos sem sofrer uma expulsão, com pelo menos 200 partidas nacionais ou internacionais], ele fez um texto muito bonito para mim, falou que não dividia a bola, eu antecipava", afirmou.
Toninho hoje tem um canal no Youtube, plataforma na qual usa para falar sobre futebol. Ele recorda de uma história curiosa com Ilton Chaves no Sport.
"Tem uma coisa interessante: o Cruzeiro não me vendia para o Atlético de jeito nenhum. O Atlético tentou me comprar três vezes. Então, o Cruzeiro me vendeu para o Vila Nova de Goiás. Na renovação do contrato, eu queria uma quantia maior, porque fomos campeões goianos. Neste momento, o Ilton me ligou e disse que estava indo para o Sport. E eu fui com ele. No jogo contra o Corinthians, na Ilha do Retiro, na escalação o Ilton me disse que eu não ia jogar com a cinco, mas com a sete. E que eu ia marcar o Palhinha sem a bola e com a bola eu fazia meu jogo. Quando cheguei ao campo, o Palhinha me disse que conversou com o presidente do Corinthians para ficar de olho no cinco do Sport. Eu ri e disse que hoje estava com a sete. O Biro-Biro estava com a cinco, jogou muito e foi contratado para o Corinthians".