“Foi muito ruim, né cara? Em dois anos, eu fui de ídolo a mais odiado. Por tudo que fiz nas comemorações, nas zoações, passei a ser ídolo. Mas quando as coisas começaram a ficar ruins, fui o primeiro, o que mais tomou porrada e o mais criticado. Muita gente, quando fala do rebaixamento, o primeiro nome que vem é Thiago Neves. Isso para mim foi muito ruim, porque fiz muitas coisas boas pelo Cruzeiro. É injusto ficar lembrando só do momento negativo”, disse.
“É injusto jogar tudo na minha conta, porque não joguei sozinho. Quando o time perdeu, não perdi sozinho. Quando ganhou, também não ganhei sozinho. Se não tivesse alguém me dando assistência ou marcando, eu não teria feito os gols (...). Se for para me zoar com ‘Fala, Zezé’, cornetar me zoando, eu levo na esportiva, não tem problema algum. Mas agora jogar na minha conta tudo que aconteceu e tirar da conta de outros jogadores e diretores, acho muito injusto”, complementou.
Além das dificuldades no Cruzeiro, Thiago vivenciou uma crise no casamento com Marcella di Biase, a ponto de ficar longe dos filhos, Maria Carolina e Bernardo. Com o desempenho afetado em função do problema familiar, o armador cogitou encerrar a carreira ao término de 2019, porém mudou de ideia após se reconciliar com a mulher por intermédio de dois amigos.
“Quase fiquei (em depressão). A minha sorte é que fiz algumas amizades em BH que vou levar para a minha vida toda. O Fred e o Felipe são duas pessoas muito importantes. No momento em que fiquei sozinho, eles foram morar na minha casa, me ajudavam, me levavam ao treino. Foram meus anjos da guarda. Hoje procuro retribuir tudo isso. Eles me fizeram conversar novamente com minha esposa para nos acertarmos, hoje graças a Deus nos acertamos”.
Em três temporadas no Cruzeiro, Thiago Neves marcou 41 gols e deu 23 assistências em 153 jogos. Além das duas Copas do Brasil, sagrou-se campeão mineiro em 2018 e 2019. Em 2020, o armador teve passagem apagada pelo Grêmio, que rescindiu o contrato em setembro. Após uma negociação frustrada com o Atlético, sobretudo pela rejeição dos torcedores, o veterano de 36 anos se transferiu para o Sport, pelo qual balançou a rede sete vezes em 28 partidas.
"Fala, Zezé!"
A reta final da trajetória de Thiago Neves no Cruzeiro ficou marcada por um episódio envolvendo o ex-gestor de futebol Zezé Perrella. Um áudio do jogador cobrando salários atrasados ao dirigente vazou depois da derrota para o CSA por 1 a 0, em 28 de novembro, no Mineirão, pela 35ª rodada do Brasileirão. O meme "Fala, Zezé! Bom dia, cara!" até hoje é bastante difundido entre torcedores de outros clubes.
“Isso era desde quando o Itair (Machado, ex-vice-presidente de futebol) estava. Sempre nos falávamos pelo WhatsApp, conversávamos. Quando começou a atrasar o salário, o Itair ainda estava. Foi a mesma coisa, uma conversa entre o jogador e o diretor. ‘E aí, presidente, você prometeu, até agora nada’. Normal. E com o Zezé não foi o primeiro áudio nem o segundo. Já havia tido áudios sobre várias coisas”.
Na mensagem gravada antes da partida, Thiago assegurava que o resultado positivo viria diante de um adversário praticamente rebaixado à Segundona. Dentro de campo, o CSA surpreendeu ao fazer 1 a 0 com Alan Costa, aos 42 minutos do primeiro tempo. Na etapa final, o camisa 10 do Cruzeiro bateu um pênalti para fora, aos 19 minutos.
Por todo o contexto envolvido, Thiago Neves acredita que a divulgação do áudio foi proposital. Apesar de não ter feito nenhuma acusação a Perrella, o jogador garante que não compartilhou o arquivo nem mesmo com a esposa.
“Aquele áudio, logo depois que eu perdi o pênalti, e eu falando do CSA no áudio… quiseram soltar o áudio na imprensa. Foi uma coisa de maldade. Não tem explicação. Não vou saber te responder quem vazou o áudio. Eu não fui”.
Thiago ainda lamentou que existam comentários de que ele teria desperdiçado a penalidade por vontade própria. Segundo ele, um jogador que era batedor oficial naquele momento estava em campo, mas se recusou a assumir a responsabilidade.
“Acho muita maldade pensar isso que eu bati o pênalti para fora (de propósito). Até porque dentro de campo tinha batedor, que na hora não quis bater. Eu não era bater, só batia em disputa por pênaltis, todo mundo sabia disso. Não gosto de bater pênaltis. Mas chegou a hora, deixa a bomba, né?! Já vai estourar em cima dele”.
O Cruzeiro caiu para a segunda divisão ao terminar o Brasileiro de 2019 em 17º lugar, com 36 pontos. Foram sete vitórias, 15 empates e 14 derrotas em 38 jogos. Na Série B de 2020, o time esteve longe de brigar pelo acesso, pois iniciou a disputa com seis pontos negativos devido a uma punição na Fifa e encerrou em 11º, com 49.