O Cruzeiro informou nesta quarta-feira que a Moore Auditores e Consultores aprovou sem ressalvas o balanço financeiro do exercício de 2020. O clube registrou déficit acumulado de R$921 milhões e uma dívida de R$897 milhões. O demonstrativo contábil será apreciado nesta quinta-feira por integrantes do Conselho Deliberativo.
De acordo com a Moore, “as demonstrações financeiras apresentam adequadamente, em todos os aspectos relevantes, a posição patrimonial e financeira do Cruzeiro Esporte Clube em 31 de dezembro de 2020, o desempenho de suas operações e seus fluxos de caixa para o exercício findo nessa data, de acordo com as práticas contábeis adotadas no Brasil, aplicáveis às entidades sem finalidades de lucros (ITG 2002 (R1)) e às entidades desportivas (ITG 2003 (R1)), emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade”.
Em outro trecho do relatório, a empresa de auditoria chamou a atenção para a “incerteza significativa relacionada à continuidade operacional do clube” em razão dos “sucessivos déficits nos últimos exercícios”. O passivo a descoberto é de R$713,3 milhões - prejuízo acumulado de R$921,1 milhões, ante um patrimônio de R$207,8 milhões.
“Essa condição indica a existência da incerteza significativa que pode levantar dúvida quanto à capacidade de sucesso das ações e medidas que estão sendo tomadas pela administração. As demonstrações financeiras foram preparadas com base no pressuposto da continuidade de suas operações. Nossa opinião não contém ressalva em relação a este assunto”.
Na última sexta-feira (23), o Superesportes publicou alguns números das contas do Cruzeiro. A gestão do presidente Sérgio Santos Rodrigues conseguiu diminuir o déficit do exercício de R$259,2 milhões, em maio, para R$226,5 milhões. O clube considerou a movimentação como “superávit de R$33 milhões”.
Com relação às receitas, o Cruzeiro faturou R$118,8 milhões líquidos em 2020, 57,7% a menos que os R$280,8 milhões em 2019. A baixa expressiva se deve à queda à segunda divisão do Campeonato Brasileiro, que impactou drasticamente em cotas de televisão - de R$102,5 milhões para R$40,3 milhões - e vendas de direitos econômicos - de R$108 milhões para R$23,45 milhões.
Nas despesas, o custo com futebol caiu de R$438 milhões, em 2019, para R$250 milhões, em 2020 (43%) -, porém ficou acima de 2017, quando a Raposa se sagrou pentacampeã da Copa do Brasil - R$245 milhões. Chamou a atenção o aumento de R$36,4 milhões em "acordos e indenizações" (de R$16,8 milhões para R$53,2 milhões), em função da necessidade das rescisões de jogadores após o rebaixamento da equipe no fim de 2019.
No quesito dívida, o clube celeste salientou a redução das obrigações em curto prazo, caindo 77% do valor total, em 2019, para 36,5%, em 2020. Da pendência de R$897 milhões, R$312 milhões fazem parte do "passivo circulante", com até 12 meses para quitação, e R$585 milhões compõem o "passivo não circulante", com vencimento superior a um ano.
Um dos pontos relevantes para essa diminuição foi o acordo de parcelamento de tributos com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. A dívida ativa de R$334,1 milhões caiu para R$182,3 milhões - o que representa uma economia de quase R$152 milhões. Além disso, o pagamento será feito em 145 meses contados a partir de outubro de 2020.
O Cruzeiro ainda renegociou prazos de empréstimos bancários e ganhou fôlego para liquidá-los no curto prazo, despencando de R$65,6 milhões, em 2019, para R$14,4 milhões, em 2020. Por outro lado, a direção terá de administrar um crescimento em obrigações trabalhistas e sociais do passivo circulante - de R$81,7 milhões para R$90,8 milhões. O campo "contas a pagar" também apresenta cifras vultosas: R$136,3 milhões.